segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

MIOLO MOLE

Denise Pahl Schaan

Tenho acompanhado ocasionalmente a coluna do Sr. Marcos Vinícius Neves no jornal Página 20, com o título “Miolo de Pote”.

Achei extremamente interessante que o tema “arqueologia” venha a ser tratado em um jornal como este que, por ser em meio digital, tem o potencial de atingir um grande número de pessoas e, por isso mesmo, a trazer a arqueologia mais próxima do cidadão leigo.

Entretanto, me preocupou o fato de dois artigos mencionarem que salvamentos arqueológicos e vistorias estariam sendo feitos por leigos e sem autorização do Iphan.

Cito a referida coluna do dia 12 de novembro [leia aqui]:

“Por isso tudo, o primeiro texto desta coluna trata das características pré-históricas de Sena Madureira, onde semana passada foi localizado um novo sítio arqueológico, como noticiado aqui neste jornal e que devemos vistoriar na próxima semana”.

E a mesma "Miolo de pote", do dia 26 de novembro de 2006 [leia aqui]:

“O Departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Elias Mansur, responsável pelo gerenciamento do patrimônio cultural do estado, têm se desdobrado no esforço de realizar missões de salvamento de ocorrências arqueológicas diversas ...”.

Por isso venho comunicar à população que somente o Iphan pode autorizar pesquisas arqueológicas (ainda que de salvamento) e que os proprietários de terras onde se encontram sítios arqueológicos devem exigir da pessoa que se propõe a escavar o sítio arqueológico cópia de portaria específica publicada no Diário Oficial da União ou ofício do Iphan autorizando a intervenção.

Apesar da profissão de arqueólogo não ser reconhecida legalmente, toda pesquisa deve ser previamente autorizada pelo Iphan, que o faz em benefício de profissional que tenha pelo menos o título de Mestre e que possua experiência profissional e publicações científicas compatíveis com o nível de exigência da atividade a que se propõe.

A arqueóloga Denise Schaan é doutora em antropologia social na Universidade de Pittsburgh (EUA), pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Universidade Federal do Pará. Em maio, escreveu com exclusividade para este blog, o artigo "Geoglifos do Acre". Parte do brilhante trabalho dela sobre cultura marajoara está na reportagem "Uma sombra sobre o passado", na edição de setembro da revista National Geographic. Conheça as pesquisas de Denise Schaan no site Arqueologia e História Pré-Colonial da Ilha de Marajó.

Resposta do historiador e arqueólogo Marcos Vinicius Neves:

"Dra. Denise Schaan foi com grande pesar que li seu artigo “Miolo mole” neste blog. Eu ainda tinha esperança que você fosse uma profissional séria e bem intencionada. Apesar de que, a bem da verdade, pra mim sua mascara já havia caído quando você produziu uma pérola de artigo chamada “O dilema dos geoglifos” que foi publicada neste blog e no jornal Página 20 e que deveria se chamar na verdade “A farsa dos geoglifos”, tamanha é a insensatez de tentar caracterizar uma discussão sobre ética como se fosse uma discussão conceitual. Um assunto que eu pretendia discutir futuramente na mesma coluna que a Sra. tenta desqualificar. Por isso, não foi com surpresa, mas com pesar, que vi a senhora me agredir de forma gratuita me chamando de miolo mole e tentando me caracterizar como leigo e assim questionando de forma indireta a legalidade de minha atuação como arqueólogo.

Só a titulo de esclarecimento devo lhe informar que a coluna "Miolo de Pote" usa um termo regional que a senhora deve desconhecer, como forasteira que é, apesar dos riscos que usar esse titulo poderiam acarretar como a senhora bem demonstrou com seu trocadilho infeliz. Além disso, tenho escrito os artigos da coluna sem agredir ninguém e sendo totalmente sincero e direto em minha argumentação acerca dos erros que tem sido cometidos em relação ao tema dos sítios geométricos. Acreditava que isso poderia até promover uma discussão de alto nível, como foram algumas poucas manifestações publicadas neste mesmo blog. Percebo agora que estava enganado. É sempre mais fácil agredir do que argumentar né, doutora?

De outro lado, minha formação de arqueólogo inclui algumas mil horas de trabalho de campo e outras tantas de trabalho de laboratório e diversos projetos de pesquisa realizados, o que me credenciou a ser sócio efetivo da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB) e participar de diversos projetos nacionais e internacionais. O que me leva a conclusão que a senhora não me conhece o suficiente pra tirar conclusões precipitadas a meu respeito, e muito menos levantar suspeitas acerca de minha conduta. Até porque, até onde sei, quem está entrando pela porta dos fundos do Acre é a senhora já que, desde o início de sua atuação no Acre, tem tentado encobrir atos de pesquisa confessadamente ilegais, conforme foi publicado no mesmo jornal Página 20.

Portanto, se alguém está trabalhando ao arrepio da lei neste caso, e, portanto, ferindo os princípios éticos que deveriam nortear todo trabalho científico, é a senhora. Mas não quero me estender nessa resposta, uma vez que só estou remetendo esse material para o Blog do Altino porque a senhora me citou nominalmente e como exerço uma função pública que envolve outras pessoas, não poderia aceitar passivamente essa agressão gratuita, mas lhe prometo que em minha coluna “Miolo de Pote” de domingo terei mais espaço e melhores condições para lhe responder com a propriedade que o caso requer.

De qualquer modo quero lhe alertar que a bela história de lutas dessa parte ocidental da Amazônia credenciou a sociedade acreana para resistir aos neo-colonizadores ou neo-piratas que acham que podem chegar aqui arrotando títulos e verdades, como já foi feito em inúmeras ocasiões ao longo dos últimos cento e poucos anos. Ou, como diriam os acreanos, utilizando outro termo muito difundido aqui na região, o povo daqui já “foi passado na casca do alho”. Por isso, cuidado onde ou em quem tenta pisar. O que é, antes de tudo, uma questão de respeito e ética, porque senão vai parecer que não sou bem eu quem tem o miolo mole..."

2 comentários:

Anônimo disse...

De que buraco saiu essa "acreaníssima" Denise Pahl Schaan??? Que mulher mais arrogante!
Desde quanto o Marcos Vinícius é leigo?
Isso tá cheirando a Corporativismo puro e simples.

Nem miolo de pote, nem miolo-mole. Essa daí tá mais é pra desmiolada mesmo.

Anônimo disse...

Me solidarizando com historiador Marcos Vinicius,que de leigo não tem nada,más de certa forma, a senhora Denise Schaan está certa no tocante as atribuições de cada instituição.Porém, respeito com a pessoa do historiador que deu (e continua dando)grande contribuição a reconstrução da história do Acre,seu resurgimento e fortalecimento,deve ser dado.Sinto que isso não passa briga de egos.