quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

MINHA MÃE, MEU HERÓI

Leila Jalul

Altino e eu conversando, comentávamos sobre blogs, acessos diários, quem lê, quem não lê, quem comenta, quem detesta, quem tem medo de Virgínia Wolf.

Ele disse que o blog tem, pelo menos, 600 visitas diárias. Ontem, foram 847 visitas únicas. De minha parte, entro umas 50 vezes, para ver se tem novidades, mas ele me explicou que apenas um acesso é contado no período de 24 horas.

Entrei nesse contato no mês de novembro. Antes, só jogava paciência Spider de quatro naipes. Imaginem, passei mais de l2 horas para fechar uma merda daquelas. Perda de função, mas ganho contra o Alzheimer. Tudo por uma boa causa.

Hoje, vendo o clip da futura minissérie da Globo, que será levada ao ar no dia 2 de janeiro - a autora não merece maiores elogios, pois traz em seu nome a glória de ser Glória, de ser da terra que viveu batalhas, de ser tamanha por ser filha de heróis anônimos - nada mais pude fazer senão chamar minha velhinha de 83 anos para assistir, no You Tube, não a sua imagem, mas para experimentar, em dobro, a sensação de ter sentido e vivido no tempo do despertar de uma comunidade que, até hoje, ainda anda em busca de seu batistério.

Minha velhinha não agüentou, se esgueirou e se foi. Direto para um tubo de oxigênio ambulante, que percorre da varanda ao fundo da cozinha. Entendi a reação emocionada.

Quem nasce em berço de ouro, pouco tem pra valorizar. Quem nasce em berço de merda valoriza cada minuto de vida, cada amanhecer, cada lua cheia. O passado de minha mãe está guardado e vivo. É palpável. Só o passado é palpável.


Já que não consigo mais trazer de volta o futuro para minha mãe, deixo de presente o relato de um passado que, se não tão feliz, foi verdadeiro.

Longe das balas, livre das correntes, tenho a certeza plena de que, aqui, neste ambiente, vive, aos trancos e barrancos, ligada a uma bala de oxigênio, uma heroína-macho, nascida em 23.


Leila Jalul é cronista acreana.

5 comentários:

Anônimo disse...

Eu também acesso esse blog um monte de vezes, todo dia...claro, o Altino é superativo, ta sempre postando novidades interessantes... e quero registrar que com as crônicas da Leila, ficou ainda melhor! E mais: combina! Ela inventa muito bem as palavras pra falar...DO ACRE... dos seus personagens de uma forma levemente irônica (ou seria ironicamente leve?).Um olhar ao mesmo tempo capeta e maduro. Uma sintaxe adulta. Roxa, como aquele cará de cruzeiro do sul que comi na casa de Kátia...Crocante, como a farinha também daquelas bandas. Doce, como
aquelas bananas de Acrelândia... Um banquete! Obrigada vocês dois...

Anônimo disse...

errei. A expressão é - aos trancos e barrancos.

Anônimo disse...

linda a mensagem, leila! Aí no Acre, vocês ainda têm a sorte de respirar a poesia, sentí-la nas veias, na boca, no corpo e na alma. No resto do país, onde nao se tem mais a floresta, a magia e seus povos e a história tao recente, perdemos o sentimento de pertencer a um lugar.

Meu avô era acreano. Nasceu 1904. Minha jóia que me passou o amor por este estado que tanto amo e me conquistou.

Protejam este paraíso!!!
beijos.

Anônimo disse...

Eliane, em menos de 20 minutos, pesquisei sobre seu avô. Depois o Altino me remeteu a fatos divulgados no Blog e vi que não me recordo de nada sobre seu avô. Pudera, nasci em 48! rs Chequei a memória de minha mãe, e não obtive resultados.
Independente de qualquer coisa, quero dizer que estou sempre aqui, com uma única missão, quer seja, a de mostrar figuras que se perderam nas garras do esquecimento. Elas são bonitas, assim como são bonitas todas as pessoas, independente de nacionalidade, paternidade ou localidade. Gente sempre nasce bonita! Depois....
Puxando um pouco de brasa para nossa sardinha, apenas acho que alguns de nossos antepassados foram mais que bonitos. Se me dessem permissão para ter nascido noutro lugar, gostaria que tivesse sido nas Rochosas. Como teve que ser aqui, suporto o calor com a tenacidade dos que enfrentaram onças, cobras, e todo o tipo de adversidades. Hoje temos internet, sky e ar condicionado. Tá bom demais da conta.
Um beijo grande no seu coração.
No meu já tenho reservado um lugar para a Alemanha. Gerei um neto de imigrantes, um verdadeiro Nagel Hilzeinderger Bretz.
Aviso: não pesquisei o pedigree.

Anônimo disse...

Leila, a culpa é de vocês!

Tô meio triste porque quebrei uma promessa. Não seria escravo de micros.E tendo ampliado o raio da promessa até os limites da pequena bodega que tento administrar com esmerado zelo, restringí o uso da ferramenta exclusivamente aos ossos do ofício. Nada de acesso a joguinhos, msn, orkuts , blogs e outros besteiróis da vida. E assim era. Até ontem.
Ao chegar à empresa, vazia em hora de almoço, descobri furioso que o édito havia sido infringido. Um funcionário descuidado(ou não), havia saído para o repasto e largado a estação de trabalho acintosamente conectada ao” blog da autora”, da Glória Perez, num gesto aparentemente casual, mas que a mim, imperador da bodega, aparecia como preocupante tentativa de cunho libertário. Um Bolívar da comunicação agindo em meu reino??
Vendo minha autoridade real ameaçada pelo infame, sento-me na frente da máquina à cata de uma prova que justificasse uma punição exemplar por tamanho ato de rebeldia....
P’rá desencanto do meu orgulho e encanto do meu espírito, vejo aqui uma foto do padre José, alí um pedaço do meu Quixadá, mais além os imponentes barrancos do meu Rio Acre. A emoção me trai..., desequilibro..., tropeço num link e escorrego até o blog do Altino Machado.
Quando creio a emoção no fim, eis que surge você, toda legítimo orgulho, a homenagear sua heroína....
A comparação é inevitável;....em termos de orgulho e heroína, estamos no mesmo batente. Minha heroína também é de 23, também era acreana das machas e também meu orgulho. Viajou aos 76. Certamente mora hoje no pedaço de céu reservado aos acreanos de bom caráter, ouvindo as estórias engraçadas do seu irmão, padre José, enquanto cofia carinhosamente os cabelos de minha vó Benvinda(só por castigo, pois detestava catar a cabeça da mãe...). Ah, ia esquecendo. Liberei geral a internet na bodega. O pequeno Bolívar já recebeu o décimo com 20% a mais como bônus pelo desacato. Meu sócio chiou. Eu disse a ele que cobrasse da Leila Jalul, da Glória Perez e do Altino Machado. Nada mais justo, considerando que a culpa pelo prejuízo foi de vocês....

Blog: A ferramenta mais democrática para a construção social do conhecimento
P.S.: Achei interessante esta definição de blog. Não é de minha autoria e desconheço o autor. Ouvi numa conversa de botequim, enquanto