sábado, 23 de novembro de 2013

Exploração de gás de xisto no Acre não é bem assim, deputado Marcio Bittar

POR GABRIEL SANTOS

Tenho acompanhado com certa preocupação, o lobby que o deputado federal Márcio Bittar (PSDB-AC) tem feito em favor da exploração de gás de xisto na Bacia Acre-Madre de Dios, que será licitada no fim deste mês.

O deputado apresentou o gás de xisto como uma verdadeira salvação para os problemas sociais e econômicos do Estado e, para isso, cita o verdadeiro alavancamento econômico que a comercialização do gás tem feito nos EUA, além de acusar de ambientalistas alarmistas, aqueles que veem com ressalvas as explorações.

Infelizmente, nós não estamos no deserto do Texas, onde a legislação é forte, a fiscalização é cabal e a propriedade privada é sagrada. Estamos no Acre, no meio da Floresta Amazônica, cercados por águas - superficiais e subterrâneas -, mato, bichos, populações indígenas e ribeirinhas.

Segundo a Revista Galileu, o gás de xisto é, basicamente, “metano preso numa camada profunda de rochas’’. Que para extraí-lo, as petroleiras lançam mão de um processo controverso, o fraturamento hidráulico, que usa muita água, produtos químicos e detonações subterrâneas. Esse procedimento, pode causar lesões gravíssimas ao meio ambiente, como a contaminação de grandes lençóis freáticos. Esse risco, fez com que países como a França, proibisse o procedimento, e Holanda declarasse moratória à exploração.

A rápida movimentação política em torno do tema no Brasil, sem maiores avaliações, fez com que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a Academia Brasileira de Ciências pedisse a suspensão temporária do leilão.

Por isso, caro deputado, a questão não é tão simplista como o senhor propõe. Além disso, não são meros “ambientalistas alarmistas’’ que estão preocupados com o tema, a sociedade científica de um modo geral, demonstra receio.

Além do embate acerca dos impactos sócio-ambientais, discute-se que ganhos são este para o Acre que poderiam levar todos nós a assumirmos este risco.

Como pretenso candidato ao governo do Estado, tem-se que mudar o discurso predatório, deputado, que é muito visível em suas falas. O “governo da floresta” falhou ao tentar hipocritamente introduzir uma economia sustentável no Estado, mas isso não significa que precisamos desistir desse tipo de desenvolvimento que alia a sustentabilidade com o progresso.

A economia do Acre mudará quando se mudar a postura, quando se potencializar a produção do setor rural com investimento em tecnologia para não se precisar desmatar, a economia muda quando a educação básica e profissional for acessível e possuir o mínimo de qualidade para todos, muda-se a realidade econômica de um Estado não apostando as fichas em apenas um modo de se desenvolver e demonizando os demais, tratando tudo da maneira politiqueira que se tem costume por aqui.

Não precisa-se fazer também, uma tentativa que é muito conhecida nessas bandas, de desqualificar o interlocutor para poder sair vitorioso no debate.

Menos certezas, mais dúvidas, menos pontos finais, mais interrogações. A sociedade anseia por mudanças de postura, éticas e de gestão, portanto, cabe àqueles que pretendem gerir, se adaptar a esse novo panorama.

Gabriel Santos é acadêmico de direito no Acre

Destaque para mensgem do professor Oswaldo Sevá:

"Olá Altino.

Espero que estejas bem, e os teus também.  Continuo leitor frequente dos teus blogs e me deparei com um texto do deputado Marcio Bittar azeitando a chegada do "fracking"para extrair gás de xisto, falando em alarmismo, ignorância etc., e por outro lado, acreditando nas propagandas da oil industry.  Há poucos dias o Correio da Cidadania postou um artigo com um teor bem distinto, relatando com detalhes como é feita a tal perfuração hidráulica e os problemas e conflitos que vem ocorrendo nos EUA e outros países. O Correio mexeu no titulo e colocou uns intertítulos que eu não colocaria. Assim, se você achar oportuno, prefiro que reedite o meu original que tem uma ilustração a mais, e publique.

Abração

Oswaldo Sevá
"
 

Leia artigo de Oswaldo Sevá:

Indústria do Gás de Xisto é nova frente de riscos exploratórios e conflitos

2 comentários:

Altemar disse...

Bem que o Aníbal Diniz poderia usar um fianqueto desses. Mas ele não sabe!
Congratulações sr. Gabriel.

Roberto Feres disse...

Nessas horas que falta à UFAC ter bons cursos tecnológicos. Não formamos geólogos nem engenheiros de minas para estudar, conhecer e prospectar nosso subsolo. Não formamos cartógrafos nem agrimensores para mapear e documentar nossas terras e suas riquezas.
Pessoalmente creio que a extração dos hidrocarbonetos da camada de xisto é coisa irreversível. Vetar isso é dar murros em ponta de faca. O que precisamos é garantir a visibilidade e o controle sobre os processos, formar bons profissionais e aparelhar (com técnicos e não com correligionários) os centros de fiscalização e pesquisa.