POR GABRIEL SANTOS
Tenho
acompanhado com certa preocupação, o lobby que o deputado federal
Márcio Bittar (PSDB-AC) tem feito em favor da exploração de gás de xisto
na Bacia Acre-Madre de Dios, que será licitada no fim deste mês.
O
deputado apresentou o gás de xisto como uma verdadeira salvação para os
problemas sociais e econômicos do Estado e, para isso, cita o
verdadeiro alavancamento econômico que a comercialização do gás tem
feito nos EUA, além de acusar de ambientalistas alarmistas, aqueles que veem com ressalvas as
explorações.
Infelizmente,
nós não estamos no deserto do Texas, onde a legislação é forte, a
fiscalização é cabal e a propriedade privada é sagrada. Estamos no Acre,
no meio da Floresta Amazônica, cercados por águas - superficiais e
subterrâneas -, mato, bichos, populações indígenas e ribeirinhas.
Segundo
a Revista Galileu, o gás de xisto é, basicamente, “metano preso numa
camada profunda de rochas’’. Que para extraí-lo, as petroleiras lançam
mão de um processo controverso, o fraturamento hidráulico, que usa muita
água, produtos químicos e detonações subterrâneas. Esse procedimento,
pode causar lesões gravíssimas ao meio ambiente, como a contaminação de
grandes lençóis freáticos. Esse risco, fez com que países como a França,
proibisse o procedimento, e Holanda declarasse moratória à exploração.
A
rápida movimentação política em torno do tema no Brasil, sem maiores
avaliações, fez com que a Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência e a Academia Brasileira de Ciências pedisse a suspensão
temporária do leilão.
Por isso, caro deputado, a
questão não é tão simplista como o senhor propõe. Além disso, não são
meros “ambientalistas alarmistas’’ que estão preocupados com o tema, a
sociedade científica de um modo geral, demonstra receio.
Além
do embate acerca dos impactos sócio-ambientais, discute-se que ganhos
são este para o Acre que poderiam levar todos nós a assumirmos este
risco.
Como pretenso candidato ao governo do Estado,
tem-se que mudar o discurso predatório, deputado, que é muito visível em
suas falas. O “governo da floresta” falhou ao tentar hipocritamente
introduzir uma economia sustentável no Estado, mas isso não significa
que precisamos desistir desse tipo de desenvolvimento que alia a
sustentabilidade com o progresso.
A economia do Acre
mudará quando se mudar a postura, quando se potencializar a produção do
setor rural com investimento em tecnologia para não se precisar
desmatar, a economia muda quando a educação básica e profissional for
acessível e possuir o mínimo de qualidade para todos, muda-se a
realidade econômica de um Estado não apostando as fichas em apenas um
modo de se desenvolver e demonizando os demais, tratando tudo da maneira
politiqueira que se tem costume por aqui.
Não
precisa-se fazer também, uma tentativa que é muito conhecida nessas
bandas, de desqualificar o interlocutor para poder sair vitorioso no
debate.
Menos certezas, mais dúvidas, menos pontos
finais, mais interrogações. A sociedade anseia por mudanças de postura,
éticas e de gestão, portanto, cabe àqueles que pretendem gerir, se
adaptar a esse novo panorama.
Gabriel Santos é acadêmico de direito no Acre
Destaque para mensgem do professor Oswaldo Sevá:
"Olá Altino.
Espero que estejas bem, e os teus também. Continuo leitor frequente dos teus blogs e me deparei com um texto do deputado Marcio Bittar azeitando a chegada do "fracking"para extrair gás de xisto, falando em alarmismo, ignorância etc., e por outro lado, acreditando nas propagandas da oil industry. Há poucos dias o Correio da Cidadania postou um artigo com um teor bem distinto, relatando com detalhes como é feita a tal perfuração hidráulica e os problemas e conflitos que vem ocorrendo nos EUA e outros países. O Correio mexeu no titulo e colocou uns intertítulos que eu não colocaria. Assim, se você achar oportuno, prefiro que reedite o meu original que tem uma ilustração a mais, e publique.
Abração
Oswaldo Sevá"
Leia artigo de Oswaldo Sevá:
Indústria do Gás de Xisto é nova frente de riscos exploratórios e conflitos
2 comentários:
Bem que o Aníbal Diniz poderia usar um fianqueto desses. Mas ele não sabe!
Congratulações sr. Gabriel.
Nessas horas que falta à UFAC ter bons cursos tecnológicos. Não formamos geólogos nem engenheiros de minas para estudar, conhecer e prospectar nosso subsolo. Não formamos cartógrafos nem agrimensores para mapear e documentar nossas terras e suas riquezas.
Pessoalmente creio que a extração dos hidrocarbonetos da camada de xisto é coisa irreversível. Vetar isso é dar murros em ponta de faca. O que precisamos é garantir a visibilidade e o controle sobre os processos, formar bons profissionais e aparelhar (com técnicos e não com correligionários) os centros de fiscalização e pesquisa.
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