sexta-feira, 9 de maio de 2008

PODEM ERRAR COM O FUSO HORÁRIO

Frank Batista

Apesar de uma lei ter sido aprovada e de estarmos agora aguardando o prazo legal para que esta entre em vigor, quando a diferença do fuso horário do Acre em relação à Brasília será reduzida em uma hora, ainda há tempo para conversarmos sobre seus efeitos. E sendo positivos, alegrarmo-nos, porém, se se revelarem danosos, repensarmos. Vou somar com aqueles que levantam preocupações com a lei no sentido dos efeitos danosos.

Não se trata de acusação ou de desconfiança em relação aos que a propuseram. Estes estão convencidos de que a iniciativa é a mais acertada, que pode nos aproximar dos grandes centros do País e resolver uma série de inconveniências criadas pela diferença de duas horas. Contudo, podem estar olhando a questão apenas de um ângulo. Quero observar de outro ângulo. Pelo que ouvi só comerciantes comemoram as mudanças.

Entendo que fuso horário deve ser tratado de maneira separada da programação da televisão. A TV é um instrumento. Seu uso deve considerar os bons costumes, a ética, a moral, o bom senso e a justiça. Se for para juntar o debate, que se faça à luz voraz dos interesses do lucro, subversor da espiritualidade humana, dos conceitos sobre Deus, dos lares das famílias. Tamanho poder deve ser especificamente discutido e quebrado.

Toda a questão de fuso horário reside nos negócios. E quem negar este aspecto não é verdadeiro. O negócio é a gênese das disputas de nações como França, Inglaterra, Estados Unidos, Brasil, Espanha, Portugal, México, Itália e Japão entre outros, que divergiram em relação ao meridiano principal (Greenwich) e posteriormente acabaram realizando o reconhecimento em função de que a maioria das nações já se baseava no marco inglês. Ora, o objetivo central foram os interesses mercantis e comerciais. Não se tratava de como as pessoas iriam dormir e acordar, mas de como acertar a hora e o dia das transações comerciais, das partidas e chegadas das viagens, etc.

O acordo internacional se baseou no tempo solar médio, considerando o giro da terra e conseqüentemente a iluminação do sol em cada localidade.

No Acre, o sol nasce bem depois que nasceu no sul, sudeste e região central do País. O nascer do sol aqui ocorre entre cinco e quinze e cinco e meia da manhã, no horário local. Até o galo neste horário ainda está no poleiro anunciando a chegada do dia e se observarmos os demais animais, veremos que todos lentamente saúdam a chegada do sol exatamente neste horário. Com nós humanos não é diferente. Despertamos com a luz solar. Portanto, não se trata apenas de uma convenção, mas de uma questão biológica.

Se houve discussão com setores representativos da sociedade sobre a mudança, não foi suficiente para esgotar o assunto. O nó górdio é que quando o sol nasce aqui, já está aquecido no resto do País, significando que lá os negócios já iniciaram a um certo tempo.

A mudança envolveu também seis municípios do amazonas e 18 do Pará. Um plebiscito regional deveria ter ocorrido. Mas sendo exagero, poderíamos realizar uma consulta popular, a exemplo do Estatuto do desarmamento. Nem todo membro da sociedade usa arma, mas todos são afetados com o fuso. Esta ainda pode acontecer, mesmo para a implantação da lei, para que não ocorra agora no meio do ano e sim para o final, após o período letivo permitindo a necessária adequação das crianças e dos pais nas mudanças de rotina ou mesmo repensarmos a implantação da lei.

Não menos importante está o debate acadêmico. Se a produção científica não for considerada, melhor será negar o funcionamento das faculdades. Nossa Universidade trouxe os mais belos trabalhos acadêmicos que revelaram a degradação do seringueiro na relação com os Coronéis e os Gerentes de barracões. Obras de Pedro Martinelo e Pedro Vicente, por exemplo, nos mostram o nível de exploração no tempo áureo da borracha, só comparado ao período de implantação industrial na Europa, com jornada de 16 a 18 horas por dia.

O seringueiro não levantava cedo por opção. Tinha-o que fazer para produzir a maior quantidade de pele defumada possível no dia. Daí a necessidade de pegar a estrada de seringa, cortar a árvore, colher o leite e ainda defumar o látex. Para dar conta da estrada de seringa, alguns saiam uma da manhã e concluíam às 16 horas. A família era envolvida nestas tarefas e na produção da roça. Os que não iam para o corte ficavam descansando até o sol tornar-se claro. Portanto, a jornada de trabalho do seringueiro na madrugada só é parâmetro para a exploração absoluta do capitalismo global. As universidades devem ser ouvidas!

No outro pólo da floresta não vamos entrar. O índio sofre o eterno preconceito, por não aceitar o trabalho como fardo, são denominados preguiçosos e esta visão se estende até sobre a necessidade do sono (os homens dormem um terço de sua vida, por necessidade).

Quero chamar a atenção para riscos de acidentes quando todos, apressados de 5h30 para as 6 horas da manhã, que representarão 6h30 para as 7 horas, estiverem levando os filhos para a escola e com o sistema biológico desregulado. Acordaremos às 4h30 de hoje. As crianças serão molhadas no banho e higiene neste horário; os motoristas de ônibus terão noites mais curtas, porque já não conseguem dormir cedo; a visibilidade estará reduzida pelo sono e a pouca luz do novo horário e o fluxo de veículos vai ser ampliado...

A própria dinâmica do horário de verão já excluiu a Amazônia por não haver sentido econômico, já que a nossa claridade se extingue bem depois das demais regiões. O pico de energia ocorre entre 18 e 20 horas (dados da Eletroacre/Eletronorte) e considera-se o consumo diário quando o centro comercial e público da cidade está em plena atividade.

As grandes cidades só funcionam plenamente à partir das 10 da manhã. Assim é em Brasília, São Paulo e outras grandes cidades com seus imensos shoppings. Estaremos dispostos a essa mudança? Para os operários, aqueles que saem na madrugada enfrentando trajetos para cumprir o horário de trabalho, já existem as longas listas de acidentes no transporte coletivo e no ambiente (local) de trabalho para quem quiser analisar.

Por isso é necessário um amplo debate sobre o tema. As elites e seus filhos não têm necessidade de acordarem cedo ou sempre terão mais tempo para repor o sono.

Concordo com o deputado estadual Moisés Diniz de que há possibilidade para realizarmos o debate com todos os que querem um Acre melhor. Tratar dos contraditórios e ao final implementarmos a melhor saída. Para mim esta será a que de fato beneficiar os trabalhadores.

Frank Batista é licenciado em história pela Universidade Federal do Acre.

6 comentários:

Anônimo disse...

Infelismente no Brasil tem poucos prebiscitos e no Acre não é diferente, decisões são tomadas sem consultar o povo, e quando chega a hora das eleições, esse povo é a fonte, é a mina é a máquina é o meu povo. Meus amigos e minhas amigas! brasileiros e brasileiras! companheiros e companheiras!

Anônimo disse...

Infelismente no Brasil tem poucos prebiscitos e no Acre não é diferente, decisões são tomadas sem consultar o povo, e quando chega a hora das eleições, esse povo é a fonte, é a mina é a máquina é o meu povo. Meus amigos e minhas amigas! brasileiros e brasileiras! companheiros e companheiras!

Anônimo disse...

Infelismente no Brasil tem poucos prebiscitos e no Acre não é diferente, decisões são tomadas sem consultar o povo, e quando chega a hora das eleições, esse povo é a fonte, é a mina é a máquina é o meu povo. Meus amigos e minhas amigas! brasileiros e brasileiras! companheiros e companheiras!

Unknown disse...

...realizar plebiscito, sim. Mas, também, informar corretamente a população das vantagens e desvantagens das mudanças, sem ficar tergiversando, criando argumentos incorretos. Evitar que a discussão se transforme num bate boca entre partidários de A ou B ou C.

Anônimo disse...

Acho que uma hora de diferença está compatívelcom a luz natural. Atualmente o sol está nascendo às 06h32 em São Paulo(confira aqui http://www.climatempo.com.br/previsao.php?CODCIDADE=558). Em Rio Branco, 05h37. Quando for adiantada uma hora, haverá apenas uma diferença de 4 minutos em relação a São Paulo(desprezando-se o fuso horário)

Anônimo disse...

Se a diferenças de horario do Acre para Brasilia vai baixar de 2 para 1 hora, o relogio será adiantado ou atrazado? vamos acordar uma hora mais cedo ou uma hora mais tarde? estou em conflito de calculos.