terça-feira, 12 de dezembro de 2006

O DRAMA APOLIMA-ARARA

Lindomar Padilha

Caro Altino,

A situação dos índios Apolima-Arara que ocuparam a representação da Opirj, em Cruzeiro do Sul, não é nada boa. Há oito dias eles estão acampados em uma pequena sala. São vinte e três indios, entre eles
crianças e mulheres, que estão dormindo no chão e se alimentando de forma inadequada, quando se alimentam.

A situação piorou ainda mais, pois estão sem água desde a sexta-feira, há cinco dias. As crianças já apresentam sinais de fraqueza e isso as torna mais propícias às enfermidades, o que faz com que o quadro aponte para problemas ainda maiores.

Até o presente momento não receberam sequer a visita de qualquer autoridade. Ao contrário, todos que se dizem autoridades para o caso, se omitiram. Aqui em Cruzeiro do Sul tem representação de vários órgãos que atuam diretamente na questão indígena e nenhum, até agora, fez alguma coisa.

A Funai até retirou o seu representante daqui. O chefe de posto está em Rio Branco; o Ibama também retirou o seu representante e o levou para Rio Branco; a representantante da Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas (Sepi) ainda não se manifestou e, portanto, não contribuiu com nada; a Organização Índígena, Opirj, depende da Sepi e diz não ter condição de contribuir com nada; o representante do Imac apenas se limitou a negar que esteja dando autorização para a retirada de madeira; o coordenador do pólo base de saúde indígena também não apareceu; o Ministério Público Federal não tem representação aqui; e a Polícia Federal não pode agir porque ainda não houve crime.

Todos dizem depender exclusivamente de um posicionamento da Funai. O mais trágico e irônico é que o chefe do Ibama, que viajou para Rio Branco, o mesmo que autorizou a retirada de madeira, diz não ter poder para impedir. É estranho que alguém tenha poder para autorizar e não o tenha para desautorizar.

Pior do que deixar os índios nesta situação é a omissão covarde de quem espera por um fim de ano de festas, confraternizações, com muita paz, amor, saúde e dinheiro no bolso. Também pudera. Quem, em momento de transição política e de busca por cargos se arriscaria em apoiar uma causa dessas?

Como disse, sempre o manterei informado. Pena que as informações sejam justamente aquelas que não gostaríamos de dar.

Bom trabalho.

Lindomar Padilha é coordenador do Conselho Indigenista Missionário em Cruzeiro do Sul (AC). Leia mais em Protesto indígena.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Altino e leitores,

Finalmente houve um ganho na luta dos Apolima-Arara. Hoje, em reunião na sede da Polícia Federal, o chefe da Reserva Extrativista (Ibama), com se sentindo ofendido em seu brio, assinou um documento suspendendo todas as autorizações para retirada de madeira da terra indígena, mas só na parte incidente da Resex. Isso tem dois aspectos positivos. O primeiro deles é o reconhecimento de que, de fato, o Ibama estava dando autorização para a retirada de madeira da terra indígena e o segundo é a suspensão da retirade de pelo menos parte da madeira.
Amanhã haverá uma reunião com os representantes de alguns órgãos e esperamos que o Imac e o Incra tomem medidas semelhantes às do chefe da Resex. O delegado da Polícia Federal em Cruzeiro do Sul tem se mostrado bastante interessado em solucionar o problema. A Funai ainda não deu o ar de sua graça.
Vamos esperar para ver.

Lindomar Padilha

Anônimo disse...

Solidariedade sem reservas ao povo Arara e a quem mais vier ombrear com essa gente na defesa da floresta da vida da floresta da vida da floresta da vida da floresta da vida da floresta da vida da floresta da vida da floresta da vida da floresta da vida da floresta da vida... por favor, entendam. Fico aflito, Altino, afligido.