domingo, 4 de dezembro de 2005

MÍDIAS AMBIENTAIS

POR QUE FINANCIÁ-LAS?

Por Amyra El Khalili (*)


Quem atua no mercado financeiro costuma ouvir aquela afirmação:

- O mercado sobe no boato e cai no fato.

Se alguém me perguntasse "como você conseguiu saber que o petróleo teria suas cotações disparadas, com altas sucessivas até atingir a maior marca dos últimos 20 anos?", responderia: mídias ambientais.

Já tinha gritado que a U$ 26,00 o barril, era para entrar comprando e que abaixo de U$ 34,00 o mercado nunca mais retornaria. Disse isso num evento em Brasília sobre mudanças climáticas e por isso fui ridicularizada. Como não opero mais commodities convencionais por questões de princípios, fiquei só observando quando o mercado de petróleo virou na cara de todos e começou a subir, subir, subir.

Neste caso, não era boato não. Era guerra mesmo, conflitos e a tão propalada invasão no Iraque. Mas antes disso tudo, quando gritei em alto e bom som, nem se cogitava 2a Intifada Palestina, 11 de Setembro, ou quaisquer um desses fatos.

Depois de anos analisando os mercados de capitais, balanços de empresas, conjunturas econômicas, comércio exterior, política internacional, índices e cotações, o que se lê no jornal diário já não convence mais. É certo que todo analista um dia se cansa. Descobre que a notícia de hoje foi o boato de ontem. E não tem mais confiança nos dados com os mesmos subsídios para tomadas de decisões.

Quando a Internet não existia, operávamos com o sistema viva voz, cotações online de sinais por satélite. No traquejo do vai e vem das bolsas, acompanhávamos informações instantâneas calculando com a cabeça na velocidade do computador. A matemática é apenas a constatação das nossas avaliações e a execução da ordem de compra e venda nos pregões, o resultado da confiança dos investidores em nós depositada. Estas variáveis todas juntas formam o preço.

Hoje a moçada recém formada sai da faculdade com um laptop cheia de programas e softwares com "enes" calculadoras e mal consegue entender o que água tem a ver com floresta. Essa turminha não lê, não se informa e fica à deriva da mídia convencional, esperando o boato para fazer dele um fato, para o azar dos investidores e players.

As mãos invisíveis do mercado
Se você olha essa mídia ambiental como gritona, que só sabe denunciar e reclamar, pode ir mudando de idéia. Os melhores negócios e investimentos têm sido apontados por esta mídia, que tem o olhar sobre os fatos. A cada dia nascem mais e mais jornais de bairros, rádios comunitárias, blogs, sites, boletins, livros, revistas, vídeos que se incorporam às redes de comunicação na internet. A internet é o palco de transformação da mídia convencional que acaba por se nutrir nas informações produzidas pelas mídias ambientais. Buscam informação de ponta que circula em redes.

Não espere que esta informação vá aparecer no balanço da empresa que se apresenta para captar dividendos com suas ações nas bolsas. É evidente que ela não apresentará seus passivos, suas deficiências, nem tampouco seus processos. Mas se você acompanhar as mídias ambientais, descobrirá se o setor de investimentos é ou não o mais apetitoso. Apesar destas mídias excomungarem palavras chaves, como mercado, commodities, bolsas, economistas, são o melhor e mais transparente indicador econômico que você poderá ter. Ninguém mais do que as mídias ambientais apontam onde dá lucro, por mais contraditório que seja. Ou, pelo menos, onde você poderá ter um belo prejuízo.

Quem não deve não teme

Mídias ambientais não vendem opinião, vendem espaço. Se seu negócio é bom, que seja para todos, incluindo seus investidores e parceiros. Porque negócio bom para um só, não é negócio, mas manipulação. Alguém vai quebrar ou ficará sem "mercado".

As questões ambientais fazem parte da rotina de cada cidadão. Os jovens nas escolas querem saber o que é transgenia, biotecnologia, entender os debates e as denúncias que circulam na Internet. Se antes seus universos eram restritos a televisão, escola e amigos, hoje acessam a Internet, navegam em sites, procuram blogs, abrem comunidades no Orkut.

A dona de casa quer entender por que aquele furacão com um simpático nome feminino destruiu a cidade do jazz nos EUA. Ela provavelmente nunca virá o lado pobre da grande nação Big Brother. O taxista quer compreender o que foi essa tal de "tsunami", e por que o padre fez greve de fome pelo Rio São Francisco, ou por que o jornalista Franselmo se imolou num protesto ambientalista. Minha mãe me pergunta por que a Amazônia está secando.

Os protestos ganham espaço na mídia e avançam sobre os olhares dos comuns. Não dá para ficar indiferente a esta realidade, ainda mais com a cobertura online das mídias ambientais.

Estas mídias estão atuando com suas ‘mãos invisíveis do mercado’. São ignoradas pelos grandes agentes financeiros, temida por muitos empresários, tratada pela conveniência dos governos e subestimada pelo poder das mídias convencionais, que insistem em fazer de seus veículos a máxima da cartelização da informação, tendenciosa e concentradora para fomentar o boato. Enquanto isso, as empresas anunciam nos mesmos veículos de sempre e gastam fortunas para terem suas marcas reconhecidas por sua "eminência parda, o mercado", que somos todos nós, os consumidores.

E assim, as cotações das bolsas vão subindo, subindo, subindo no boato e o mercado financeiro se esvaziando, esvaziando no fato. Me engana que eu gosto. A questão é saber por quanto tempo os analistas sustentarão a enganação, traduzida em preço e prejuízos consideráveis. Não diga que a culpa é da política econômica, porque até isso as mídias ambientais apontaram há tempo com as contradições entre os ministérios e ministros. Foi você, meu amigo, que não viu, digo, não leu nas mídias ambientais.

Os analistas do mercado de capitais, brokers, traders competentes e veteranos se converteram em ambientalistas pela lógica da inteligência, pois se cansaram de serem enganados. Hoje querem se nutrir desta mídia que aponta os fatos, doa a quem doer. Estes analistas aprenderam a respeitar estas "mãos invisíveis" e não subestimar o poder de "sua eminência parda, o mercado".

Colega, agora analise bem, faça suas continhas, consulte seus gráficos, acesse seus programas e me responda: Mídias ambientais: Por que alguém deveria financiá-las?

(*) Amyra El Khalili é economista, idealizadora e fundadora do Projeto BECE (sigla em inglês) - Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais, com duas décadas de experiência nos Mercados Futuros e de Capitais. É do Conselho Editorial do Jornal do Meio Ambiente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Torna-se fundamental multiplicar esta reflexão, para que haja uma mobilização visando valorizar os investimentos na mídia ambiental , proporcionando a todos, principalmente aos que se dedicam a ela,a intenção de se engajar cada vez`mais na busca da formação de uma nova mentalidade, transmitindo informações atualizadas e comprometidas com a preservação do meio ambiente, colocando-a como uma prioridade para quem deseja investir no presente , mas projetando um futuro com muito mais qualidade de vida.

Anônimo disse...

No meu ponto de vista o que importa é que ainda hoje sobrevivem os jornais escritos, existem espaços para as letras e ainda sobrevivem empresas jornalisticas que empregam muitas pessoas. Nem todos tem acesso ao meio de comunicação da moda, internet, e, talvez nem todos tem acesso aos jornais diários no interior do Estado. Há espaço para todos e há espaço para popularizar os jornais: por exemplo nas escolas nas bibliotecas diariamente receberem o noticiário do dia.