quinta-feira, 15 de setembro de 2005

ADEUS COPAÍBA!

Elson Martins (*)

Duas manchetes estampadas hoje em jornais de Rio Branco chamaram minha atenção. Uma delas, que tem como título “Indústria de laminados gera mais de 500 empregos no Acre”, ocupa seis colunas padrão do jornal A Gazeta, na capa, encimando a foto que mostra o governador e empresários desatando a fita inaugural da nova indústria.

A segunda manchete, “Riquezas Amazônicas”, está estampada na contra-capa do jornal Página 20 e anuncia o “workshop” que discute experiências e tendência da produção sustentável do óleo de copaíba.

Emprego e sustentabilidade amazônica? Que bom!- pensei, com a impressão do leitor que se contenta com o título e mais um ou dois parágrafos da matéria - sobretudo o primeiro que procura sintetizar em 4 a 5 linhas todo seu conteúdo - chamado nas redações de “lead’.

O “workshop” promovido pela internacional WWF em sua versão Brasil e mais a Cooperacre e Funtac (Fundação de Tecnologia do Acre), reúne 24 produtores comunitários de óleo de copaiba do Acre e Rondônia, além da empresa Croda, do Rio de Janeiro, certamente interessada no produto.

Durante dois dias os participantes deverão “trocar experiências e nivelar informações sobre as técnicas de manejo sustentável e seus resultados em campo, o controle de qualidade do óleo no campo e na indústria, e as condições e tendências do mercado, principalmente com relação ao uso, demanda e preço”.

O jornal acrescenta que este ano já foi comercializado uma tonelada de óleo de copaíba oriunda de áreas de manejos comunitários no Acre.

Esse sucesso foi previsto num alentado estudo feito em fevereiro de 2001 pelo Governo da Floresta, com apoio do Ministério do Meio Ambiente. Consta do relatório “Diagnóstico e Prospecção de Mercados para Produtos Fitoterápicos do Acre”, que destaca a importância crescente da copaíba no mercado nacional e internacional:

“O aproveitamento da copaíba – registra o documento - direciona-se à extração do óleo medicinal, que é obtido principalmente do tronco da árvore, mas também pode ser extraído da casca, sementes e frutos. Em termos industriais, esse óleo pode ser utilizado como matéria-prima para a fabricação de vernizes, lacas, tintas, como fixador de perfume e na fabricação de papel e filmes fotográficos. Como óleo medicinal é indicado como anti-inflamatório, cicatrizante e anticancerígeno (Sebrae, 1998). Existem evidências de que o óleo tem grande eficiência na cura de herpes, pelo seu intenso poder cicatrizante. No Acre também tem sido comum o uso do óleo para o tratamento de feridas no gado e em cavalos”.

O poder do óleo extraído com uma simples furada com arco de pua da árvore copaifera spp (nome científico da espécie) e que é encontrado nas farmácias e drogarias do mundo em uma centena de produtos industriais - medicinais ou não- é bastante conhecido nos estados do Amazonas, Pará e Amapá, que produzem pomadas e ungüentos largamente utilizados pelas famílias da região.

A contradição, entretanto, aparece na declaração do diretor da indústria de laminados Triunfo, Jandir Santin, quando ele informa à A Gazeta (página 5, num boxe da reportagem), a decisão de comprar madeiras de áreas de manejo comunitário – como os assentamentos Extrativistas São Luiz do Remanso e Equador, e a Reserva Extrativista Cachoeira – citando as espécies de interesse: samauma, copaíba e guaribeira, para a primeira fase de funcionamento da indústria, com produção de 2.500 mil metros cúbicos de laminado.

A samaúma é a mais gigantesca e colossal árvore da região, diante da qual os turistas ficam boquiabertos, deslumbrados e espantados. Imagino que a guaribeira, pelo nome, não fica muito atrás enquanto a copaíba representa o que vimos acima e muito mais.

O fato é que as três espécies estão sendo cortadas pelas madeireiras locais para produção de tábuas para caixilho – utilização menos nobre na construção civil – e agora vão virar lâminas, até desaparecerem definitivamente da paisagem amazônica.

(*) Jornalista

4 comentários:

Anônimo disse...

Elson: Recebih, por gentileza de amigo a Revista do Juruá com o artigo o artigo "o Juruá Revisitado". Grato. Quanto à Copaíba, pior do que caixilho é tábuas para caixaria para concreto - usa uma vez e joga fora.
O Dr. Foster Brown PZ/UFACé uma boa fonte de consulta sobre a coleta de óleo de copaíba, usando baixa tecnologia, com bom resultado. Pesquisas desenvolvidas na UFAC que são aplicadas como Políticas Públicas pelo Governo da Floresta. O seu artigo é a constatação da contradição. Copaíba é sinônimo de óleo, não de tábua.

Anônimo disse...

Elson, entendo sua tristeza. Copaíba e Andiroba deveriam ser espécies proibidas para fins que não aqueles que as mantém em pé.

Evandro Ferreira disse...

Altino,
Copaiba tem que ser alçada à mesma categoria da Castanheira. Manejo sustentável é uma coisa que ainda precisa ser provada cientificamente(veja nota em meu blog experimental http://ambienteacreano.blogspot.com).
A sanha dos madeireiros (e dos vendedores - comunidades extrativistas)de tirar tudo que der ainda var resultar no que convencionamos chamar de "floresta sileciosa".
Evandro

Alfredo disse...

Sr. Altino:
Eu e minha esposa nos dedicamos a marcenaria moderada. Ficamos apaixonados pelos laminados de copaíba e, agora lendo seu Blog, descarto a beleza das formas em meus cachepos. Nada é mais belo do que a natureza insiste em continuar mostrando. Obrigado Alfredo.