quarta-feira, 9 de novembro de 2005

MERCADO FLORESTA



Dívida vira investimento no Acre

O governador Jorge Viana visitou ontem a feira Mercado Floresta, onde anunciou o programa piloto de conversão de dívida externa em investimentos no Acre. A proposta foi aprovada pelo ministro da Fazenda Antônio Palocci e será apresentada ao Tesouro dos EUA nos próximos dias, em Washington. A iniciativa pioneira pode abrir espaço para que outros estados brasileiros utilizem o mecanismo norte-americano de conversão de dívidas para conseguir recursos. Viana acredita que em três meses o acordo estará assinado e os recursos para conservação de parques estaduais, proteção de populações indígenas e capacitação em manejo florestal sejam liberados. A proposta é aplicar 15 milhões de dólares da dívida nestas áreas nos próximos dez anos.

O governador afirmou que houve um avanço muito grande na qualidade dos produtos florestais amazônicos. Para ele, atualmente "de uma ponta à outra da Amazônia nós temos produtos de boa qualidade, um potencial de mercado, de negócios, fundamentais e acho que a instituições públicas têm que acreditar nisso"

Viana também comentou a ação repressora do governo do Acre em relação às atividades madeireiras ilegais no estado. No início da semana foram cancelados dez planos de manejo e fechadas oito serrarias - o governo também prepara um pacote de medidas para controlar a atividade madeireira no estado. "Prendendo, fechando, trancando. Vamos ser os mais radicais combatentes da ilegalidade, da exploração de ATPF(Autorização para Transporte de Produtos Florestais), a maldita moeda paralela."

Leia abaixo trechos da entrevista concedida ao Amazonia.org.br:

O senhor pode explicar como é o projeto piloto de conversão da dívida em investimentos no estado do Acre?
O ministro Palocci fez uma carta a pedido do governo do Acre, acho que a primeira feita ao Tesouro americano, concordando que a gente inicie a primeira experiência de conversão de dívida através de um projeto piloto no estado. Estamos pensando em algo em torno de 15 milhões de dólares para investir nos próximos dez anos nas áreas de apoio as populações indígenas, de proteção às unidades de conservação e preservação e capacitação de pessoas em manejo florestal.

E qual a possibilidade deste projeto ser aceito pelos americanos?
A dificuldade maior estava do lado brasileiro, o tesouro americano sempre quis, sempre esteve interessado. As regras do projeto americano de conversão de dívidas eram muito ruins alguns anos atrás, agora mudaram, melhorou muito. Nós estamos sendo pioneiros, eu acredito que nós próximos três, quatro meses no máximo, devemos estar assinando e pondo em prática este projeto. O ministro Palocci encampou a idéia - eu acho que é uma atitude muita positiva dele de fazer que a gente tenha a primeira conversão de dívida que possa servir de exemplo e quem sabe virar um referência para que outras aconteçam.

Antes de Washington, o senhor irá para o Japão e Europa. Qual o objetivo destas viagens?
Estou indo ao Japão levar o certificado do FSC da primeira floresta pública no Brasil, a Floresta Estadual do Antimary no Acre. Ao mesmo tempo irei organizar a implementação de um projeto de transformar esta mesma floresta estadual - que está em exploração - em um espaço de capacitação e treinamento em manejo. Estarei também em Londres fazendo o lançamento de produtos certificados do Acre, compensados e outros produtos junto com empresas do Acre e empresas que atuam na Europa. Depois irei à Washington.

Em relação a ações de monitoramento e controle, o que o governo do Acre tem feito para combater o desmatamento ilegal?
Ontem nós fechamos oito serrarias, cancelamos dez planos de manejo, criamos uma delegacia de crimes ambientais e amanhã criaremos uma pauta de imposto pesado para não sair mais prancha do Acre. Também criaremos um mecanismo que praticamente proíbe a instalação de serrarias no estado. Serraria estamos fora, prancha estamos fora. Prendendo, fechando, trancando. Vamos ser os mais radicais combatentes da ilegalidade, da exploração de ATPF, a maldita moeda paralela. Estamos há quatro meses preparando esta operação. O maior e melhor negócio nosso é a floresta.

O que o senhor está achando da feira de negócios Mercado Floresta?
Eu acho que é um grande encontro de algo que tem potencial enorme de crescer, que são os negócios sustentáveis. Eu vi ali no estande do Instituto Socioambiental uma frase muito interessante, fala mais ou menos assim: o mercado não resolve, mas dá uma mão danada. O Mercado Floresta está dando uma mão danada para que a gente possa salvar a floresta, para que a gente possa encontrar uma maneira de conviver com a área ambiental de forma mais adequada.

O que mais chamou sua atenção nos cerca de 200 empreendimentos que estão aqui na feira?
A qualidade dos produtos. Eu acho que avançamos muito, hoje não se trata de um mercado alternativo, que mesmo tendo um problema ou outro no produto a pessoa compra para ser solidária. O que eu não posso deixar de falar como governador de um dos estados da Amazônia é que da foz à cabeceira do rio Amazonas, ou seja, de uma ponta à outra da Amazônia nós temos produtos de boa qualidade, um potencial de mercado, de negócios, fundamentais e acho que a instituições públicas têm que acreditar nisso.

Fonte: Amazonia.org

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