terça-feira, 27 de abril de 2010

TIÃO VIANA


Portal Terra publicou na semana passada entrevista (leia) que fiz com o senador Tião Viana (PT-AC). Ficou longa e tivemos que suprimir cinco perguntas.

Como sempre, o senador havia me recebido muito bem e respondido a todas as perguntas sem fazer cara feia. Eu que falhei ao esquecer de perguntar a respeito do referendo popular que decidirá sobre o fuso horário do Acre. Eis as perguntas:

O que se convencionou chamar de governabilidade exige mesmo que se faça alianças tão contraditórias para a história dos partidos e dos políticos?
A disputa pela hegemonia política de um país, de um estado, envolve política de alianças. O sistema de eleição proporcional no Brasil criou distorções graves, procedimentos muito perigosos até pra formação da unidade. Quando o sistema proporcional brasileiro diz que você ao disputar uma eleição você vai competir com um quadro do seu lado, que é do seu partido, e não com os adversários, basicamente se rasga os valores ideológicos que devem fazer parte das concepções programáticas de partido. Isso é da natureza da Constituição de 89. Isso quer dizer que não se governa no Brasil sem política de alianças. Quem for com uma cor única, sem uma visão política de alianças, não vai conseguir governar. O que importa é que, na disputa pela hegemonia do projeto, você preserve os melhores valores do seu projeto para construir uma oportunidade de mudança com a sociedade. Dá para dizer que o presidente Lula é dominado pelos partidos que não tem a mesma qualidade ideológica do PT ou que têm diferença com o que o PT pregava até recentemente? Não. Eles não dominam e não têm uma influência capaz de atrasar o que o presidente Lula tem feito pelo Brasil. Criam retardos nos avanços das melhores políticas. Não se governa sem alianças, diz Iatamar Franco, Fernando Henrique. A reforma política pode corrigir isso. Ela pode dizer que, para ter uma posição programática, uma identidade partidária, é necessário ter conteúdo e compromisso ideológico. Ou seja: você tem que ter claros os caminhos que você vai apresentar para a sociedade, que você não vai confundi-los, misturando com projetos dos que serão os vencedores, mas preservar as metas e políticas de longo prazo. Isso pode mudar efetivamente a qualidade da representação política e partidária no Brasil. O debate que existe hoje entre Republicanos e Democratas, nos Estados Unidos, é um debate muito mais avançado do que ocorre hoje na democracia brasileira. Ali existe clareza ideológica.

Isso também se estende aos estados? No Acre, o PT fez alianças com gente como o ex-governador Orleir Cameli, que era acusado como exemplo do que havia de pior na política.
O PT não fez aliança com o ex-governador Orleir Cameli. Ele viveu o seu calvário na política, todas as dificuldades de governar o Estado, passou por toda a crise, o Acre vivia sem perspectiva naquele momento. O projeto da coligação Frente Popular do Acre foi vencedor e o ex-governador apoiava os adversários naquele momento. O ex-governador entendeu que a melhor perspectiva para o desenvolvimento do Acre e o melhor caminho político que se tem para o Acre é o da Frente Popular. E é por isso que ele se diz simpático e respeitoso. Isso é da natureza da política. O voto você respeita de onde ele, mas você não pode falar em aliança.

O senhor é o maior entusiasta dos estudos para prospeção e exploração de petróleo e gás no Acre. Com a descoberta do pré-sal não é conveniente um recuo dessa atividade no coração da Amazônia?
Não. O que acho que devemos ter é um inventário mineral dentro do estado do Acre. Há informações, que não correm nos corredores formais da inteligência brasileira, que temos alguns itens que precisam ser identificados na Amazônia e a região do Acre é uma região estratégica. O gás e o petróleo são derivados fósseis que têm uma participação importante na economia mundial hoje e na base de desenvolvimento de qualquer sociedade. Como nós estamos focados com uma forte influência ambiental, acho que as coisas podem estar conciliadas: o diagnóstico, o levantamento situacional, as potencialidades, os compromissos de preservação ambiental. Temos que ver se é mais interessante para nós dizer que será um item da bolsa de armazenamento de carbono ou se vamos explorar. O que importa é que o preconceito seja diminuído. Estamos sendo iluminados nessa sala por luz a partir de diesel sujo lá em Rondônia. Se nós estivéssemos usando gás natural, estaríamos emitindo 40% a menos de enxofre e outros gases poluentes. O pré-sal não vai afetar em nada o desenvolvimento estratégico do Brasil. Qualquer fazenda de gado no Acre é muito mais degradante para o meio ambiente do que uma plataforma de gás de Urucu, no Amazonas.

No Acre, antes de chegar ao poder, o PT fez campanhas contra a aposentadoria para ex-governadores. O partido hoje domina a política estadual, mas o benefício da aposentadoria aos ex-governadores permanece. O sr. é a favor ou contra esse benefício aos ex-governadores?
Esse não é um assunto simples. Fico pensando o que seria do presidente Lula se ele não tivesse o amparo da estrutura partidária nacional, de um estrutura de segurança para ele, que enfrentou cartéis e máfias, esquemas de corrupção marcantes no Brasil. Como seria para ele sobreviver com um salário de R$ 4,5 mil? Como ele viveria se não tivesse direito sequer à segurança? É o caso de um governador como o Jorge Viana, que foi ameaçado pelo esquadrão da morte e continua ameaçado, de acordo com os relatórios de inteligência. É de alto risco a situação dele dentro do Estado. Não tratamos disso publicamente e tomamos os devidos cuidados. Veja o caso de esposas de ex-governadores, que não têm qualquer fonte de renda, passariam a viver com um salário mínimo. Será que é injusto para o Estado conceder o benefício a um agente público envolvido em ações complexas, que enfrenta organizações criminosas, mas não tem direito depois a poder pagar o estudo de um filho ou não dispor de uma segurança mínima? Esse é um debate que tem que ser travado pela sociedade. No meu plano pessoal, sou professor universitário concursado afastado, sou médico do Estado. O meu salário não seria em nada incompatível com a minha condição básica de vida. Um ex-presidente dos Estados Unidos passa a ter a mesma condição de segurança do presidente a vida toda. Conheço viúvas de ex-governadores que estariam pedindo dinheiro nas esquinas se não tivessem essas pensões dos maridos.

Mas no Acre mesmo existem políticos que recebem aposentadorias como ex-senadores e ex-governadores.
Neste caso não pode. No Senado graças a Deus isso acabou. Não existe mais senador ou deputado que possa ter aposentadoria. O estado tem que ter responsabilidade com aqueles que o representam em situações complexas e adversas. Se uma pessoa tem renda compatível com as suas necessidades, não tem razão de recorrer a esse direito. Não é salário que enriquece ninguém. O que dá uma condição de vida econômica é o setor privado, a luta empresarial.

2 comentários:

Unknown disse...

Caro Altino,

Me sinto até ofendido com a resposta em relação a exploração de petróleo e gás na amazônia. A tentativa de justificar o injustificável nos dá uma impressão de muita superficialidade na análise dos fatos. Ora, dizer que "o pre-sal não vai afetar em nada o desenvolvimento estratégico do Brasil" é o mesmo que afirmar que o tal pré-sal não passa de balela.

Reunir no mesmo discurso a exploração de petróleo como resposta e como modelo de desenvolvimento sustentável, em oposição à criação de boi é o mesmo que justificar tudo pelo desenvolvimento. Aí caberá também Belo Monte e as hidrelétricas do Madeira, energia limpa... É pura megalomania.

Bom trabalho

Lindomar Padilha

lindomarpadilha.blogspot disse...

Caro Altino,

Em meu comentário anterior utilizei erroneamente o nome de endereço do Cimi AO. Gostaria de esclarecer que o teor do que nele foi expresso reflete a minha opinião pessoal e não necessariamente a opinião da entidade.

Bom trabalho.

Lindomar Padilha