segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

EXTINÇÃO DE SECRETARIAS

Alessandra Bastos

O novo governador do Acre, Binho Marques (PT), estuda a possibilidade de extinguir secretarias estaduais. “Não sei quais secretarias vão permanecer, ou quais serão extintas. Não posso assegurar que nós vamos manter a Secretaria dos Povos Indígenas, por exemplo”, disse Marques, que tomou posse hoje.

“Vamos ter muitas mudanças, é preciso diminuir o tamanho do governo”, afirmou o novo governador, argumentando que algumas secretarias podem “não funcionar bem como secretarias, em função da sua transversalidade. Talvez, dentro do gabinete do governador, ela tenha mais poder, atuando com todas as demais secretarias em uma ação coordenada”, ressaltou Marques, em entrevista à Rádio Nacional.

Para ele, é preciso mudar a máquina pública. “É impossível passar de um governo para outro sem fazer grandes alterações. Não que uma secretaria não tenha funcionado, nos quatro anos anteriores, mas é que cada momento tem uma nova dificuldade e um novo desafio”, explicou.

De acordo com o governador, é necessário preparar-se para os próximos quatro anos. “Aquela velha história de que, em time que se está ganhando, não se mexe não funciona para gestão pública. Para continuar ganhando, tem que mexer sempre. O próprio Chico Mendes, no Conselho Nacional de Seringueiros, sempre mudou tudo constantemente”.

Binho Marques disse também que pretende diminuir o número de projetos para aumentar o número de pessoas beneficiadas. “Fazer todos os projetos que tiveram sucesso virarem universais. Temos muitos programas de sucesso, mas não significa que todos cheguem a todas as pessoas. Então, precisamos ter um número menor de programas que atendam a todas as pessoas”, afirmou.


Florestania e
inclusão social

Binho aponta como maior desafio de seu governo a transformação da riqueza da floresta amazônica em "possibilidade de inclusão social”. Para isso, é preciso um projeto socioambiental que faça da floresta um meio de desenvolvimento econômico com inclusão social, disse Marques. Ele explicou que é preciso “transformar as florestas públicas em um grande negócio, que possa significar também uma distribuição de riqueza para todo o povo do Acre, especialmente índios e seringueiros”.

No último ano, o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) captou imagens aéreas do Acre com informações sobre cobertura vegetal, estradas, localização de povoados, traçado de rios e indicadores de relevo. As imagens também trazem a identificação de atividades ilícitas que estejam ocorrendo, como o desflorestamento e a extração mineral irregular. O objetivo é ajudar o estado nas ações de combate ao desmatamento, no planejamento de projetos ambientais, territoriais e sociais e na identificação de terras indígenas e locais próprios para assentamentos.

Marques ressaltou que, até bem pouco tempo, o desafio era a conscientização de que a floresta “tinha que permanecer em pé" e de que é possível ter desenvolvimento econômico sem destruir a natureza. Segundo ele, o primeiro passo já foi dado, e hoje “existe um consenso muito maior”. O avanço se deu com a criação do conceito “florestania”, um projeto de conscientização de todo o povo da Amazônia sobre o valor da floresta, cuidado permanente com a preservação do meio ambiente e das populações tradicionais e seus modos de vida.

"Esse termo [florestania] foi criado nos anos setenta, na luta dos seringueiros e dos índios, para que pudéssemos ter na Amazônia um projeto de desenvolvimento adequado a sua cultura a seu ambiente, mas só começou a ser colocado em prática no inicio de 1999”, lembrou o governador. “Antes era um grupo pequeno de pessoas que lutavam por essa idéia, hoje, os empresários do mundo inteiro sabem o valor da floresta”, ressaltou.

O termo florestania, disse Binho Marques, “é um grande achado porque tínhamos vários programas e projetos, e essa pequena palavra consegue reunir tudo isso em um mesmo objetivo, que mobiliza o Estado, o povo e a sociedade”. E, para ele, o resultado já pode ser visto: “Pode-se perceber o povo vivendo com a auto-estima mais elevada e o início de uma indústria baseada em produtos da floresta, certificados e valorização dos índios e seringueiros”.

Alessandra Bastos é repórter da Agência Brasil. Binho Marques quer cooperação com Bolívia e Peru na área ambiental. Leia mais.

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