segunda-feira, 21 de julho de 2008

CASAS DE LEITURA CONTRA A BARBÁRIE

Milton Hatoum


No dia 22 de dezembro de 1988 Chico Mendes foi assassinado na soleira da porta dos fundos de sua casa, em Xapuri. Uma casa de madeira, com dois quartos pequenos separados por um tabique, e uma saleta onde mal cabem duas cadeiras, uma mesinha e uma estante. Poderia ser a casa de um homem só, mas nela moravam também a mulher e os dois filhos do líder dos seringueiros.

Uma modesta biblioteca me chamou atenção quando visitei a casa desse homem covardemente executado. No canto da estante havia livros de ficção, história, política, geografia e alguns volumes de uma enciclopédia. Enquanto lia o título de cada livro, imaginei o leitor sentado diante de uma mesinha ao lado de sua cama; imaginei também o escritor anotando idéias, impressões e aforismos sobre a vida na floresta, a vida dos trabalhadores que dependem do meio ambiente para sobreviver. Ou melhor, para viver com dignidade.

A estante com livros tem um forte significado simbólico: a morada de Chico Mendes e sua família é também uma casa de leitura. Às vezes, o assassinato de um ser humano é o triunfo da violência covarde contra a inteligência e o conhecimento.

Leia a íntegra da coluna do escritor Milton Hatoum na Terra Magazine.

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