sábado, 30 de dezembro de 2006

MENINO JORGE

Leila Jalul

Tempos atrás, um Senador pelo Acre ameaçou entrar na Justiça contra o renomado Aurélio Buarque de Holanda. Entendia tratar-se o vocábulo "acre" mal empregado como sinônimo de degredo. Na batata, escrevi um artigo no jornal Página 20, dando as razões históricas que motivaram a “insanidade” do filólogo, que, aqui e agora, não vale repetir.

O Acre vivia um período farto em falcatruas, roubos, caixa dois, caixa três, caixa quatro, caixa cinco, caixa seis, contas fantasmas, inabilidades políticas e toda ordem de improbidade administrativa que, a Deus querer, esperamos, nunca mais se vivencie. Os degredados filhos de Eva a tudo assistiam e, ainda hoje, esperam resultados de pendengas judiciais que se arrastam. Ainda esperam a devolução dos recursos surrupiados.

Nunca se constatou se o político acionou, se perdeu, se o Aurélio foi reencarnado e preso, se a editora fechou as portas. Morreu o assunto. O Acre mudou. Mudaram os rumos políticos. Outros erros foram cometidos. Muitos acertos. Muitas obras aconteceram e alteraram a fisionomia da capital e do interior do Estado.

Neste breve comentário, não me manifestarei sobre a questão nacional. Esta também teve mudanças, muito embora tenha sido o tempo em que mais senti embrulhos no estômago. Tempo de queda de ídolos de pés de barro, destemperos de aloprados, enriquecimentos ilícitos etc.

Não queria fosse assim. Me detenho no Acre, para afirmar que o governador que sai amanhã vai deixar um legado que, talvez, nem ele mesmo, saiba o tamanho e a extensão. Jorge Viana, moço compulsivo e inquieto, homem de muitas obras, deixa aos acreanos a reconquista do amor próprio. Essa reconquista foi, sem nenhuma dúvida, seu maior feito em oito anos de mandato. Tudo o mais foi apenas o cumprimento de deveres do administrador. Fez pela obrigação do mandato que lhe foi conferido. E fez bem feito.

Dos bastidores do poder, sei pouco, quase nada. Nem quero saber. Sinto ojeriza. Daí não saber falar sobre. Vendo de fora, nestes oito anos, com intempéries, com raios de sol, com calmarias, com ventanias, Jorge ousou desafiar bandeiras fincadas, de Sul a Norte, de Leste a Oeste, para desclassificar os que imaginavam o Acre a lixeira do Brasil.

Acho que ele encarnou os velhos nordestinos ao pensar: desta vez, ou vai ou racha, ou eu entro pelo cano. Se saiu bem. Sai firme e de nariz empinado. Jorge sai com méritos, possivelmente para o descanso do guerreiro. Acho que sai feliz.

Deixou o Acre, inteirinho, em peso, com a condição de responder ao Aurélio, ao Senador e aos acreanos: o Acre não é mais um degredo, apesar dos cantões. Degredo, uma ova.

Aqui tem gente que ri. Tem quem queira continuar sorrindo. Aqui tem gente que quer agradecer. Não é mesmo, mamãe?

É necessário explicar: a mãe da cronista Leila Jalul é Azize Jalul. Aos 80 anos, durante a campanha para o segundo mandato, acompanhou todos os comícios do candidato Jorge Viana em Rio Branco. Usava um vestido da cor de beterraba, dizendo que o mesmo traria sorte ao candidato. Foi à carreata com o vestido, abraçou o Palácio Rio Branco com o mesmo vestido e compareceu à solenidade de posse, no "sereno" da Assembléia Legislativa, com o mesmo vestido roxo. Chama o governador de "menino Jorge", pois sempre o tratou assim. No quarto dela, ao lado da imagem do Sagrado Coração de Jesus, existe uma foto do "menino Jorge" com a faixa de governador. "Meu Deus, isso não pode acontecer. Esse menino é um menino de família", dizia revoltada quando os opositores embargaram a candidatura de Jorge Viana. E desfiava a contar os feitos do avô, da avó e do bisavô do "menino".

Um comentário:

Anônimo disse...

Perfumoso visconde,
depois desse lindo post da acrean�ssima
Leila eu s� posso desejar a todos voc�s

muita sa�de
paz e amor.