quinta-feira, 12 de março de 2009

PEDRO BILÓ

Arquilau Melo

Caro Altino:

Chegamos, ontem à tarde, em Santa Rosa do Purus aonde seringueiros brasileiros e caucheiros peruanos, em 1902, se enfrentaram na última batalha pela posse da região. Aqui teriam ocorrido dezenas de mortes, de ambos os lados.

Contam os moradores mais antigos do Purus que o coronel Jose Ferreira, paraibano, comandou um grupo de 600 brasileiros que expulsou os peruanos se achavam instalados na foz do rio Chandless empurrando-os até a foz do rio Santa Rosa, onde há 17 anos foi fundada a cidade.

Quase todos os dias, no decorrer da viagem, ouço falar do Pedro Biló e seu grupo encarregado de limpar os seringais da presença dos índios, na região dos rios Tarauacá e Envira.

Hoje, por exemplo, tomava café na pensão aonde nos hospedamos e um ex-seringueiro do seringal Califórnia, de Feijó, José Firmino, que se mudou para Santa Rosa, dizia-me que conhecera Pedro Biló e que fora convidado para fazer parte do seu grupo mas não aceitou.

Contou-me que Biló tinha umas rezas, que fazia com que penetrasse nas aldeias sem ser percebido e, após destruir os arcos e flechas dos índios, os massacrava a tiros de espingarda e a golpes de terçado, sem fazer distinção entre adultos, jovens e crianças.

Ainda segundo os relatos que ouço, Biló tinha ódio aos índios porque vira seus pais ser por eles assassinados, mas também fazia o serviço a mando de sengalistas para ampliar suas "propriedades".

Antes desses relatos verbais, eu já ouvira falar de Biló, através dos artigos que o antropólogo Terri Vale de Aquino escrevia para o jornal O Varadouro. Não vou me estender mais porque temos que partir para Esperanza, no Peru, de onde tentarei manda mais alguns pequenos relatos.

Grande abraço.

Arquilau Melo é desembargador do Tribunal de Justiça e presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Acre. Saiba mais sobre a expedição em "Subindo o Purus" e "Diário em marcha". Ou no blog do Daniel Piza, do Estadão.

5 comentários:

Anônimo disse...

Aos que lutaram pelo ACRE!

Vencer os outros não chega a ser uma grande vitória.
Vitorioso é aquele que consegue vencer a si mesmo, combatendo seus vícios e controlando suas paixões.
A vitória sobre nós mesmos é muito mais difícil.
Ela requer mais coragem, mais disciplina e mais decisão.
Se você não conseguir na primeira vez, tente de novo.
O simples fato de tentar de novo já será sua primeira vitória.

Anônimo disse...

altino tenho a ligeira impressao que dr arquilau é candidato a alguma coisa ta andando muito pelas brenhas do nosso estado ta comendo farofa de jaba com banana com os ribeirinho de vez enquando comendo aquela carnizinha de caça e aquele peixinho fresquinho to com inveja dele

Grupo de Choro Afuá disse...

Pedro Biló é mais conhecido que farinha no Acre. Existe até contos fantásticos do imaginário seringueiro e indígena que relata que ele desaparecia. Isso é pura metafísica.

Anônimo disse...

Metafísica?Este Curupira deve ser ninja. BETO MINEIRO.

Sérgio Aparecido Dias disse...

Pedro Biló não é apenas uma figura folclórica, infelizmente. eu o conhecí pessoalmente e o entrevistei em 1977, época em que morei em Feijó e atuei como missionário Batista, fundando a segunda Igreja evangélica naquela cidade. Também auxiliei os missionários americanos das Novas Tribos do Brasil, na aldeia Kaxinawá, próximade Feijó. Soube de relatos horrendos de mortes e de crimes perpetrados por Pedro Biló e seus capangas. Baseado nesses relatos, escreví o conto "O Massacre do Lago do Arapapá", cuja primeira parte foi publicado hoje, no blog AMBIENTE ACREANO, do Evandro Mesquita. A segunda parte será publicada amanhã. É terrível e cruel, mas é tristemente verdadeiro. Pedro Biló foi um desalmado e frio assassino, cruel e covarde. Quanto às suas "mandingas", "rezas brabas", capacidade de ficar invisível, isso tudo é besteira, invenção do povo ingênuo e crédulo, que julgava invisibilidade as táticas de camuflagem e a arte de se esconder, que ele utilizava com maestria. O resto é lenda. Mas suas "limpezas étnicas" e suas "correrias" foram recheadas de centenas de mortes e crimes bárbaros, apoiados pelos "coronéis" e donos de seringais do médio e alto Envira. Isso é incontestável. Infelizmente, ele tinha também o apoio de setores da Igreja Católica e de alguns juízes e advogados ligados aos seringalistas e aos "coronéis". Por isso, nunca pagou por seus crimes. Tais defensores o tinham por herói, pois matava os índios que estavam "impedindo o progresso", roubando-lhes as terras para aumentar as posses dos seringalistas. Pedro Biló era tido como um homem muito "religioso", freqüentador de missas e de festas religiosas. Preciso dizer mais?!?