domingo, 4 de maio de 2008

GOVERNO ESQUECE PLÁCIDO

Neste 2008 faz 20 anos do assassinato do seringueiro Chico Mendes e 100 anos do assassinato do coronel José Plácido de Castro (foto), comandante da Revolução Acreana que anexou o Acre ao Brasil


Falam nos salões oficiais em "Ano Chico Mendes" e de uma programação cheia de pompa para dizer que o seringueiro ainda vive. De Plácido de Castro, não se diz mais nada desde quando a novelista acreana Glória Perez escreveu o último capítulo da minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes".

Durante o governo do engenheiro florestal Jorge Viana foram celebrados os centenários de Luiz Galvez, da Revolução Acreana e fomos até classificados como os "cem com espada" e os "sem espada".

Será que o centenário do assassinato de Plácido de Castro vai passar em brancas nuvens? O que faz tanta gente no governo estadual a ostentar títulos disso e daquilo e a receber bons salários do erário, mas que demonstra incapacidade de pensar e planejar?

Ou será que decidiram mudar o conceito de herói? Por que levaram Plácido de Castro e Chico Mendes ao Panteão da Pátria, lá em Brasília?

A senadora licenciada Marina Silva é historiadora. O governador Binho Marques também é historiador. Formaram-se na mesma turma. Ambos possuem dezenas de assessores que são historiadores, mas que esquecem disso.

Eles vão mesmo deixar o centenário do assassinato de Plácido de Castro passar "batido" e lembrar apenas dos 20 anos do assassinato de Chico Mendes?

Ambos foram assassinados covardemente à tiros. Os matadores do seringueiro foram julgados, mas os mandantes, não. Aliás, alguns deles, articuladores do complô criminoso, até se tornaram aliados do PT e de seu "governo da floresta". Mandantes e assassinos do coronel jamais foram julgados, o que seria oportuno neste ano, mesmo que simbolicamente.

Nesse sentido, o desembargador Arquilau de Castro Melo planejava realizar o julgamento, isto é, levar ao júri popular os assassinos de Plácido de Castro, mas a esta altura do ano parece já ter desistido da idéia.

No centenário do nascimento de Plácido de Castro, em 1973, vieram até Rio Branco, vieram várias autoridades, entre as quais o então prefeito de São Gabriel (RS), onde o "libertador do Acre" nasceu. Naquele ano até foi lançado um selo comemorativo. Agora, ao menos um selo já seria uma boa lembrança de nosso herói.

Quer dizer que os engenheiros celebram os heróis e os historiadores não?

Leia abaixo o artigo do jornalista acreano Elson Martins, publicado neste blog no dia 21 de janeiro de 2007:

CORAÇÃO MAGOADO - Elson Martins

Em 1929, o então senador marechal J. Pires Ferreira apresentou um projeto de lei que dava honras de general ao conquistador do Acre, José Plácido de Castro. A honraria, entretanto, não comoveu o coração de dona Zeferina de Oliveira Castro, mãe do herói assassinado de emboscada em 1908, no seringal Capatará, nas proximidades de Rio Branco.

O crime, supostamente planejado por adversários políticos de Plácido que haviam se aboletado no poder do Acre, nunca foi apurado, e os assassinos comemoraram o feito com a impunidade histórica que perdurou até o fim de suas vidas.

Aos 92 anos, com uma perna fraturada que a impedia de sair de casa, dona Zeferina encaminhou a seguinte carta ao senador e marechal:

"Chegando ao meu conhecimento que transita pelo Senado Federal um projeto de lei de autoria de Vossa Excelência dando honras de General ao meu pranteado filho, J. Plácido de Castro, e de Coronel a dois dos principais cúmplices no seu assassinato - Gentil Tristão Norberto e Antônio Antunes de Alencar -, venho pedir-lhe o grande favor de retirar o nome do meu filho do mesmo projeto.

Em vida, ele nada pediu à sua pátria e nada recebeu além da perseguição, da injúria, da calúnia e da morte por mão das principais autoridades federais; é justo que depois de morto, quando de nada precisa, também nada receba. Os governos já tripudiaram muito sobre o seu nome e sobre a sua memória...

Que ele repouse na paz da conspiração de silêncio em que envolveram o seu nome, desde o momento em que não necessitaram mais dos seus serviços, - desde a assinatura do Tratado de Petrópolis.

O bárbaro crime que vitimou meu filho prescreveu sem que o mais ligeiro inquérito fosse aberto a respeito; sem que ao menos os nomes dos miseráveis assassinos fossem apontados pela Justiça à execração pública!

É preciso que a Pátria seja coerente: com honrarias póstumas ela não ressuscita a vítima nem lava as máculas do passado. Continue ela a proteger, amparar e distinguir os assassinos, procurando apagar os vestígios da covarde tragédia de 9 de agosto de 1908 e a transformar os criminosos em heróis. Isso é justo: mas que aos 92 anos eu veja o nome do meu filho servir de escada para a ascensão dos seus matadores, isso é demais...

A posteridade julgará meu filho, e é bastante.

Creio que V. Exa. ignore que gentil Norberto e Antunes de Alencar sejam dois dos implicados no assassinato de Plácido, mas o meu fim é apenas arredar o nome de meu filho de tão más companhias e grata ficarei a V. Exa. se me atender.

Convém dizer que não estou caducando: ainda sou mais sadia de espírito do que de corpo e só não vou pessoalmente falar-lhe porque há oito meses guardo leito com uma perna fraturada".

A foto de José Plácido de Castro foi tirada pelo explorador Percy Fawcett, que trabalhou no Ceilão para o serviço secreto britânico e foi contratado pelo governo da Bolívia, quando o país necessitava demarcar suas fronteiras. O coronel Fawcett esteve com o coronel Plácido um ano antes do comandante da Revolução Acreana ser assassinado. Fawcett, que acreditava na existência de cidades perdidas, desapareceu misteriosamente em território brasileiro. Saiba mais a respeito do encontro de Plácido de Castro e Percy Fawcett. Clique aqui.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Altino, como vai?

Nestes tempos de glorificação do inútil, do vulgar e até do ilegal, os verdadeiros heróis vão sendo deixados em alguma gaveta do passado.
Talvez porque as ações, a coragem, a força e integridade destes diminuam ainda mais a estampa medíocre dos nosos atuais ídolos e líderes.

beijos, boa semana para você.

Anônimo disse...

Concordo. É verdade, mas temos gente boa nos dias de hoje.

ALTINO MACHADO disse...

Resposta do historiado Marcos Vinícius, presidente da Fundação Municpal de Cultura:

"Altino,

Há cerca de dois meses o jornalista Leonildo Rosas do Página 20 fez uma cobrança muito semelhante a sua em relação à necessidade de desenvolvermos ações que dêem visibilidade ao centenário do assassinato de Plácido de Castro. Como naquela ocasião liguei para ele dando conta de que estávamos trabalhando nesse assunto, penso que também devo lhe informar que a Prefeitura e o Governo do Estado estão trabalhando sobre essa questão. Entretanto, ainda estamos definindo as ações a serem executadas a esse respeito, e mesmo reconhecendo que agosto se aproxima ligeiro, espero que possamos divulgar em breve essas ações e receber ainda outras sugestões.
Mas, concordo plenamente que não podemos deixar essa ocasião passar em branco, ainda mais porque (agora falando mais como historiador do que como gestor) penso que há uma ligação maior do que pode parecer a primeira vista, apesar dos oitenta anos que separam esses eventos, entre o assassinato de Plácido de Castro e o de Chico Mendes, bem como de outros importantes personagens da história acreana (Wilson Pinheiro, João Eduardo, Ivair Higino, José Augusto de Araújo, Edmundo Pinto, entre muitos outros que foram vítimas anunciadas ao longo da história política acreana). Isso faz com que seja imprescindível dar continuidade as ações de valorização da história acreana (incluindo ai o centenário de morte de Plácido de Castro) em seus diversos aspectos que está em curso desde 1999.

Abs

Marcos Vinicius Neves"