sábado, 16 de dezembro de 2006

AVISO AOS NAVEGANTES

Leila Jalul

Tenho três princípios básicos quando escrevo: não me engano, apenas me equivoco; mão minto, mas ornamento os fatos; e sempre tenho o aval de provas testemunhais e posso revelar fontes.

Deveria ter muitos outros, como, por exemplo, cuidar mais das vírgulas e dos pontos de exclamações, evitar a prolixidade, vez por outra inserir um “data vênia”, só pra exibir um tiquinho de eruditismo. Deixo isso de lado ou é melhor nem escrever.

Hoje, vou contar um fato, passado e acontecido no Palácio Rio Branco. Não sei em que ano, mas faz tempo. Era interventor ou governador (os historiadores podem esclarecer), um João Kubitschek, primo do Presidente Juscelino.

Certo dia, por volta da meia-noite, se apresenta aos guardas da vigilância, uma freirinha miúda e bonitinha, pedindo insistentemente para falar com o chefão. Conversa vai, conversa vem, os guardas, alegando o adiantado da hora, tentaram convencê-la a voltar no início do expediente.

A religiosa não arredou o pé e, sem que dessem por conta, os responsáveis pela segurança do governador apenas ouviram os passos suaves subindo as escadarias. Foi aquela correria. Procura aqui, procura dali, embaixo da mesa, atrás da porta, salão principal e nada! Escafedeu-se!

Fazer o quê? Invadir o quarto do governador? Restou montar guarda no portão principal e imaginarem a punição pela grave falta. Seriam suspensos, pegariam cadeia, seriam expulsos? Temiam a expulsão.

Cadeia era coisa pouca, suspensão poderia ser encarada como umas férias forçadas. Agora, expulsão, é triste demais para um fardado, principalmente se por um fato não cometido.

É triste e leva às lágrimas até os corações pedrados. Coorporação formada, em posição de sentido, e o energúmeno meliante ali, na frente de todos, cabeça baixa, tendo que devolver a arma, o uniforme e ainda tendo de ouvir aquela ladainha do comando, de voz empostada, que penetra na alma até dos que erraram.

Por Deus, foi apenas uma noite de pesadelo. Pesadelo de pé, com os olhos bem abertos. Nada aconteceu com o Cosme, nem com o Damião.


Logo amanheceu e o governador contou seu sonho com uma freirinha, avisando sobre o passamento de um ser querido lá das Minas Gerais!

Ufa! E não deu outra! Aqui, só se confirma a verdade: uns sempre morrerão, para que outros tenham vida.

3 comentários:

Anônimo disse...

Leila, vamos lá:

1) A sua história talvez explique o fato de Jorge Viana ter se recusado a fazer morada no Palácio Rio Branco;

2) Talvez a freirinha fosse uma amante disfarçada e o sonho apenas um despiste do governador;

3) A freirinha pode ter dado um Boa Noite Cinderela aos guardas.

O que os demais leitores julgam mais provável?

Anônimo disse...

Altino, sei que vai ficar parecendo sala de bate papo. No problem!
Sei não, sei dizer não. Consultei minha fonte e minha fonte não gosta de presentear nenhum cristão com marcas do cisma. Minha fonte é sábia e inesgotável. Disse-me que, não foi só a freirinha que os guardas enxergaram. Em todo mês de maio, de cada ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo,ali onde fica o obelisco, tinha uma procissão das almas. Almas de bolivianos, pois cantavam em espanhol.
"Señora Maria, Madre de Dios, te quiero exultar-te por toda la mia vida". Eram bolivianos, ou não? Cara, eu não sei!
A única coisa que posso, sem receio, adiantar, é que os guardas viram a freira subir, mas não viram descer. Trocou o plantão. E ninguém é obrigado a falar a verdade, senão por força e em virtude da lei.

Anônimo disse...

Altino,
a Leila pode estar dando uma pista boa para explicar a história da freirinha. O Acre era muito malassombrado naqueles tempos escuros (a luz apagava às 22 horas). Nos anos cinquenta eu costumava fazer hora em volta do obelisco, apreciando a bela fonte que nunca mais foi refeita com as cores e movimentos originais da água que esguichava. Bom, naquele tempo se falava muito da existência de bolivianos enterrados debaixo do obelisco. A freirinha teria falado com os guardas em espanhol? Sua hipótese 2 é boa, mas... os guardas não poderiam ter sonhado também com a freirinha? Se ela fosse acreana...