quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O elogio da maledicência

POR EDILSON MARTINS

Visitando, por generosidade do Altino, - todo ser humano, por mais perverso, tem porções de Madre Teresa de Calcutá - o blog (leia) do Elson Martins, por sinal interessante, embora, bom, deixa prá lá, deparei-me com um tema muito pertinente.

Entre outras coisas, o conteúdo do texto é muito curioso, fala da prática, deliciosa e reprovável, de se falar mal dos amigos. Evidente que sobrou pra mim,  embora, não fosse eu  profundamente humilde, seria uma das almas mais generosa, tolerante e amiga que circula, passeia sua bondade, em todo o bairro do Jardim Botânico.

O texto diz que falando com os dois, separadamente, em encontros cordiais, não poupei maledicências a ambos. Claro que fazendo coro com as catilinárias de intriga tanto do Elson, quanto do Altino. Jornalista fala mal de jornalista, assim como poeta de seus parceiros, políticos, religiosos, bom, religiosos daria um Rio Amazonas.

Ninguém, honestamente, fala bem de ninguém, exceto...bom deixa pra lá. Falar mal de inimigo é prática mesquinha, exercício menor, é gastar latim atoamente, estressasse. Falar mal de inimigos nos deixa amargos, o que é péssimo.

Já falar mal de amigos é uma delícia, nos alivia a alma, um verdadeiro orgasmo espiritual. Uma catarse, no melhor sentido, possível. Até porque há muito cinismo no elogio, quase sempre. O elogio é mentiroso, não raro cínico. A maledicência construtiva.

Santo Agostinho já ensinava que preferia os amigos que o criticavam, e olha que durante muitos anos ele foi um devasso, do que aqueles que o elogiavam. Com os primeiros ele podia se transformar, crescer, com os últimos corria o risco de se prostituir.

O elogio nos leva à vaidade, pecado que o Diabo adora. Reza a lenda que o Diabo, quando tomou conhecimento das interdições propostas nos 10 mandamentos, e cochichou com um de seus discípulos. "Vou sobreviver na luta contra Deus, na conquista dos homens, no mandamento da Vaidade." Não deu outra!

E se mais não fosse esse festival de mentiras que permeia as relações sociais - na política, nas artes, nas amizades, no trabalho, e até na família, principalmente na família, talvez  -  é construído com os fios da dissimulação.

Alzira Vargas, certa feita censurou ao pai, por vê-lo concordando com as maledicências de dois grupos de políticos - PSD e PTB - cada um metendo o malho no outro. Em audiências separadas, claro.

Getúlio Vargas - um primor de  Maquiavel, de dissimulação, de ambivalências, de perversidade, que nunca perdoou ninguém  - deu uma baforada em seu charuto, olhou pra filha que ele tanta amava, e pontificou: "´ é verdade, você também tem razão".

Meus filhos costumam dizer, que quem tem um pai como eles, não precisa de inimigos. Ora bolas, mas eles são meus filhos, adoro os dois, como poupá-los?

E se mais não fosse ninguém é suficientemente amigo que não possa se transformar em inimigo, tampouco ninguém é suficiente inimigo que não se possa tornar amigo.

P.S.: O senão sobre o Blog do Elson é apenas mais uma maledicência de seu amigo querido. O blog é ótimo, e tem um papel cultural da maior importância, num país que não cultiva a memória. É leitura obrigatória pelo resgate histórico, numa cidade diferente de todo o resto da Amazônia. O acreano é um out-side amazônico, corre por fora.

Edilson Martins é jornalista e escritor acreano radicado no Rio de Janeiro

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