Foster Brown
Este artigo trata de uma idéia simples: se uma sociedade consegue reduzir o número e/ou o impacto de desastres, sobram mais recursos para desenvolvimento. Esta idéia não é nova, existem vários artigos sobre o tema, desde os oriundos de instituições das Nações Unidas até monografias na UFAC. No Acre. o custo de desastres ambientais – enchentes e incêndios -- tem sido alto. Estudos recentes utilizando as Avaliações de Danos (AVADANS) estimaram custos de mais de 400 milhões de reais no Acre associados com as enchentes de 1988, 1997, 2006 e 2009, além dos da seca e dos incêndios de 2005.
Dado os custos e o potencial de mudanças climáticas gerar desastres num futuro próximo, um programa de redução de riscos de desastres sairia aparentemente barato. Como reduzir os riscos, porém, é bem mais difícil do que a idéia indica.
Uma dificuldade é lidar com o conceito de probabilidades. Frequentemente exigimos certeza antes de agir, uma certeza que muitas vezes é impossível alcançar. Imagine se alguém em 2004 estimasse que as chances de uma seca e incêndios associados em 2005 seriam altas e provocariam dezenas a centenas de milhões de reais de prejuízo.
A primeira pergunta teria sido: “você tem certeza de que vai acontecer este desastre?” A resposta só poderia ser: “Não temos certeza, somente uma alta chance ou probabilidade.“
Neste caso hipotético, seria pouco provável que a sociedade iria investir alguns milhões de reais em um programa de redução de riscos, mesmo se ele tivesse reduzido dezenas de milhões de reais de perdas no ano seguinte.
Outra dificuldade envolve a diferença entre risco, onde existe uma noção da probabilidade de ocorrência, e a incerteza, onde não sabemos nem a probabilidade. Antes de 2005, os incêndios florestais de grande escala representavam uma incerteza e nem se pensava nas chances de uma ocorrência. Agora, são riscos com certa probabilidade de ocorrência, o suficiente para mobilizar vários segmentos do governo para desenvolver programas de controle.
Um outro exemplo de risco e incerteza envolve o sistema de abastecimento de água da cidade de Rio Branco. O SAERB (Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco) tem a responsabilidade de abastecer mais de 100.000 pessoas com água potável. Grande parte desta água é retirada diretamente do Rio Acre pela torre de captação, próximo a terceira ponte, e é tratada pela Estação de Tratamento de Água (ETA) II.
Existem alguns riscos que podem afetar o bombeamento de água no local: seca prolongada que reduziria significativamente a quantidade de água; enchentes que poderiam afetar o sistema elétrico, essencial para bombeamento; acidentes com cloro; e falta prolongada de energia elétrica. É possível desenvolver planos para reduzir o risco e para preparar ações, caso um destes desastres venha a acontecer.
Com o conhecimento da frequência das secas recentes e o prognóstico do crescimento das demandas, os governos municipal e estadual já estão se preparando o uso de água subterrânea para complementar a água bombeada do Rio Acre. Este esforço mostra que a antecipação do problema pode reduzir o risco de um desastre.
No caso de cloro usado no tratamento da água, há toneladas deste gás altamente tóxico na ETA II com riscos conhecidos. Programas de treinamento de como reduzir acidentes com cloro, uso de equipamentos especializados e montagem de um plano de contingência de evacuação de bairros vizinhos reduziriam o risco de perdas de vida e de parada no abastecimento de água.
Mais problemáticos são os desastres que não são antecipados, isto é, incertos e com riscos desconhecidos. Na ETA II é pouco provável que alguém tenha pensado que uma voçoroca (escavação profunda originada pela erosão superficial e subterrânea) pudesse ameaçar o tanque de sedimentação, através do qual passa toda a água da ETA II. Como se pode ver na foto, a voçoroca já apresenta dimensões preocupantes e está a cerca de vinte metros do tanque. Ações emergenciais do SAERB estão sendo feitas para impedir o avanço da voçoroca.
As defesas civis municipal e estadual são órgãos com a responsabilidade de fiscalização dos planos de prevenção e de preparação para desastres. A crescente complexidade de desastres ambientais vem exigindo a colaboração de outras instituições e da sociedade civil.
Um dos mecanismos para aumentar a colaboração foi a recém-funcionando Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais que vai ter câmaras técnicas sobre produtos químicos perigosos, enchentes e secas/incêndios.
Mesmo assim, a redução de risco de desastres exige a participação de todos segmentos da sociedade, não somente orgãos do governo. A incorporação de conceitos de defesa civil e gestão de riscos no sistema de educação básica poderia facilitar esta participação.
As defesas civis com a ajuda desta comissão estão trabalhando em planos para reduzir os riscos de desastres. E a poupança potencial não é pouca: a perda devido a desastres ambientais tem sido de mais de 200 milhões de reais por década no Acre e promete ser maior no futuro, não só em dinheiro mas também em vidas, se não forem tomadas as devidas providências.
♦ Foster Brown é pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, docente do mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais da Universidade Federal do Acre (Ufac) e Cientista do Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazonia (LBA) e do Parque Zoobotânico da Ufac.
6 comentários:
Altino,
Não sabia eu que a Senadora Marina era protestante, conclamo todos os católico a votarem em um candidato ligado a igreja católica.
Derrota inesperada
A derrota atingiu principalmente o vereador Jessé Santiago (PSB), que esperava ser ungido como o candidato oficial da Assembleia de Deus a deputado federal. Com o resultado, o privilégio vai ficar com a presidente do PSC, Antônia Lúcia, sua principal adversária na disputa de uma vaga na Câmara dos Deputados, pelos espaços do partido. A vitória do grupo do pastor Luiz Gonzaga e da senadora Marina Silva (PT), antes da eleição era dado como certo.
Altino
parabéns pelo excelente blog,percibi que é muito coerente em seus artigos,te considero o melhor blogueiro do acre.
Altino, em qualquer coisa na vida é importantíssimo a redução de riscos, não só nos negócios, na administração pública e na vida da gente também. Se houvesse um programa eficiente de de redução dos riscos no setor público, muito, mas muito dinheiro poderia ser poupado e canalizado para outras atividades.
E dos desastres eleitorais, quem poderá nos defender, hem, hem?
Nem o Chapolin Colorado.
Muito boa essa do anonimo das 8:49!
Então, o segundo comentário me atentou pra essa questão: há um evidente e escandaloso desperdício de dinheiro público todos dias e horas em praticamente qualquer tomada de preço ou o que seja. É fato de conhecido público. Exemplo: a gestora de uma escola que sem noções de cidadania e ética e principalmente dos trámites burocráticos e um monde de outras ausências, gasta mal, muito mal. Se vai comprar um PC, gasta três vezes mais q seu real valor por não saber nem o que é hardware (e por não procurar ajuda tbm), que obviamente não é uma exclusividade dela, mas nesse caso o prejuiso é de todos, e não apenas do comprador habitualmente mal informado.
(Não posso deixar de comentar os contratos com as contrutoras... nossa, é roubo mesmo. Uma salinha de 10 x 12 é tabelado em 67 mil, se não me engano. Coisa de louco!!!)
Medidas de curto, médio e longo prazo nessas deficiências teriam impactos financeiros imediatos e exprecivos. Repito: imediatos! Mas isso é coisa q nunca nem ouvi.
Não estou desmerecendo a importancia do que o autor nos chama atenção, é q acho sempre muito perigoso se apoiar apenas na questão econômica, quando tratasse de muito mais coisa, como os bem lembrados "desastres eleitorais" com data é hora marcada.
v a l e u!!!
Irrita-me profundamente o fato de um anônimo tentar desqualificar alguém -ou mesmo um grupo- usando como pretexto as inclinações religiosas, numa demonstração medíocre de intolerância. Irrita-me mais ainda quando o fato tende a nivelar personalidades tão diversas na forma e no conteúdo, valendo-se do mesmo pretexto. Ora, a Marina hoje é um ser político que paira acima dessas políticas convencionais e rasteiras que lutam pela sobrevivência de grupelhos. Suas preocupações atuais, além das regionais e nacionais, tornaram-se mais nobres e mais amplas -e os fatos não mentem. Dizem respeito à sobrevivência do próprio planeta.
Portanto, deveríamos conclamar sim, mas o eleitor em geral, independente de credo ou qualquer outra opção -inclusive partidária-, a analisar com critério e atenção o histórico de vida de cada candidato, independente de seu credo ou qualquer outra opção -inclusive partidária-, lembrando que, caso eleito, o candidato deixará de ser "seu" para pertencer a uma coletividade que abraça todos os credos e opções -inclusive partidárias-, aos quais terá o dever constitucional de igualmente servir.
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