terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A "NOVA" CARA DO FASCISMO

Gerson Albuquerque

Na manhã de ontem, 9 de fevereiro, duas viaturas –um micro-ônibus e uma van– com aproximadamente 15 policiais vinculados ao Departamento de Polícia Federal no Acre, invadiram o campus da Universidade Federal do Acre, munidos de metralhadoras, coletes a prova de bala e pistolas automáticas, numa ação sensacionalista, antidemocrática e de total desrespeito às normas da instituição, aos direitos constitucionais e às convenções internacionais que asseguram a inviolabilidade e autonomia aos espaços das universidades.

Pelo visto, os responsáveis pela operação andam saudosos dos tempos da ditadura fascista que imperou no Brasil, entre 1964 e 1985, posto que, segundo informações obtidas junto ao Assessor de Comunicação Social da Ufac, sequer dirigiram-se à reitoria para comunicar ao reitor em exercício, professor Pascoal Muniz, os objetivos e legalidade de sua ação no interior da instituição. O que foi atingido de forma inapelável, no entanto, foi a autonomia universitária e isso torna o silêncio do reitor e de toda a administração superior da Ufac, algo muito estranho e inaceitável, visto que, até este momento, não foi feito nenhum pronunciamento público em defesa da instituição e contra o arbítrio impetrado por agentes públicos alheios à universidade.

A verdadeira operação de guerra, montada pela Polícia Federal no interior do campus universitário, constituiu-se em uma agressão aos professores, técnico-administrativos, estudantes e demais pessoas que se encontravam no local. Agressão maior foi tomarmos ciência de que o motivo daquela operação autoritária era dar garantias e defesa a agentes da Vigilância Sanitária que se deslocaram até a instituição para “fechar” uma banquinha de lanche que os estudantes do curso de biologia estão organizando como forma de angariar recursos para participar do 60º Congresso Nacional de Botânica, a ser realizado na cidade de Feira de Santana (BA), em junho deste ano.

Há mais de 20 anos, os estudantes da Ufac se organizam e realizam atividades dessa natureza para participar de congressos, seminários e outras atividades fora do Estado. Muitas vezes essas “barraquinhas”, “banquinhas”, “lanchinhos”, que são preparados pelas próprias famílias dos discentes, concorrem para assegurar suas confraternizações de formaturas e consideramos um avilte, uma violência sem precedentes a todos que vivem nesta Ifes, qualquer atitude contrária a tais ações, independente de onde partam.

A fiscalização da vigilância sanitária ou de qualquer outro órgão público não pode ser transformada numa “queda de braço” para atingir interesses que não condizem com órgãos dessa natureza e as instâncias administrativas e encaminhamentos protocolares não podem ser substituídos pelo “tacão de ferro” da força, da intimidação e da violência contra aqueles que estão em formação no interior desta Ifes e, muito menos, contra toda comunidade universitária.

Ao não encontrarem os estudantes de biologia e para “não perder a viagem”, enquanto um grupo de policiais federais, pateticamente, se colocava em “pontos e posições estratégicas” de quem, a qualquer momento, vai ser atacado e “abrir fogo” contra “perigosos bandidos” que estariam ali, à espreita para atacá-lo; outro grupo fazia um “corredor polonês” em frente ao Restaurante Universitário, em reformas, dando segurança aos agentes da Vigilância Sanitária para autuarem e fecharem um espaço que se confunde com a própria história da instituição - a banca “Cheiro Doce”, da Arlete. Isso foi o cúmulo da violência e agressão contra todos que fazem parte da comunidade acadêmica. A Arlete “Cheiro Doce” está na instituição há mais de 30 anos. É um verdadeiro e intocável patrimônio para todos nós.

Com a palavra o professor Pascoal Muniz, reitor da Ufac, em exercício.

Gerson Albuquerque é professor vinculado ao Centro de Educação, Letras e Artes da Universidade Federal do Acre.

11 comentários:

Anônimo disse...

Excelente texto. Muito literário pelo excesso de descrição e sentimento. Esse "fascismo" todo ainda vai causar uma terceira guerra mundial. Todo esse "totalitarismo" destacado acredito eu que pode ser resolvido numa simples conversa. Talvez se já houve deliberação mas não foram atendidos, seja porque o lanche fornecido seja do "bactérias" e não de alunos de biologia, pois o lanche é do DCE. O que não pode é se melindrar e comparar uma prevensão policial com a desumanidade de Hitler ou Mussoline. Seria comparar um simples ovo de víbora com ovo de avestruz. Todo homem se sente ofendido no exame de próstata, da mesma maneira numa prevensão policial, mas ambos são necessários.

Anônimos S/A

Anônimo disse...

A Arrogancia e a maldade anacronica da Polícia Federal, nesse caso, beira o ridículo. Então corajosos e destemidos agentes federais, armados até o dentes, contra "bandidos" cruéis, foram fazer o q mesmo na UFAC? Caçar perigosos facínoras numa lanchonete, q tem 30 anos de história dentro da UFAC? É isso? O pesado armamamento era para atirar para matar, era? Não tem reitor nessa universidade não? Se tem onde está, escondido debaixo de algum armário, banheiro ou coisa parecida? Q coisa mais hilária, se não fosse trágica. Se eu contar isso no Paraguai vão rir da minha cara. Vão procurar o q fazer, combater traficantes de verdade, contrabandistas de mogno, assaltantes de banco,....Charles De Gaulle, tava certo, esse não é um país serio....
Da próxima vez entra de tanque e carro blindado, é mais seguro!!!

Anônimo disse...

Passadas mais de 24 horas dos fatos narrado pelo Gerson nem a administração da Ufac e tão pouco os sindicatos (ADUFAC E SINTEST)e DCE fizeram qualque manifestação repudiando a ação truculenta ocorrida no interior da Ufac ontem. Creio que a Arlete pessoa simples e meiga, na Ufac a tanto tempo, jamais tenha presenciado tanto abuso da ação policial. Receio que essa prática venha a se naturalizar caso a reitoria da Ufac, a representação dos professores e técnicos administrativos assim como o DCE não tome uma atitude condizente com os princípios da autonomia universitária, com os valores democráticos e com a ação educativa.

José Ronaldo Melo - professor da Ufac

Marcelo Jardim disse...

Vamos ser sinceros, não é de hoje que a UFAC virou a CASA DA MÃE JOANA!

Marcelo Jardim

Anônimo disse...

Boa Dia Altino,

Fico pensando como era legal os velhos tempos , que saudade, vê os alunos da velha e esquecida UFAC nas ruas; gostaria de vê o Hildo do Pc do B de volta ao combate, a Osmifran, O Sergio Roberto,a UJS, toda turma nas ruas pedindo dias melhores para os nossos miseráveis, até o raivoso do Márcio Batista que depois que arranjou uma boquinha pra ele e sua esposa na Prefeitura parou de reclamar,esse inclusive chegou a defender aumento de passagem de onibus, parou na história na luta de esquerda, caro Altino e professor Gerson resistam, precisamos de gente como vocês; Bem, enquanto este anônimo, estou velho, triste e doente com tudo que está acontecendo nesta terras mas conhecida em Brasília como ONG dos irmãos Vianas.

Me desculpe o anominato, você sabe como é .

um Abraço fraternal.

Cartunista Braga disse...

Quando assaltaram um caixa eletrônico da UFAC, uma ruma de vezes, a PF nem tomou conhecimento, agora para fechar a banquinha da Arlete partiu com gosto de sangue, armada com metralhadora, bombas de efeito moral, lança-chamas, helicópteros, mergulhadores, vários agentes especiais (um deles atende pelo nome de Bourne e outro de Triplo X) fazendo poses de guerra como o que fazem nos morros do narcotráfico carioca (São treinados pela SWAT, sabe!).
Parecia enlatado americano, tudo isso para combater o terror estampado na cara dos funcionários, professores, alunos e visitantes daquela instituição federal de ensino superior.
Será que essa operação "Sitiagarro" toda é porque a doceira Arlete "Cheiro doce" vendia cocada, dentro da universidade, há mais de 30 anos? Cocada, minha gente, era cocada boa!

Unknown disse...

O mais chocante é que um dos diretores da Ufac me confessou hoje pela manha que a truculência policial que ocorreu segunda feira e que culminou com o fechamento da banquinha da Arlete foi necessária e correta e que a direção da Ufac não falou nada porque é muito bom ter a PF como parceira.

Anônimo disse...

Pra começar, o a banca da arlete não foge a nenhum padrão sanitário grave, uma vez que ela vende produtos prontos para o consumo com data dentro do prazo de validade, será que ela é da oposição , de algum partido contrario ? sabe se lá, no mais a operação Coliformes fecais e totais é unanime no quesito desaprovação...Nota zero para a PF que deveria procurar outras ocupações mais convicentes, sabe o q é issoo....Falta do que fazer.....

Anônimo disse...

Estou estarrecido, embasbacado, apalermado... Sem condições até de externar meus comentários de repugnância a esse fato.
Que a doce Arlete tenha forças para superar isso.
Márcio Menezes

Anônimo disse...

Tudo isso aconteceu porque o DCE vendia salgados do "bactérias". E todos foram prejudicados até Arlete que vende perfume.

Anônimo disse...

Não é a primeira vez que o DOPS,digo, a Polícia Federal invade o Campus da UFAC.Não nos esqueçamos do episódio que levou ao fechamento da rádio "Filho da Pauta",acho que era esse o nome.Foi semelhante,o mesmo aparato bélico,a mesma truculência, a arrogância de sempre,sem falar da constante afronta à Constituição Federal.Enquanto isso,os traficantes passeiam livremente nas fronteiras,vendendo seus "produtos" e,para essa "atividade",não necessitam do Alvará da Vigilância Sanitária.É o Brasil...