domingo, 31 de dezembro de 2006

BINHO MARQUES



Colaboração do cartunista acreano Gean Cabral. Clique sobre a imagem.

Discurso de Posse do Governador Binho Marques

(Nominata)

Com a compreensão de todos, quero começar agradecendo a Simony, minha mulher, companheira de todas as horas, que além do amor e da segurança que me dá, ainda compensa as inevitáveis faltas que tenho tido com os nossos filhos, Maria Clara e Gabriel.

Mas também devo agradecer a Simony pela sua contribuição pessoal à Frente Popular e ao Governo da Floresta, ela que tanto fez pelo nosso projeto, ao lado de nossos companheiros e amigos Toinho Alves e Aníbal Diniz, como jornalista e como militante de primeira hora.

Quero agradecer a minha família, às minhas irmãs Martha, Mirtes e Márcia, ao meu irmão Tony e aos meus pais, Clélia Fecury e Arnóbio Marques, que deram asas aos meus sonhos na infância e na adolescência.

Quero citar o companheiro Siba Machado e a companheira Júlia Feitosa, como forma de agradecer a todos os companheiros e companheiras da Frente Popular.

Agradeço a todos os nossos parlamentares, homenageando a este amigo e companheiro que tanto tem feito pelo nosso Acre e pela nossa causa, o senador Tião Viana.

Obrigado ao governador Jorge Viana, amigo leal, companheiro determinado, exemplo de amor e dedicação ao Acre que deve ser seguido por todos nós.

Obrigado ao povo acreano.

Senhor presidente, senhoras e senhores,

É com muita honra que eu e o vice-governador César Messias estamos aqui, de acordo com a Constituição do Estado e pela vontade da maioria do nosso povo, para assumir o Governo do Acre e governar com todos os acreanos.

A sociedade acreana nos confiou este mandato em função de uma proposta apresentada de maneira muito clara na campanha eleitoral: renovar a aliança da sociedade com o projeto da Frente Popular, representado pelo Governo da Floresta.

Todos nós reconhecemos a magnitude das mudanças, das realizações e das conquistas que se deram nestes oito anos de liderança do governador Jorge Viana.

Portanto, o meu mandato tem o desafio de renovar o que de melhor já se deu no Governo do Acre. E esta não é uma tarefa para ser cumprida por um só cidadão, ainda que investido na condição de governador. Trata-se de uma evolução a ser alcançada pelo conjunto da sociedade.

Renovar, neste caso, melhor se traduz como continuar inovando. Mudar constantemente para manter a coerência, encontrar novas formas de afirmar o mesmo conteúdo. E o conteúdo, a essência do nosso projeto, é a defesa incansável da vida.

A vida como nós aprendemos a viver com nossos antepassados: com liberdade, alegria, trabalho, o pão abençoado por Deus e o sentimento de fraternidade unindo a todos como uma só família. Uma vida amazônica.

Esta vida, conquistada com o sacrifício de tantos heróis – alguns conhecidos, muitos anônimos – esteve ameaçada num passado não muito distante.

Já vivemos tempos difíceis, em que o poder não emanava do povo e se exercia contra ele. Tempos de violência, em que as leis da democracia eram trocadas pela lei do mais forte. Tempos de corrupção e de impunidade. Tempos de tristeza, em que a cultura e a história de nosso povo eram desprezadas e esquecidas.

O Governo da Floresta marca uma fase de Renascimento. Durante oito anos, liderados pelo governador Jorge Viana, trabalhamos intensamente para recuperar o Estado, a economia, os direitos sociais e a dignidade da vida. Hoje, os resultados são visíveis.

Nossas instituições ganharam força e os Poderes do Estado obtiveram avanços não apenas na melhoria dos serviços que prestam à população, mas, sobretudo, no fortalecimento de estruturas perenes para seu trabalho. Agora, todos dispõem das condições básicas para o exercício de suas funções. É hora, portanto, de fortalecer parcerias por melhores serviços e pela promoção da cidadania.

Nossa sociedade, superando a intolerância que predominava no tempo dos conflitos, abriu espaço para o diálogo, aprendeu a superar preconceitos e a valorizar uma diversidade cultural que vai sendo reconhecida como um patrimônio do nosso povo – ou dos nossos povos. O movimento social tem sua legitimidade reconhecida e respeitada. Sindicatos, associações, igrejas, organizações não governamentais, comunidades e todas as formas organizadas para expressão da sociedade civil têm a garantia de encaminhamento das suas demandas. E isto já nos aconselha a refletir sobre o papel cada vez mais importante que elas podem e devem desempenhar.

Indicadores sociais e econômicos atestam que o Acre encontrou o caminho do Desenvolvimento Sustentável, com o respeito ao Meio Ambiente e a valorização da sua diversidade produtiva e de sua vocação florestal. Para seguir em frente, é fundamental consolidar a mudança de paradigma de governo no nosso Estado, que deixa de ser provedor para articulador das atividades sociais, econômicas e políticas.

Nossa economia só será forte com a independência dos setores produtivos. Ao Estado compete planejar bem, remover entraves burocráticos e criar a ambiência favorável; valorizar vocações econômicas, zelar pela sustentabilidade e apoiar a produção; reconhecer o lucro honesto, defender o salário justo e fomentar a distribuição de riquezas.

O Acre, hoje, oferece à iniciativa privada o estímulo de uma boa infra-estrutura e um horizonte de possibilidades que, além das nossas fronteiras, se estende para o mundo.

Todos, portanto, temos condições de cumprir um papel para fazer o Acre avançar. E por isso digo que renovar o projeto desenvolvido pelo Governo da Floresta é uma tarefa de todos.

Reafirmo que o Poder Executivo não fugirá aos seus deveres, e estes começam pela democratização dos espaços de ação na vida social, institucional e econômica do Estado. Mas também reitero o chamamento aos Poderes, às instituições e à sociedade para renovarmos o esforço coletivo pelo desenvolvimento sustentável do Acre com uma efetiva comunhão de responsabilidades.

É também meu dever alertar para as dificuldades, que ainda são muitas. Alguns setores da vida social e da economia avançaram mais, outros menos, e ainda há muita desigualdade. Ainda há fome, violência, doenças e analfabetismo. Enquanto uma só família acreana padecer desses males, não podemos descansar nem dar o trabalho por terminado.

Existem dificuldades externas, que não podemos esquecer, pois condicionam as nossas alternativas e nos obrigam também a rever nossas escolhas.

Somos gratos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, este grande amigo do Acre. Sabemos quanto o Brasil melhorou no seu governo, com uma economia estável e, principalmente, com a melhoria das condições sociais, das quais as regiões Norte e Nordeste, antes esquecidas, são as mais beneficiadas.

Entretanto, o mundo se debate em guerras, conflitos antigos e recentes, e os avanços tecnológicos ao mesmo tempo em que resolvem alguns problemas criam vários outros.

Um dos maiores desafios da humanidade, hoje, é a mudança climática provocada pelo aquecimento do planeta e o esgotamento dos recursos naturais acelerado pelo padrão de consumo dos países mais ricos.

Todos sofremos os efeitos dessas grandes transformações que chegam a lançar dúvidas sobre o futuro da humanidade. Nossa região é especialmente considerada pela sua importância no equilíbrio global e pelas riquezas que ainda guarda.

Precisamos cuidar melhor dessas riquezas, conservar a floresta e compreender a oportunidade que temos de mostrar ao mundo como se pode satisfazer as necessidades da atual geração sem destruir as chances das gerações futuras. Esta é a lei básica da sustentabilidade.

Temos ainda um conflito social de proporções idênticas às catástrofes ambientais que sacodem o mundo. Quem se mantém informado sobre o que acontece nas grandes cidades, onde a violência faz diariamente um número assustador de vítimas, sabe o quanto o Estado brasileiro tem dificuldades para enfrentar o crime, organizado ou não.

Nós, que vivemos numa região movimentada de fronteira, temos que nos antecipar aos problemas, antes que se tornem incontroláveis. Para isto, é necessário rever nosso modelo de crescimento urbano, nosso padrão de consumo, nossas noções de segurança e de cidadania, para reconquistar e manter a noção de comunidade, para reforçar as linhas de solidariedade no tecido social, para construir uma cultura de esperança e paz.

É em meio a esses grandes desafios, mas animados pelos avanços obtidos nos últimos anos, que vamos dar mais alguns passos em busca do nosso destino.

Temos um plano para essa nova etapa, um Programa de Governo que foi construído com a participação direta de mais de quatro mil homens e mulheres, em plenárias e reuniões de trabalho realizadas em todos os municípios do Estado.

A este plano demos o nome de “Desenvolvimento com Oportunidade para Todos”. Sobre ele, a Frente Popular e a equipe de transição se debruçaram, visando cumprir nossos compromissos de campanha com eficiência e representatividade.

A Frente Popular é uma conquista política do povo acreano viabilizada pela maturidade de seus líderes. Ela expressa a essência democrática das coligações como nenhuma outra neste país, porque não é um arranjo partidário feito para ganhar eleições, mas um compromisso plural assumido para governar com união e para zelar pela governabilidade do nosso Estado.

E aqui se faz oportuno citar a destacada contribuição do deputado Edvaldo Magalhães, articulador da base de apoio ao Governo, homem de palavra, companheiro de uma lealdade sem limites, a quem não apenas a Frente Popular, mas o próprio Acre já deve uma extraordinária folha de serviços prestados.

O meu partido, o Partido dos Trabalhadores, pela representatividade de suas lideranças, a competência de seus quadros e a força da sua militância, tem uma contribuição qualitativa indispensável ao Governo; e saberá fazê-la em consonância com os bravos companheiros do PC do B, do PSB, do PP, do PMN, do PL, PV, PRTB, PT do B, PTN, PRP.

Creio que estamos todos de acordo quanto a um princípio básico: o desafio de renovar nossa boa governança começa pela adequação do nosso modelo de gestão, para ajustá-lo aos novos desafios indicados pelo Plano de Governo aprovado nas urnas.


É da Frente Popular o encargo de conduzir o Governo comigo e com o vice-governador César Messias, mas o exercício do Governo deve ser compartilhado com a sociedade, porque só governa para todos quem governa com todos.

Reconheço o papel que compete à oposição, permanecendo disposto a conversar e a buscar o entendimento em função dos interesses da população e do nosso Acre.

Perante todos reafirmo os compromissos expressos em nosso Plano de Governo. E destaco mais estes: zelar pela honestidade, valorizar a competência e subordinar o poder ao interesse público.

Não posso esquecer, senhor presidente, senhoras deputadas e senhores deputados, que a trajetória que me trouxe até aqui representa a realização de um sonho:

O sonho que Chico Mendes soube animar com o seu jeito de falar em esperança, de ensinar as pessoas a amar a vida e aprender que podem fazer deste mundo um lugar cada vez melhor.

As idéias do amigo Chico correm o mundo. E, aqui no Acre, nós podemos dizer com orgulho que seus alunos estão fazendo o dever de casa. O nosso Acre está melhorando e o nosso povo encontra mais justiça no Governo da Floresta.

São muitos os continuadores da luta de Chico Mendes. São milhares de homens e mulheres simples, são centenas de companheiros e companheiras que mereciam ser citados aqui. Mas tenho certeza que todos se sentirão representados pela lembrança da nossa querida companheira Marina Silva.

Marina e eu nos conhecemos em 1979, mas foi na Universidade, onde chegamos juntos em 1981, que ela me fez entender que a luta social exige muito mais que a simpatia ou colaboração eventual. E que a transformação da sociedade é movida por um sentimento de solidariedade e amor que deve ser transformado em prática de vida, todos os dias.

Com sua própria história, Marina me mostrou o sofrimento dos mais pobres, mas também me ensinou, com seu exemplo, a força dos fracos.

Se devo à Marina a minha consciência social e política, não posso esquecer de dizer da minha gratidão ao amigo que interferiu decisivamente na minha vida, para que eu pudesse trabalhar pela realização destas idéias: o governador Jorge Viana.

Não tenho receio em afirmar que o Jorge sempre acreditou mais em mim do que eu mesmo. Quando ele me provocou a trocar o conforto da minha carreira profissional para ser secretário de educação, eu não queria aceitar, mas ele me convenceu que eu podia fazer algo maior.

Quando sugeriu meu nome para vice-governador, eu fiquei entre os que resistiam, enquanto ele convencia a Frente Popular.

E foi Jorge Viana o primeiro a lançar minha candidatura à sua sucessão, defendendo que os votos viriam em função de qualidades que só ele me atribuía.

Jorge me deu a oportunidade de retomar minha participação neste projeto para o Acre e de resgatar os sonhos que alimentei nos seringais, fundando escolas e aprendendo com Chico Mendes.

Minha gratidão ao Jorge não se esgota neste agradecimento e nunca se esgotará. É meu dever honrá-la com o tempo. Por isso levarei esse sentimento sempre no coração.

No Governo da Floresta, com apoio do governador Jorge Viana, a competência da nossa equipe e o envolvimento de toda a comunidade escolar, muito se fez na Educação e posso me declarar muito feliz por isso. Feliz, mas não acomodado.

Como na Saúde, na Segurança e na inclusão social, ainda temos muito a fazer na Educação. E entre os avanços que sonho, está a expansão da educação infantil em todos os municípios do nosso Estado.

Se o acesso a uma educação de qualidade para todos é um direito imprescindível na cidadania, ela é questão de honra no Estado da Florestania.

Certamente, o meu trabalho na Educação contribuiu para a Frente Popular me indicar candidato, mas a história confirma que fui eleito governador pela conjunção de dois fatores: a evolução da luta popular iniciada lá nos anos 70, que envolveu minha geração a partir dos anos 80; e pela vontade da sociedade de renovar o processo de mudanças políticas, econômicas e sociais iniciadas pelo governador Jorge Viana com o Governo da Floresta.

Precisamos trabalhar, porque a cada passo que avançamos, mais cresce o horizonte dos nossos desafios.

A consciência ambiental que desperta no Brasil, inclui o reconhecimento da dívida do país com a Amazônia e com os seus povos. O desfecho das recentes polêmicas que envolveram a ministra Marina Silva também aponta a prevalência do bom senso no Governo Federal e a preferência dos mercados consumidores pela produção sustentável.

O mundo reclama nossas florestas e nossas reservas de água doce. Mas elas são nossas, e cabe a nós escolher entre tentar escondê-las das vistas do mundo globalizado ou buscar as oportunidades que elas criam.

Um único produto da floresta, a borracha, fez o Acre viver dois ciclos históricos de acentuada geração de riqueza. E a nossa diversidade é um tesouro inesgotável se explorado com inteligência.
Já demos os primeiros passos, estamos aprendendo rapidamente a manejar nossas riquezas naturais e podemos assumir a vanguarda da produção florestal brasileira.

Portanto, é meu dever perseverar na união do Acre pela realização deste sonho que despertou com Chico Mendes e ganhou vida no Governo da Floresta, porque agora o desenvolvimento sustentável é uma possibilidade real.

Para esta obra, eu peço a ajuda de todos os acreanos.

Que Deus nos dê força para tanto.

Muito obrigado.

Rio Branco – Acre, 01 de janeiro de 2007

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