sexta-feira, 30 de abril de 2010

OS ÚLTIMOS SOLDADOS DA BORRACHA

POR CÉSAR GARCIA LIMA

Encontrei José Alves Costa no balcão de seu bar na beira da rua, em Plácido de Castro. Aos 86 anos, sem camisa, ele não parece ter se esquecido de nada do que passou como soldado da borracha.

Desfia as histórias sobre a perseguição do submarino alemão ao navio em que vinha para o Acre como se tivesse acontecido ontem. Diz que tirava de 30 a 35 latas de leite (látex) por dia.

E, dedos em riste, não acredita que a aposentadoria (dois salários-mínimos, sem décimo-terceiro) vá ser equiparada a dos pracinhas (sete salários).

Quando pergunto sobre os bichos da mata nos tempos em que viveu no seringal, abre o verbo:

- Onça não faz medo, faz medo é cobra e cabra ruim.

Digamos que seu José sabe se defender.

Realizando pesquisa para um documentário, o jornalista acreano César Garcia Lima relata seus encontros com os últimos sobreviventes do esforço de guerra. Mais de 50 mil nordestinos viraram seringueiros para ajudar os países aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Leia mais no blog Soldados da Borracha.

6 comentários:

Rosangela Barros disse...

Ah, senhor José! Esta sua linda história reavivou a saudade do meu avô: sua mesma história, ele contava-me desde a minha infância até pouco antes de sua morte: ele morreu com o sonho de ser ressarcido nos seus direitos ...

Eu gostaria muito de saber do jornalista se esse navio foi aquele que permaneceu alguns dias parado no silêncio e na total escuridão para não ser detectado pelos submarinos alemãos!... Caso seja: nesse exato navio vieram meus avós que assim como o senhor José tinham pavor de cobra e cabra ruim: as cobras daquela época, eram as víboras que matavam impiedosamente com seus venenos infalíveis; os cabras ruins, eram aqueles seringalistas que impiedosamente tiraram a liberdade e a dignidade dos seringueiros, escravizando-os na total miséria que o ser humano podia suporar, porém hoje estes seres perversos ainda povoam nossa realidade com outros venenos e outras perversões...

Parabéns ao senhor José Alves pela sua viva memória, esta é uma história que somente quem a viveu jamais esquecerá!...

E parabéns também ao jornalista César Garcia pelo excelente trabalho desenvolvido!... Um bom trabalho a todos!...

Katiana Assunção disse...

Plácido de Castro, minha terrinha... e seu José, meu conterrâneo.

Deu saudade.

Cesar Garcia Lima disse...

Obrigado, Rosangela e Katiana! Obrigado também ao Altino por compartilhar o blog. O navio ficou parado algum tempo no escuro, sim, Rosangela, espero ter mais detalhes disso durante as filmagens. Essas histórias, na verdade, são o maior patrimônio dos soldados da borracha!

Rosangela Barros disse...

Somente agora estou lendo a sua resposta, senhor César Garcia, obrigada ao senhor por estar partilhando conosco este grande patrimônio que faz parte da nossa triste história... Saiba, caro senhor, foi nesse escurinho - com medo do submarino alemão - que meus avós aproveitaram para gerar minha mãe... Bem, já conheço seu blog, acompanharei de perto seu lindo trabalho... Sucesso sempre!...

Cesar Garcia Lima disse...

Rosangela: mais uma vez, obrigado! A história dos soldados da borracha precisa ser preservada e espero contribuir com isso.

Rosangela Barros disse...

Nós herdeiros dessa drástica herança, caro César, é quem agradecemos pela existência de profissionais que tratam dos fatos históricos com a sensibilidade e a preocupação com aqueles que realmente fizeram a história oficial acontecer... É bem ao contrário do que se ler de costume, principalmente, pelos historiadores que se apropriam do conhecimento em beneficio próprio ou simplesmente para satisfazer o sistema vigente!...

O que percebemos no seu trabalho é a fidedignidade nos relatos dos fatos realmente ocorridos e sentidos pela ótica daqueles que foram testemunha ocular da trágica História Oficial!...

A sua contribuição está sendo grandiosa nessa preservação... Mais uma vez: bom trabalho!...