domingo, 23 de novembro de 2008

JORDÃO É CAMPEÃO DE DIFICULDADES

O governador Binho Marques (PT) disse durante o discurso de posse (leia) que nos últimos anos (2005 e 2006), em parceria com prefeituras, Ministério do Desenvolvimento Social e Ipea, havia trabalhado na construção de um sistema para enxergar melhor as famílias que estão abaixo da linha de pobreza.

E prometeu que trabalharia baseado no Índice de Desenvolvimento da Família (IDF), que, distribuído em 48 indicadores, permitiria identificar com precisão os problemas das famílias pobres em cada um dos 22 municípios do Acre.

- Com esse sistema, teremos capacidade para visualizar o problema com o nome e o endereço de cada família em condição de vulnerabilidade social - afirmou.

Na ocasião, o governador disse que seria a partir do IDF que a sua gestão realizaria os pactos com as prefeituras, fazendo uma vinculação dos desafios específicos de cada município para alcançar um desenvolvimento regional sustentável.

- Para esta missão, que julgo uma das mais importantes para avançar efetivamente na inclusão social, eu conclamei o meu vice César Messias, que terá seu gabinete fortalecido e adequado para este fim - disse.

Bem, reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revela com exclusividade o mapa sobre como vivem e onde vivem os miseráveis brasileiros. Montado pelo Ministério do Desenvolvimento Social com a ajuda do Cadastro Único, um monumental estoque de informações sobre as famílias assistidas pelo Bolsa-Família. Para organizar esses dados, o governo criou o IDF, que será apresentado amanhã.

Segundo a reportagem, o IDF juntou seis itens - vulnerabilidade familiar, escolaridade, acesso ao trabalho, renda, desenvolvimento infantil e condições de habitação - e revela que onde chega o assistencialismo, mas não há políticas públicas articuladas, o presente dos pobres é quase igual ao passado.

"É assim em Jordão (AC), cidade de pouco mais de 6 mil habitantes, espalhados por mais de 5 mil quilômetros quadrados na fronteira com o Peru. No IDF, Jordão divide com Uiramutã (RR) o título de município onde a população pobre enfrenta mais dificuldades - tem 0,35 em um índice que vai de zero (o pior) a um. Colonizada na época áurea da extração da borracha, Jordão quase desapareceu com o fim do ciclo, na década de 80", informa a reportagem.

- O governo nunca se preocupou conosco. Quando a borracha acabou, ficamos sem nada. Sem emprego, sem produção, sem educação. Estamos aqui sentados guardando a riqueza da floresta e mergulhados na pobreza - diz o prefeito da cidade, Hilário de Holanda Melo (PT), que acabou de ser reeleito.

Clique aqui e leia a reportagem. Ou aqui para acessar o mapa da pobreza.

Isolado, Jordão lidera ranking dos
municípios mais pobres do País


Moacir Assunção

Situado no Acre, na confluência dos rios Tarauacá e Jordão, o município de Jordão, de 6,3 mil habitantes, é um dos mais isolados do País. E também um dos dois mais pobres, segundo os índices do IDF.

O lugar é tão remoto que foi ali, nas matas da região, que fotografaram meses atrás um grupo de índios isolados, apontando seus arcos, em atitude guerreira, para o avião que transportava estudiosos da Fundação Nacional do Índio (Funai), numa imagem que impressionou o mundo.

Uma das cidades mais próximas, Taraucá, dista cinco dias de viagem de barco. Tudo fica tão longe que o preço de um litro de gasolina custa R$ 4,30 - quase o dobro do que se paga na bomba em São Paulo. O botijão de gás chega a R$ 65.

A distribuição da população lembra a de um Brasil antigo, quando a maioria das pessoas vivia na roça. Ali, 70% dos habitantes estão na zona rural; e 40% do total são índios. O índice de analfabetismo chega a 61%.

Dirigida pelo prefeito Hilário Melo, petista que acaba de ser reeleito, a cidade, com seis automóveis e quatro caminhões, tem poucas ruas pavimentadas. A rede de esgoto ainda está sendo construída. A internet só pode ser acessada por meio de rádio, em dois pontos da cidade: um no escritório local do governo do Estado e outro em uma lan house.

A economia depende da transferência de recursos dos governos federal e estadual. Além de escolas de ensino fundamental e médio, a cidade conta com uma unidade da Universidade Federal do Acre.

Ao saber dos índices do IDF, o prefeito ficou inconformado. "Não posso concordar", disse ele. "Esses números não refletem nem de longe o que somos. Temos universidade, escola técnica de enfermagem, energia elétrica 24 horas, acesso à internet, uma floresta muito rica e um belo artesanato indígena. Além disso, dormimos de porta aberta, sem medo, e 80% da população freqüenta a escola."

O governo do Estado também não gostou de ver Jordão no topo da lista dos municípios mais pobres. Segundo o assessor especial do governo Antônio Alves, o IDF utiliza critérios que só privilegiam aspectos urbanos. "São uma condenação ao mundo rural", afirmou. "Falar em analfabetismo onde a maior parte da população se comunica por meio de línguas indígenas é complicado. Embora não haja creche em Jordão, também não há crianças dessasistidas", disse. Para Alves, o IDF deveria rever seus critérios.

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