domingo, 11 de julho de 2010

PREVISÕES ACERTADAS

José Augusto Fontes

Previsões contidas no nosso texto aqui no blog (veja), em 22 de maio, antes do início da Copa do Mundo de Futebol de 2010, deram certo. Ali, dentre outras coisas, afirmamos que duas seleções (que nunca ganharam Copa do Mundo) eram favoritas: Espanha e Holanda. Aliás, eu disse que apostaria na Espanha e no craque Xavi, apontando também a habilidade do excelente David Villa. O texto está acessível via internet através do blog. Citei a Holanda, mencionando o craque Sneijder, junto com Robben e Vam Bommel. Elas acabaram sendo as duas seleções finalistas, premiadas em razão do melhor futebol apresentado na Copa, com alguns craques e com jogo mais vistoso, de bom toque de bola e várias jogadas trabalhadas com categoria. Por isso mesmo chegaram à final, deixando pelo caminho várias seleções de jogo feio e de esquemas que aprisionaram o futebol.

Alguém viu criatividade e qualidade no jogo do Brasil? Do mesmo modo a França, do fracassado Raymond Domeneq, inexpressivo e desqualificado, como o próprio time que dirigiu, rumo à desclassificação pueril. Ou a Itália, um time sem renovação e sem qualidade, que não honrou as suas tradições. Sobre a Inglaterra, eu me enganei. Jamais sonhei que o craque Wayne Rooney fosse ser tão apagado. Paciência, o time também não ajudou muito. Já a Alemanha surpreendeu, com bons jogos e bela renovação, como os jovens Muller e Ozil, este mencionado e destacado naquele nosso texto, por ter ganho Copa Européia sub-21. A respeito de outros jogadores famosos, também no dito texto anterior, dissemos que o Cristiano Ronaldo seria apagado, o que realmente ocorreu. Já com relação ao Messi, previmos errado. Ele, indiscutivelmente um craque, foi uma desagradável surpresa por não ter brilhado ou marcado, mas isso também aconteceu com o nosso Kaká (que também não brilhou na Copa de 2006).

Voltando aos times, a Argentina caiu do próprio salto e da incontinência de um boleiro metido a técnico, cheio de bossa e de cena, sem notar que não havia picadeiro por perto. Mais uma vez, o Maradona meteu o nariz onde não devia. Aliás, antes de querer se comparar a Pelé, o seu Armando deveria pensar em querer chegar perto do Zico (com mais que o dobro dos gols dele), ou do Ronaldo, que brilhou na Europa, na Seleção, nas Copas e ainda se destaca no Brasil; ou procurar ver jogos do Tostão e do Garrincha, que como ele, também brilharam em Copas, embora sem ficar deslumbrados nem incoerentes. O Garrincha, por exemplo, foi Bi-Campeão, sem aditivos nem histeria, deixando adversários no chão.

Sobre o fanatismo por Maradona, os próprios argentinos deveriam dar mais valor ao Mário Kempes. Ele ganhou a Copa de 1978 (junto com os generais argentinos e com um bom time), foi artilheiro do mundial, desequilibrou, e está no mesmo nível do Maradona, que também só ganhou jogando uma vez, mas parece não lembrar-se disso. Portanto, o Pelé está em outro nível. Ele ganhou três Copas, das quatro em que esteve. E sobre a quantidade de gols do Pelé, aí não há nem como comparar. Neste item, os gols do Maradona viram pó. Em resumo, o Diego foi armando e acabou driblado pelo próprio descontrole. Saiu pela linha de fundo e obteve passe livre para sair de campo.

Ali mesmo (no referido texto, publicado neste blog em 22 de maio), há críticas ao Dunga e ao tal ‘sistema defensivo’, com afirmação prévia de que o nosso constantemente zangado técnico gostava mais de defender do que de atacar. E deu no que deu. Naquelas previsões, eu escrevi que preferia o Hernanes (São Paulo) no meio-campo, o Marcelo (Real Madrid) na lateral-esquerda e o Ronaldinho (Milan) em qualquer lugar do nosso time, além dos revelados Neymar e Ganso. Como todos viram, o Dunga preferiu os fracos Michel Bastos e Felipe Melo, junto com outros jogadores dispensáveis, como Josué e Kléberson, numa obsessão por volantes e cabeças de área. Logo, a criatividade brasileira não foi à Copa e o fracasso veio a jato. Há ainda uma previsão a mencionar. Dissemos que o Dunga cairia e imaginamos o Ricardo Gomes para o lugar dele. Será que vamos acertar? Do que vejo, ele parece ter boas chances, mas a briga do São Paulo com a CBF por causa do Morumbi pode atrapalhar. Vamos esperar pra ver, enquanto também esperamos por mudanças no nosso futebol, para que ele volte a ser o melhor do mundo.

Renovação no futebol brasileiro? Teria que começar pela mentalidade. Por exemplo, substituindo o ‘esquema defensivo’ por um jogo alegre, solto, desacorrentado, como é da nossa tradição; substituindo os cabeças de área e os volantes por uma dose de talento e outra de habilidade; e substituindo os cartolas eternos e os interesses comerciais da CBF por interesses puramente futebolísticos, tendo em vista o amor do povo pelo futebol, que o brasileiro tem de sobra. Para demonstrar isso, nesta Copa eu vi mulheres (que antes não ligavam pra futebol e sequer entendiam bem a regra do impedimento) querendo saber o que é ‘chutar de três dedos’. É o não é uma paixão?

Devo dizer, porém, que o rumo ditado, muitas vezes, por outros interesses, inclusive, financeiros, mostra que o futebol não é algo assim tão sério, que é apenas mais um jogo. Mas, sendo assim, porque não pode ser alegre e vistoso, ao invés de aprisionado e amarrado? Por que, além de perder, quando temos atletas para ganhar, ainda temos que apresentar um jogo feio, advindo de uma direção equivocada e baseada em falso pressuposto? Como explicar isso para o brasileiro e como dizer para as nossas torcedoras o que é uma ‘jogada de efeito’ ou um ‘passe de letra’, se os nossos atletas estão dando carrinho, levantando grama e chamando a bola de excelência?

José Augusto Fontes é poeta, cronista e juiz de direito no Acre

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