terça-feira, 14 de novembro de 2006

UMA BRASILEIRA DO ACRE

Nos próximos quatro anos, o Acre permanecerá em boas mãos e não correrá risco de ser devolvido à Bolívia, o país vizinho ao qual pertencia antes da Revolução Acreana liderada por Plácido de Castro. Durante a homenagem prestada ontem no Palácio Rio Branco pelo governo estadual à novelista acreana Glória Perez, que escreve a minisséria "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", o governador Jorge Viana se referiu a quem vai sucedê-lo a partir de janeiro, o vice-governador Binho Marques, como "alguém que veio do meio artístico acreano".

- Sou mais artista do que governador - completou o governador eleito, de 44 anos, que foi diretor e ator de cinema e teatro amadores, em Rio Branco, quando era mais jovem.

Mais ou menos 50 convidados presenciaram a sincera declaração de Binho Marques durante almoço com a novelista no salão nobre do Palácio Rio Branco, a sede do governo estadual.

Após o almoço e duas sobremesas -creme de cupuaçu com chocolate e sorvete de farinha de tapioca com banana frita-, Glória Perez revelou aos convidados que fica impressionada com o fato de ninguém conhecer a história do Acre.

- Nós somos tão desconhecidos quanto éramos naquela época, quando o resto do Brasil chamava os acreanos de brasileiros do Acre. Ninguém sabe nada da nossa história.

Ela considera que o grande ganho da minissérie será o de apresentar o Acre ao Brasil e despertar a curiosidade das pessoas. A novelista contou que todos da equipe da TV Globo sairam emocionados do Acre, dispostos a se engajar em qualquer causa do Estado.

- A Cristiani Torloni e Vítor Fasano estão puxando uma campanha pela preservação da floresta. Os atores ficaram encantados com o Acre, com os acreanos, e estão dispostos a se engajar em qualquer causa que trate de melhoria para nós acreanos.

Glória Perez disse que está finalizando a história, mas assinalou que na verdade a história está sendo contada por todos os acreanos.

- Tenho recebido ajudas preciosíssimas e dependo muito de vocês, para fazer direito. E Deus quer que eu faça.

Quando a minissérie estrear, no dia 2 de janeiro, as gravações ainda estarão acontecendo. Em fevereiro, os atores voltam ao Acre para novas gravações. Com 55 capítulos, sendo quatro por semana, terá duração maior do que as demais minisséries já exibidas pela TV Globo. Cada capítulo vai custar R$ 400 mil.

- É uma minissérie riquíssima. Nunca se investiu tanto numa minissérie como se está investido nessa. É uma minissérie difícil. Ela abarca 100 anos de história e são três épocas. É um épico. Na primeira fase, nós temos exército boliviano, exército brasileiro. É claro que num trabalho assim vai ter quem diga que a farda não era assim, tal coisa não foi bem desse jeito. Não importa. O que importa é que os holofotes vão estar em cima da nossa história e todo mundo vai querer ficar sabendo um pouco mais sobre nós. Agora fica com vocês, pois aí eu já terei feito a minha parte.

- O Acre vai ficar tão valorizado, e já prevendo isso, a gente imaginou que o Evo [Morales, presidente da Bolívia] ia querer destrocar o Acre. Por isso que o slogan da nossa campanha eleitoral foi "o Acre não se troca" - afirmou Binho Marques, o artista que foi eleito governador. É a garantia de que vamos continuar brasileiros.

Os leitores desse blog têm o privilégio de assistir ao registro em vídeo de toda a conversa que Glória Perez manteve com seus conterrâneos após o almoço em sua homenagem.



A CASA DO POETA JUVENAL ANTUNES


Além de inteirona aos 92 anos, dona Ida é tão lúcida quanto a filha, a romancista Florentina Esteves, ou a sobrinha, a novelista Glória Perez.

Ida e o primeiro marido, Zé Rodrigues, foram proprietários do
Hotel Madrid, onde o poeta Juvenal Antunes viveu por quase 20 anos.

Antunes, que será destacado personagem da minissérie, veio do Rio Grande do Norte como promotor de Justiça, mas na verdade era um boêmio inveterado.

Passava os dias metido num robe, na porta do hotel Madrid, bebendo, fazendo versos e proclamando seu amor a Laura, uma suposta mulher casada que lhe inspirou os mais belos sonetos.

Zé Rodrigues não gostava da aproximação de Ida com o poeta, pois este era muito pornográfico. Mas dona Ida lia e decorava os poemas que até hoje declama como preferidos.

Glória Perez já revelou no blog dela que sua tia Ida tem contribuído com a minissérie ao lembrar os feitos e os poemas do seu hóspede mais ilustre.

O prédio onde funcionou o Hotel Madrid abriga hoje a Fundação Elias Mansour. Ida, Florentina Esteves e Glória Perez inauguraram ontem a reforma do ambiente.

Na calçada, em frente ao prédio, agora existe a estátua de Juvenal Antunes, sentado, tendo um copo na mão direita e um livro sobre a mesa. Ao lado, uma cadeira para quem se dispor a acompanhá-lo. O vate da preguiça, que costumava ficar no local, metido num indefectível robe, ganhou um fraque na versão oficial do retrato. Na parede da fachada do prédio, foi afixada uma placa com um texto do jornalista acreano Armando Nogueira, outro fã do poeta, onde se lê:

"Juvenal Antunes foi o grande trovador de minha infância poética em Rio Branco. A cidade parava na frente do Hotel Madrid para ouví-lo declamar poemas em louvor de Laura, sua musa distante, e do ócio, seu ídolo constante. "Perdoa Laura, o meu atrevimento/ Lê esta carta, rasga e solta ao vento!", recitava o poeta, erguendo aos céus, com fervor, o copo sempre alegre de Gim com Vermute. "Bendita sejas tu, preguiça amada, que não consentes que eu me ocupe em nada". Saudades do poeta! O promotor público e poeta Juvenal Antunes de Oliveira nasceu aos 20 de abril de 1883, em Ceará-Mirim (RN). Chegou ao Acre em 1913, onde trabalhou como promotor público e delegado de polícia, publicou dois livros - Cismas (1922, Natal) e Acreana (1922, Acre). Morreu em Manaus no dia 30 de abril de 1941, aos 55 anos de idade, quando viajava de volta à terra onde nasceu".

Durante a solenidade, dona Ida ficou sentada numa cadeira, próxima à estátua do velho amigo, a quem fitou emocionada e pediu:

- Fala, Juvenal!

Ela declamou trechos de poemas de Antunes, mas confessou que o seu preferido é "Laura":

"Falam de ti, de mim, de nós ... Quem há de
Tentar fechar as bocas viperinas?
Cada dia, mais cresce a intensidade
Do meu desprezo às almas pequeninas.

És a maior de todas as heroínas,
Com esse desdém e essa serenidade!
Que eu beije sempre as tuas mãos divinas
Minha dor! Meu prazer! Minha saudade!

Façamos deste amor um relicário,
A pirâmide, o túmulo, o sacrário,
Onde a nossa paixão seja guardada!

Vamos, Laura, assim por toda a vida!
E, embora nunca sejas a Possuída,
Para mim, sejas sempre a Desejada!"

Assista ao depoimento de dona Ida e cenas no interior do novo prédio da fundação cultural do Acre.



No post
Juvenal Antunes na Globo, existem mais referências biográficas, além de duas crônicas antigas de Armando Nogueira sobre a infância no Acre e o poeta.

15 comentários:

Anônimo disse...

Laura era um codinome que Juvenal deu à sua amada, essa aí, por que era casada. Não saia do hotel e ficou assim tanto tempo hospedado, tinha um grande tesouro que ele escondia naquele lugar.

Anônimo disse...

Altino, meu caro,
podemos dizer que o Acre vive em "estado de arte". O almoço no Palácio Rio Branco, ontem, com a Glória Perez e aqueles acreanos especiais que estavam lá...Depois a inauguração da Fundação Cultural no local do antigo Hotel Madrid, com a estátua do nosso poeta maior Juvenal Antunes na calçada à entrada do prédio, tomando seu pileque sem fim! Meu Deus, quanto privilegiados somos nós acreanos e herdeiros dessa história linda!A cena em que dona Ida,92,dona do Hotel e sua amiga de vinte anos diz para a estátua: "Fala, Juvenal!" é de matar de poesia e felicidade. Mas quero questionar uma coisinha: por que não colocaram o Juvenal de pijama, se este era o traje com o qual ele passava o dia inteiro à porta do hotel, bêbado e lírico?

Anônimo disse...

Aqui, neste mundo de meu Deus, teve cada cabra safado! Teve um promotor por aqui, um tal de Josias que, prendeu, bateu e condenou sem ter diploma de porra nenhuma! Esse Juvenal foi um dos muitos que do Acre só tirou. Como o Bocage, comeu, bebeu e fudeu sem ter dinheiro! Imagine se esse cabra fosse bonito como voce, Altino!

Anônimo disse...

Caro Elson, você tem realmente razão. A artista plástica Cristina Mota (?) foi infeliz ao aplicar esse fraque no Juvenal Antunes porque deve ter prevalecido o gosto de quem encomendou a obra. A imagem oficialesca do vate da preguiça não se adequa ao perfil que a Glória Perez fez no blog dela: "O terno nunca foi seu uniforme: passava os dias metido num robe", contou a novelista. A namorada do Petecão, da mesma artista, foi retratada com bem mais realismo. Fazer o que, né?

Anônimo disse...

O Acre foi o único Estado que lutou para ser brasileiro, merece que todo o pais conheça sua saga, mesmo que a maior parte ignore e crie piadas de mau gosto a custa do nosso Estado.

Anônimo disse...

E eu de cá, fico me sentindo moradora de uma galeria.
Agora pouco, uma pintura da salão saiu caminhando como se estivesse a reconhecer território. Fiquei bem quietinha pra não chamar a atenção do Juvenal...

Anônimo disse...

Eu sou Brasileiro do Acre,
Tu (Altino) é Brasileiro do Acre,
Ela (Glória Perez) é Brasileira do Acre...
Nós somos Brasileiros deste Acre,
Vós (Dona Ida) sois uma Acreana Brasileiríssima Acreana,
Eles... ah... eles e elas, caros amigos... Os Brasileiros... estão doidos pra serem Brasileiros do Acre!

Altino... conheci a cidade de Juvenal Antunes quando morei no Rio Grande do Norte... Depois de ler alguma coisa sobre ele em seu blog e outras fontes, chego a conclusão... Esse potiguar era um "galado"! (Expressão Norte Rio-Grandense)...

Anônimo disse...

Eu sou Brasileiro do Acre,
Tu (Altino) é Brasileiro do Acre,
Ela (Glória Perez) é Brasileira do Acre...
Nós somos Brasileiros deste Acre,
Vós (Dona Ida) sois uma Acreana Brasileiríssima Acreana,
Eles... ah... eles e elas, caros amigos... Os Brasileiros... estão doidos para serem Brasileiros do Acre!

Altino... conheci a cidade de Juvenal Antunes quando morei no Rio Grande do Norte... Depois de ler alguma coisa sobre ele em seu blog e outras fontes, chego a conclusão... Esse potiguar era um "galado"! (Expressão Norte Rio-Grandense)...

Anônimo disse...

Oi Altino, quanta coisa linda por aqui!!! E dona Ida, que fofura!! Só quem está distante como eu sabe como é difícil estar contente com tudo o que está acontecendo aí nessa terra querida e, ao mesmo tempo, triste por não poder presenciar tudo isso pessoalmente!! Sorte a sua...da minha parte, inveja branca, que eu sou de paz!!eheheheh...Quem sabe a saudade não me carregue "praí" ano que vem??!! Um grande abraço!!

Anônimo disse...

O Acre vem tornando-se cada vez mais visto, e bem visto por todos os Brasileiros, e é claro que isso não é mérito apenas da TV GLOBO, creio eu que isso tbm tem uma grande influencias dos governos Federal e estadual. Bem como sabemos, o ACRE agora não se troca mesmo, tenho um grande orgulho de ser Acreano de Tarauacá, terra boa e bonita.
só precisamos que valorizem mais aquela terrinha tão especial para mim, que se eu pudesse, estaria alí novamente.
bem, eu e todos as acreanos, com certeza, estamos ansciosos por esta estréia na GLOBO.
Altino, Parabéns pelo seu Blog, sempre que posso estou aqui acompanhando. Bem, agora é só esperar a minissérie.
Emanuel Brito

Anônimo disse...

Querido Altino,
Sempre que vc me dá notícias assim meu coração me diz que falta Acre em mim. Fico com saudades de voces todos. Dou mais água pra minha semente de Jarina,brinco com as folhas novinhas, as primeiras, do Cupuaçu, me alegro de ter farinha de Cruzeiro, mas me falta um Vento Norte, que pode não mover moinhos, mas move a poesia, o sonho,a fé,o coração, amigos, amores e deixa a alma da gente assim... encantada! Viva aí aos Brasileiros do Acre! Mas Viva apenas aos que merecem!! Beijo.

Anônimo disse...

Pois é,

Qual o problema de Juvenal ser homenageado de pijama ?
E o pijama vira fraque...
mas o copo de cerveja e o banquinho ao lado da escultura dá vontade de sentar, pedir uma cerveja "gato preto" e ouvir o poeta declamar seu amor a Laura.
Altino, quem mais vc convidaria pra se sentar nesta mesa ? ou pra provocar, quem vc não convidaria ?
Abraço´do sérgio

Anônimo disse...

Juvenal e Laura foram amantes. Desse amor nasceu uma filha (falecida há pouco mais de 5 anos), que se tornou freira da ordem do Amor Divino, no Colégio N.Sra. de Fátima. Ela escondia o destino dos pais e preservava a sua vida religiosa. Quando fui publicar a Breve Coletânea, pedi - lhe permissão para os comentários sobre Laura. Eu sou sobrinha - neta do poeta nordestino, com muita honra,guardo seus manuscritos (muitos inéditos). Louvo Glóoria Perez e o Acre por homenageá - lo.

Anônimo disse...

Caro Altino, estou feliz com a mini - série que a Glória Perez está pr5oduzindo pela Globo. Nela, tio Juvenal será destacado como uma homenagem dos acreanos. Natal e Rio Grande do Norte estão devendo uma homenagem ao maior poeta parnasiano daqueles tempos. De pijama ou fraque, era um expert da lingua portuguesa e dos grandes poemetos ou quadrinhas jocosas. Laura existiu de fato, era filha de Boaventura de Sá e morava em Ceará - Mirim. Mulher casada, teve esse romance com tio Juvenal. A filha dele era avessa às minifestações culturais alusivas a Juvenal, mas me permitiu publicar uma coletânea onde falo em Laura. Pois bem, essa filha deles, era uma freira da orem do Amor Divino e faleceu após 1998. Estou terminando uma obra completa sobre tio Juvenal. A Glória Perez sugeriu que a mesma fosswe divulgada durante a mini- série. Quem irá patrocinar?
Tenho os manuscritos de tio Juvenal e de vovó Madalena (sua irmã e confidente, que também era escritora). Que beleza esse universo Juvenaliano!

Anônimo disse...

Helena, muito bons seus comentários esclarecedores. Vamos torcer para que haja interesse de patrocinadores no Acre e no Rio Grande do Norte para publicar a obra completa do Juvenal. Gostaria de obter seu e-mail. Abraço