Moisés Diniz
Nos últimos dias tenho lido muitas declarações de apoio ao presidente Evo Morales, pela unidade da nação e contra o separatismo do movimento “Nação Camba”, onde elites criolas de Santa Cruz, Pando (vizinho do Acre), Beni e partes de Chuquisaca e de Tarija, ligadas às transnacionais do petróleo, buscam autonomia econômica e administrativa em relação ao Estado boliviano.
Alguns de forma envergonhada e dúbia, como a ONU e a OEA (englobando 14 nações latino-americanas), outros de um jeito corajoso, como a CUT, CTB, UNE, MST et alli, todos se posicionaram a favor da integridade do território da Bolívia.
Na verdade as elites crioulas da chamada "Meia-Lua” imprimiram intensidade ao movimento “Nação Camba” após a vitória do ‘índio’ aymara Evo Morales. Enquanto essas elites estavam representadas no governo central e centralizado de La Paz, o movimento separatista não passava de ‘barulho’ regional de fraca intensidade.
O novo e volátil combustível do movimento separatista está na política econômica do presidente Evo Morales, quando nacionaliza os hidrocarbonetos e organiza uma robusta reforma agrária, garantindo terra aos milhões de indígenas pobres. Um programa revolucionário que vai além das “envergonhadas” concessões que fazem aos trabalhadores alguns governantes “de esquerda” na América Latina.
O objetivo deste ensaio não é discutir a solidariedade ao primeiro presidente indígena da América Latina, isso a gente sabe fazer, temos savoir-faire (know-how) construído na luta. Tampouco fulminar as elites criolas bolivianas da fronteira do Acre. Elas sabem que nós percebemos e repudiamos a sua esperteza em vestir de autonomia regional a bandeira velha de manutenção dos privilégios.
Queremos aqui discutir os caminhos, naturalmente soberanos, que o presidente Evo Morales deve trilhar para vencer mais uma esperteza secular de suas elites. Reconhecer que o movimento “Nação Camba” conseguiu de forma magistral travestir uma bandeira velha (interesse da minoria latifundiária e industrial, aliada das multinacionais) com a mais bela e atraente roupagem da autonomia regional.
Quem vive na Amazônia conhece a lenda dos olhos encantados da cobra jibóia. O homem amazônico, perdido na floresta, é encantado pela jibóia que, sob os seus olhos penetrantes, vê imagens belas de tudo que o seu subconsciente almeja. As imagens só duram até o instante em que a jibóia o laça e o engole. Assim age o movimento “Nação Camba” em relação às massas pobres de sua rica região.
A imensa maioria do povo boliviano é favorável às mudanças propostas por Evo Morales. Todavia, essa mesma população é favorável à autonomia de suas regiões. Em qualquer lugar do mundo, a luta por autonomia (seja política, econômica, administrativa ou fiscal) embala as multidões.
A luta por autonomia é justa, histórica e reparadora de um modelo que concentrou o poder nas mãos do presidente, num país que não chega nem perto de ser uma federação. Evo Morales precisa encontrar a porta do meio, acumular forças, reconquistar a classe média e desvincular a sua luta pela distribuição das riquezas bolivianas da anti-luta pela autonomia.
As elites criolas da “Meia-Lua” compreenderam que um presidente popular como Evo Morales, representante qualificado da imensa maioria do povo boliviano, sairia vitorioso do embate com elas. Basta ver os últimos levantamentos estatísticos realizados no país. Apenas combater as idéias e ações de Evo Morales era “morte súbita” para elas. O que fizeram?
Ergueram a mais charmosa e atraente bandeira boliviana: a luta por autonomia administrativa e econômica. As elites do movimento “Nação Camba” erguem barricadas para derrotar o que elas mesmas construíram em mais de dois séculos.
Se elas saírem vitoriosas, derrotando o aymara que dirige o Palácio Quemados, não demorarão a desmontar o que aprovaram. É que as elites sabem que, quanto mais descentralizado, mais difícil controlar o poder. A luta por autonomia nunca foi uma bandeira das elites, em nenhum lugar do planeta. Elas só o fazem se o objetivo final for a separação jurídica de partes de uma nação.
O que se apresenta como tragédia é que parte das massas pobres dessa rica região levanta-se a favor de suas elites. Nem falo de sua juventude estudantil e de sua classe média. Por isso, a tarefa de Evo Morales ficou maior do que a sua revolução ecológica e indígena.
O presidente Evo Morales precisará encontrar um caminho que retire das mãos da elite boliviana a bandeira da autonomia. A sua luta pelos mais pobres da Bolívia, que são absoluta maioria, terá que se vincular a uma nova bandeira pela autonomia das regiões.
Se perceber que o movimento separatista da “Meia-Lua”, travestido de luta pela autonomia, conquistou majoritariamente a população, Evo Morales deverá recuar até o ponto em que ganhe fôlego para derrotar aqueles que enganam as massas pobres bolivianas que estão nas ruas. Elite sozinha não faz passeata, não faz nem procissão.
A experiência histórica demonstra que não há outro caminho. O aguerrido ‘índio’ aymara terá que encontrar a forma intermediária entre o recuo e a permanência das conquistas. Deverá encontrar o jeito especial de ganhar a simpatia da população pobre e média das regiões ricas da Bolívia, de uma forma que a autonomia que ela busca não seja a trava que a elite quer colocar nas rodas da mudança de Evo Morales.
De parte da população pobre do Brasil, de seus líderes, todo apoio a Evo Morales e o desejo sincero para que ele encontre um jeito seguro e permanente de retirar das mãos da elite boliviana a bandeira que não é dela.
◙ O deputado Moisés Diniz (PC do B) é líder do governo na Assembléia Legislativa do Acre.
15 comentários:
É verdade, e torcer para não acontecer o que aconteceu por aqui, onde tiraram da elite brasileira e colocaram na mão da nova elite brasiliana.
Um texto muito interessante! Vivemos ao lado de uma das regiões autonomistas (um barril de pólvora) e pouco se publica sobre isso. Parece que nossa imprensa vive no sul maravilha.. Parabéns, deputado!
Pando está aqui ao lado e não se vê ninguém tratando do assunto. Precisamos realizar debates sobre o assunto. Cadê as universidades? Sindicatos? Coitados! Dá pena!
Prestamos mais atenção ao Tibete, por causa da CNN e da Globo. Aqui tem uma Cosovo, só que mais pobre! E que ainda vai nos atingir...
A esquerda acreana, no lugar da solidariedade ao líder indígena (acossado por suas elites), está mais preocupada com os seus... Advinhe!
Que esquerda? Se fizer uma pesquisa dentro da Frente Popular do Acre, talvez a "nação Camba" ganhe...
O conservador e autonomista governador de Pando (nosso vizinho) deve ser melhor recebido no Acre do que o indígena Evo Morales...
Por que esse silêncio das principais lideranças da Frente Popular? Estranho, muito estranho...
Anônimo,
Acho que o deputado Moisés botou o dedo na ferida. Vamos aguardar...
Tudo bem! Mais um pouco tarde...
Altino,
Leia o jornal O Alto Acre, de Brasiléia e Epitaciolândia (vizinhas de Pando) e você verá como o "Nação Camba" domina os nossos editoriais. O diretor é da Frente Popular. Estranho...
Grave, muito grave! O movimento autonomista e separatista de Santa Cruz (através do governo de Pando) pode estar FINANCIANDO jornais acreanos. Acorda OAB, MP... Ninguém vê isso?
aLTINO,
eU NÃO MORO NO aCRE, mAS COMO VOCÊS VIVEM AO LADO DE UMA DAS REGIÕES AUTONOMISTAS (SEPARATISTAS) dEVE HAVER UMA CERTA CUMPLICIDADE. dEVE EXISTIR MUITA INFLUÊNCIA DO VIZINHO. o TEXTO DO DEPUTADO É SINTOMÁTICO...
O Brasil resolver seus problemas e os Bolivanos que se resolvam com o indio cocaineiro, nao temos nada haver e nem que se meter e muito menos opinar com o problema deles
Essa foto é tudo!!!!! hehehehe
Postar um comentário