terça-feira, 10 de agosto de 2010

DESORIENTAÇÃO

José Augusto Fontes

Alimento básico para José, um sol ardente para Maria, a propaganda garantia


O tempo passa em procissão, mesma conversa e televisão, sermão e cantoria

Gente que promete, alguma chuva quase se intromete, toda eleição vai voltar

A imagem na janela, ano após ano, diz que vai fazer; e mente que vai resolver

É só crer, plantar a esperança, deixar entardecer, esquecer, ressuscitar e votar

Tudo quer esperar; do homem eleito, do Deus perfeito; tudo de bom acontecer

Vamos fazer a louvação, a votação, nova orientação!

Vamos pedir a comunhão, a sessão, uma revolução!

Um bom som, o arco-íris, outra introdução, a canção,

Uma dança nos ventos, a boa direção, pego na tua mão!

Uma colocação para Pedro, uma viração para João, alguém assegura

O tempo se perde em reunião, contratação, combinação, é vida escura

Gente que sente, algum grito se repete, a nomeação da desilusão é pública

Visagem na nossa tela, quem é ela, a humilhação da fome tem muitos nomes

A posse faz festa em dó, um sol nasceu parcial e menor, a dissonante complica

Esperar plantado, cantar calado, viver desafinado. Passam vidas, homens e fomes

O portal da vergonha tem muitos acessos, processos, o poder é um velho vício

Trapacear na situação é o lucro, o jogo é bruto, a sensibilidade está num invólucro

Não interessa o início, só o olhar não vê a essência, importa ganhar, é tudo comício

A utilidade do proceder perdeu-se pelo caminho, a conexão exporta o podre fruto

Mas o sonho dá vida, e a vida desenha direções paridas da dor, da cor, da emoção

O comércio negocia até valores morais, encomenda felicidades por caminho curto

É não sossegar sem modificar. Aqui está uma mão, ali, um irmão, adiante, a ilusão.

José Augusto Fontes é poeta, cronista e juiz de direito do Acre

3 comentários:

Juarez Nogueira disse...

Um dia eu disse a um aluno: como médico você será um ótimo autor.

Fátima Almeida disse...

Há quanto tempo não se fazia isso no Acre: poesia. Éramos assim. Éramos uma confraria. Agora só restou o éramos isso, éramos aquilo. Ingressei na Academia de Letras convidada por Mauro Modesto. Agora, existem eleições, fazem lobbies e não existe mais poesia que é como a brisa, livre, sentimentos que ganham asas, olhar que tateia as coisas e as traduz...

Unknown disse...

Pois é Fátima! Mas tu querias o quê? Os tempos são outros, o povo emburrecendo, twiter, msn e outros, nova escrita, e continuamos na velha máxima, dita por não sei quem, e não sei quando: "Português, não é pai, mas bate", e se for adicionado à matemática, então, é fera. Ainda ontem no SBT, uma moça muito bonita, falou alto e bom som, o filho da fulana nasceu com 49 centímetros, pesando 2 quilos e QUATROCENTAS gramas.