Walmir Lopes
Em maio deste ano, depois de um jejum de 38 anos, voltei ao Acre, mais especificamente ao antigo seringal Quixadá, em Rio Branco, onde passei um tempo inesquecível da infância e outro tanto da adolescência.
Encontrei ali meu tio Liminha que, embora com pequenos lapsos na memória recente, após 83 anos de vida e sete casamentos (e talvez por isso), esbanjava vitalidade física e bom humor.
Maria é a sétima esposa, morena cinquentona e saudável, a quem ele trata carinhosamente de “minha velha” e a quem se refere como “este diabo é um anjo que apareceu em minha vida”.
Pois bem, enquanto Maria se desdobrava no fogão, cozinhando quatro piaus médios, um pirão e um arroz de colorau, nós dois, à espera do almoço, percorríamos o tempo de marcha-a-ré à cata de velhas imagens perdidas por aqueles varadouros.
O papo corria solto, entremeado dessas lembranças antigas e conversas genéricas mais atuais - aqui e acolá uma lapada de cachaça pra comemorar o reencontro e dilatar o piloro. Papo vai, papo vem, surgiu o limão como bola da vez entre tantos outros assuntos.
Discorrendo sobre as qualidades terapêuticas dessa fruta, que utilizo religiosamente todos os dias, desfiei um rosário de possibilidades, que iam dos poderes antioxidantes que evitavam a degeneração celular, auxiliando na manutenção da juventude corporal e da beleza física, até a reversão de processos cancerígenos, passando pelo equilíbrio da pressão arterial, já que afirmam que ele “afina” o sangue.
Bastava apenas que fosse obedecida uma regrinha muito simples: chupar, no mínimo um limão, todos os dias. Meu tio, depois de ouvir atento todo aquele blá-blá-blá a respeito dos “milagres” do limão, esboçou um sorriso meio maroto e, levantando-se do banco, achegou-se a sua Maria, deu-lhe um cheiro carinhoso no cangote suado de fogão, cochichando baixinho ao pé do ouvido:
- Tá vendo, minha velha? É vivendo e aprendendo. Agora eu sei por que você tá conservada desse jeito. Se o limão é bom, imagine o Liminha!
A Maria, mesmo sem entender completamente o espírito da coisa, arrematou:
- É “mermo”, né meu velho, quem é que precisa de limão?
◙ Walmir Lopes é empresário em Olinda (PE)
2 comentários:
Rapaz... as vezes eu gostaria de entender porque alguns "posts" como esse vem parar num blog tão bom.
O blog é perfeito, mas as vezes o Altino faz a gente ler cada "besteira". Coisas que não tem nada a ver com o blog. Vôti!
Calma, conterrâneo. Não precisa ser agora. Depois voce chupa e nem faz careta.
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