domingo, 7 de novembro de 2004

MORTES NA TRIBO


Governador Jorge Viana ouviu seringueiros e índios do rio Gregório

Lideranças do povo yawanawá me enviaram ontem, do município de Tarauacá, documento no qual denunciam as precárias condições de saúde que culminaram com mortes decorrentes de diarréia e vômito na terra indígena do rio Gregório, nas aldeias Esperança, Mutum, Escondido e Tibúrcio.

“Esperamos que o Governo da Floresta leve a sério seus compromissos e nos trate com a mesma seriedade com que tem sido tratado pelo povo Yawanawá”, exige o documento, assinado pela Organização de Agricultores e Extrativistas Yawanawá do Rio Gregório e pela Cooperativa Agroextrativista Yawanawá.

Os índios dizem que estão morrendo porque o governador Jorge Viana não estaria ciente dos fatos. “O governador é um aliado e amigo do povo Yawanawá. Esperamos que, através dos meios de comunicação, possamos enviar nossa mensagem até a ele”.

“Todas as nossas tentativas de chegar até ao governador do Acre têm sido em vão. Parece mais fácil falar com Ossama Bin Laden, George W. Bush, Fidel Castrou ou Bill Gattes do que falar com o governador Jorge Viana”, afirmam as lideranças do povo yawanawá.

“Diante de toda essa situação que estamos vivendo, não vamos ficar calados e deixar que o nosso povo morra à míngua. Vamos contatar com todos nossos parceiros para tirar nosso povo desta situação”.

Os índios prometem denunciar, ainda, dentro e fora do país, a “humilhação” a que se dizem submetidos. “Se possível, vamos até à ONU denunciar a situação de saúde do povo Yawanawá, da situação da saúde indígena do Brasil, do descaso do governo brasileiro com a questão indígena brasileira, a começar pelo Acre”.

Leia a íntegra do documento:

POVO YAWANAWÁ ENTRE A VIDA E A MORTE

Desde o dia 2 de novembro, o povo Yawanawá está sendo duramente castigado por uma epidemia cujos sintomas são diarréia e vômito.

O primeiro caso surgiu quando alguém contraiu a doença e minutos depois já se encontrava em estado muito grave, despertando a preocupação de todos da comunidade.

Como ninguém pode ser tratado na aldeia por falta de medicamento, o doente teve que ser removido às pressas para a cidade de Tarauacá.

Tudo começa com uma forte náusea, a pessoa perde o apetite e começa a sofrer forte diarréia, sem parar. Quando o vômito e a diarréia se juntam, a pessoa começa a ter contrações musculares (câimbra), ficando completamente desidratada rapidamente.

A comunidade não possui nenhum tipo de medicamento na aldeia. Esses problemas poderiam ser evitados caso as equipes de saúde da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), que visitam a aldeia esporadicamente, deixassem medicamentos básicos indicados para este tipo de situação.

Os próprios agentes de saúde Yawanawá poderiam controlar a situação se contassem com os medicamentos necessários. Atualmente, o pequeno posto de saúde Yawanawá, está sem qualquer tipo de medicamentos para atender as necessidades básicas da aldeia.

Além de não abastecer o posto, faz muito tempo que a FUNASA não promove treinamentos para a capacitação dos agentes, deixando a comunidade completamente vulnerável a qualquer tipo de doença.

DRAMA - Logo que esse problema surgiu, o agente de saúde Antonio Luís Yawanawá comunicou a FUNASA, em Rio Branco, através de radiofonia. Ele falou com uma pessoa que se identificou como Aildo, que disse ser o novo responsável pela saúde indígena.

Na ocasião, o agente de saúde solicitou, em caráter emergencial, uma equipe de saúde para a terra indígena do rio Gregório, para fazer os primeiros atendimentos, pois não existe a mínima estrutura para atender a comunidade.

O funcionário da FUNASA prometeu enviar uma equipe de saúde para a comunidade, porém alegou que fora comunicado pelo sr. Valdesmar, do pólo base de Tarauacá, que há poucos dias uma equipe retornara da aldeia após deixar “muitos medicamentos” na comunidade.

A título de informação e esclarecimento: a equipe de saúde esteve sim na comunidade, mas o único medicamento que deixou na aldeia foram 10 pacotes de soro oral e 10 ampolas de Plasil injetável.

A cada novo caso da doença que surgia na aldeia, o agente de saúde Yawanawá solicitava urgência quanto à presença da equipe de saúde na aldeia.

Infelizmente, devido aos inúmeros processos burocráticos, somente sexta-feira 5, uma equipe se movia lentamente para a aldeia.

CRIANÇA MORRE - O retardamento da ida da equipe de saúde para a aldeia, deixou a comunidade em pânico. Num desespero de salvar vidas, alguns pacientes tiveram que ser removidos em barcos, navegando por toda noite. Enquanto isso, na aldeia, a cada hora ia surgindo novos casos.

Como conseqüência do descaso com a saúde do povo Yawanawá, uma criança de um ano de idade faleceu as 4h50 da manhã deste sábado 6, no Hospital Sansão Ribeiro, de Tarauacá, e mais quatro pessoas se encontram internadas sob observação médica e mais duas pessoas estão sendo levadas para Tarauacá.

O problema de saúde causado pela diarréia e vômito não é novidade na aldeia Yawanawá. Em novembro de 1998 surgiu a primeira epidemia, que resultou na morte de um jovem de 18 anos de idade.

Os Yawanawá desde então têm convivido com essa situação, que começa com as primeiras chuvas de inverno no mês novembro. A situação se agrava em janeiro.

Nesse ano, de janeiro a junho, sete Yawanawá e mais dois Katukina contraíram a doença. Alguns destes pacientes foram salvos graças aos vôos emergenciais solicitados pelos agentes de saúde para remoção dos mesmos para a cidade de Tarauacá, onde ficaram hospitalizados por vários dias.

Fruto de uma parceria entre a Organização Yawanawá e a empresa norte Americana Aveda Corporation, no ano de 2003, a comunidade recebeu uma doação no valor de U$ 5 mil para construção de poços artesianos para as quatro comunidades, para as que as pessoas tenham água potável e saudável e evitem problemas de saúde.

PROMESSAS - Durante o Festival Yawa de 2003, tivemos a presença ilustre do governador Jorge Viana e do então coordenador da FUNASA, o atual vice-prefeito eleito de Rio Branco, Eduardo Farias. Naquela ocasião, o povo Yawanawá fez exposição de algumas necessidades enfrentadas no seu dia-a-dia.

Entre essas necessidades estava a questão da água, quando deixamos bem claro que, para aquele problema específico, a organização Yawanawá já possuía recursos próprios para a construção dos poços artesianos.

Após ouvir a comunidade, o governo se comprometeu a apoiar a construção de um sistema de tratamento de água para as quatro comunidades Yawanawá.

Diante deste compromisso, assegurado pelo governador Jorge Viana, diante das lideranças Yawanawá, sugerimos utilizar o recurso disponível para a compra de barcos e motores para a comunidade, que estava passando por dificuldade por falta de transporte fluvial naquele momento. Eles concordaram e asseguraram que a obra começaria até o final daquele ano.

Seguro de que até o final daquele mesmo ano iríamos ter água tratada na comunidade, seguimos em frente com nossos projetos. Porém, a promessa das duas autoridades nunca se cumpriu.

Por diversas vezes a Organização Yawanawá procurou o coordenador da FUNASA, que mudava a data para começar o projeto, sendo que muitas vezes alegou que algumas construções iriam começar no verão e outras no inverno.

No ultimo contato que mantivemos com a FUNASA sobre o tema, fomos encaminhados para falar com o pessoal Departamento de Água e Saneamento do Acre (DEAS), que nos informaram estar cientes do assunto, que tudo começaria até meado deste ano.

Concretamente nada aconteceu. Enquanto isso, perdemos vidas por causa de um problema que parece ser tão simples e fácil de ser resolvido.

RESPEITO - Esperamos que o Governo da Floresta leve a sério seus compromissos e assim nos trate com a mesma seriedade com que tem sido tratado pelo povo Yawanawá.

Entendemos que toda essa situação ocorre porque o próprio governador Jorge Viana não está a par dos fatos. O governador é um aliado e amigo do povo Yawanawá. Esperamos que através dos meios de comunicação possamos enviar nossa mensagem até a ele.

Todas as nossas tentativas de chegar até ao governador do Acre têm sido em vão. Parece mais fácil falar com Ossama Bin Laden, George W. Bush, Fidel Castrou ou Bill Gattes do que falar com o governador Jorge Viana.

Diante de toda essa situação que estamos vivendo, não vamos ficar calados e deixar que o nosso povo morra à míngua. Vamos contatar com todos nossos parceiros para tirar nosso povo desta situação.

Vamos denunciar, ainda, dentro e fora do país, a humilhação a que nosso povo está sendo submetido.

Se possível, vamos até à ONU denunciar a situação de saúde do povo Yawanawá, da situação da saúde indígena do Brasil, do descaso do governo brasileiro com a questão indígena brasileira, a começar pelo Acre.

Atenciosamente

Agricultores e Extrativistas Yawanawá do Rio Grgório

Cooperativa Agroextrativista Yawanawá

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