sábado, 20 de maio de 2006

VERDE BROTAÇÃO

Juarez Nogueira

O texto "Apocalipse ou moratória" fala em multas que foram aplicadas. Será que foram efetivamente pagas ou caíram naquela teia dos recursos protelatórios que fazem a justiça ficar na lesma lerda? Hay que endurecer, pero no bolso.

E os recursos aí tomados podem - e devem - ser revertidos em ações educativas e preventivas - e efetivas, claro - tudo pelo social. Pergunte ao Greenpeace como. A vigente legislação ambiental é bastante clara em seus propósitos, inclusive no que tange às sanções para os crimes ecológicos.

Mas o xis da questão é a aplicabilidade prática - e sem concessões - da prescrição legal. Enfim, num país em que o presidente da república se gaba de nunca ter lido um livro na vida e o chefe do PCC manda seus comandados lerem "Divina Comédia" do Dante Alighieri e "A Arte da Guerra" do Sun Tzu fica para nós, pobres mortais contribuintes, a pena de ter que conviver sufocados pela fumaça da empurroterapia, das medidas tardias, das políticas band-aid e das "benevolências" concedidas sob a alegação de que a lei é "troppo" rígida...

Quanto à "desobediência civil", é bom rever o conceito. Aquele Garotinho do PMDB já banalizou a greve de fome, tirou dela o apelo de causa nobre (Gandhi deve estar se revirando no túmulo), agora, não se vá fazer o mesmo sob o rótulo de "desobediência civil". Henri Thoreau, em sua "Desobediência Civil", propunha uma saudável anarquia como atitude de resistência quando a lei é o problema e não a solução. Creio que não é o caso em tela.

Vale lembrar que o espírito dessa desobediência de que fala Thoreau é predominantemente a auto-aprovação, isto é, como alguém pode estar em boas condições morais, enquanto "escraviza ou faz sofrer um outro homem"; então, não precisamos de lutar fisicamente contra o governo, mas sim não apoiá-lo nem deixar que ele nos apóie se estamos nós contra ele. Thoreau lembra ainda que o "o melhor governo é o que menos governa".

É uma utópica e ideal aposta na auto-determinação, o que pressupõe auto-governo, autonomia com responsabilidade, que, por sua vez, pressupõe educação "lata" - ampla e irrestrita a toda gente. Contextualizando o aforismo para a nossa brasiliana realidade, em que tristemente sabemos que mais de 70% da população são analfabetos funcionais, há que se reconhecer que "o pior governo é o que menos governa".

O fato é que a desobediência civil - gosto do termo - é um direito de Exceção, que trata de um meio para garantir outros direitos básicos. Sei que é uma senhora tarefa tornar senso comum o fato de que a floresta destruída é a mesma que dá e garante a vida.

A lei, no caso, tem que ser uma aliada, e não excepcionada em nome da sobrevivência de um e outro, outros e uns. É questão maior, coletiva. Universal.

Eu prefiro apostar que nesse Acre que eu já amo tanto, sobreleve o espírito de florestania que vi adejar aí, às vezes timidamente, mas vivo, promissor e benfazejo como verde brotação. A opção pelo verde é opção pela vida.

O escritor mineiro Juarez Nogueira, que mora em Divinópolis, é um apaixonado pelo Acre. O texto acima foi deixado como comentário ao post "Apocalipse ou moratória".

Nenhum comentário: