segunda-feira, 19 de maio de 2008

"A AMAZÔNIA ESTÁ ACIMA DE NÓS"

A magricela Marina Silva, 50, senadora petista do Acre, já perdeu três quilos desde que entrou no olho do furacão, após surpreender ao presidente Lula na semana passada com o pedido de demissão do cargo de ministra do Meio Ambiente.

- Estou só a tala - diz com exclusividade a Terra Magazine.

Ao deixar o ministério, a ex-seringueira e ex-empregada doméstica alfabetizada aos 17 anos, conseguiu gerar, dentro e fora do País, uma repercussão que suplantou aquelas que ocorriam eventualmente com a queda de algum titular do Ministério da Fazenda.

Ela espera do sucessor Carlos Minc, como demonstração de continuidade da política ambiental, que resista à pressão do governador Blairo Maggi, do Mato Grosso, que atua contra a manutenção da resolução do Conselho Monetário Nacional que, a partir de 1º de julho, obriga o sistema financeiro a exigir regularidade ambiental como condição para o crédito rural na Amazônia.

- Além da manutenção da implementação da resolução do Conselho Monetário Nacional, que lute firmemente contra a alteração do código florestal, que levaria a mais desmatamento na Amazônia. É necessário manter e fortalecer as operações de combate ao desmatamento - insiste a ex-ministra.

Marina Silva disse que quando se ocupa um espaço de poder, mesmo sendo algo pequeno, como uma coluna de jornal, sofremos a tentação de querer olhar as pessoas de cima para baixo.

- Aprendi, e não foi agora, mas com muitas pessoas ao longo da vida, como Chico Mendes e dom Moacir Grechi, que a gente tem que olhar de baixo para cima. De baixo para cima a gente consegue enxergar o que está acima de nós. A Amazônia está acima de nós. E com esse olhar a gente é capaz de enxergar que, para fazer algo que seja bom, é preciso se colocar numa perspectiva de serviço, que também pode ser o gesto de abrir o caminho para que outro ocupe o seu lugar. Eu já disse que é melhor ver o filho vivo no colo de outro a vê-lo jazer no próprio colo.

A partir de hoje a senadora passa a cumprir licença de 10 dias para descanso. Vai passsar o final de semana no seu "Acre querido", mas nega a disposição para ser candidata a governadora do Estado.

- Temos bons nomes: Binho Marques, Jorge Viana e Tião Viana. Não estou pensando nas próximas eleições, mas naquilo que será o futuro das próximas gerações.

Leia a entrevista na Terra Magazine.

9 comentários:

cabocla disse...

Carta aos conterrâneos e militantes por um eco-desenvolvimento.

Ao abrir minha caixa eletrônica para verificar meus e-mails, vários deles tratava da noticia de demissão de minha companheira e conterrânea Marina Silva. Esta noticia não me surpreendeu, o que me surpreende é a predominância de uma corrente desenvolvimentista que não consegue tirar lição do passado. O que me surpreende é uma certa passividade dos movimentos sociais, ongs de desenvolvimentos, intelectuais cientistas e outros atores sociais engajados há anos em prol de um outro desenvolvimento para o Brasil. Estes estão conscientes que o controle social se integra ao exercício da cidadania ativa. Por que então o élan que mobilizou esses atores de norte ao sul do país baixou a bandeira de reivindicações, quando o companheiro Lula e os partidos de esquerda e de centro chegam ao poder? Cadê a capacidade de se indignar diante de certos erros cometidos pelo governo Lula? A critica construtiva é fundamental para avançar o processo democrático e cobrar a coerência da política governamental. Isto não quer dizer fazer oposição frontal ao governo! Isto não quer dizer fazer o jogo da direita como dizem alguns membros do PT. Devemos entender a complexidade do exercício do poder e não é tarefa fácil para o governo enfrentar os setores conservadores que açambarcam o setor do agro-busines e o poder econômico brasileiro. Mais uma razão para a sociedade civil organizada de ser agente de transformação com lucidez e coragem. Quanto mais a sociedade civil se organiza e cobra resultados dos projetos governamentais, mais o poder político progressista representado no congresso nacional será obrigado a votar as verdadeiras reformas. As reformas não reformam quando os atores do desenvolvimento não estão preparados para o exercício da cidadania. O próprio Presidente Luis Inácio da Silva Lula, ex. liderança sindical, certamente reconhece a importância da vitalidade de uma sociedade civil organizada para o sucesso de seu governo.

Por que se calar, então, diante da visão desenvolvimentista que predomina no governo? Essa concepção dos sucessivos governos contribuiu para um desenvolvimento desigual entre as regiões brasileiras, favoreceu a monocultura, extraiu do solo muitas riquezas dentro de uma visão de curto prazo, sem se preocupar com o equilíbrio dos ecossistemas e de sua biodiversidade. Favoreceu,sem duvida, o crescimento econômico, que não quer dizer desenvolvimento de um país. Milhares de brasileiros não foram beneficiados com o crescimento econômico, foi o fracasso dessa política que levou o Presidente Lula a criar vários programas de luta contra a fome e pela inclusão social. Torna-se, portanto, difícil entender porque o Governo insiste no economicismo. O verdadeiro desenvolvimento leva em conta o patrimônio ecológico e cultural existente em cada região brasileira que forma o patrimônio nacional. O crescimento econômico não pode ser dissociado da questão social, das questões de ordem política, jurídica, administrativa, nem tão pouco da questão do meio ambiente. Tudo se interage e forma um todo e é essa inter-relação que dá a sustentabilidade à concepção sistêmica do desenvolvimento. O desenvolvimento integra e não desintegra! O centro de interesse de uma ação de desenvolvimento gira em função da dimensão humana. Quando se atua com uma visão sistêmica não se separa o ecológico do político, do cultural, do social e do econômico. A economia está a serviço do gênero humano que protege a biodiversidade e a sociodiversidade. Os ecossistemas fazem parte integrante da nossa existência. Por essa razão não devemos sacrificar as gerações futuras. Entre a retórica do discurso político do PT e do governo Lula e a pratica da ação política deve haver coerência.

Chegou a hora de sair da passividade. O governo Lula altamente legitimado pelo voto dos atores sociais comprometidos com o desenvolvimento integrado e solidário deve dar todas as condições necessárias para a sustentabilidade ecológica, cultural, social, econômica e política, garantindo um desenvolvimento territorial integrado e solidário para o Brasil. Ainda é tempo de sair da visão fragmentada do desenvolvimento.

Tenho dito.


Marilza de Melo Foucher
Paris-França maio 2008

Dra. Em Economia-Sorbonne
Consultora internacional
Especializada em Desenvolvimento Territorial Integrado e Sustentável

Unknown disse...

No comentário, a Marisa levanta de uma forma equivocada dois pontos essenciais.

O primeiro se refere às organizações não governamentais. Marisa as compreende, ao que parece, como ainda na sua fase de surgimento. Em suas raízes essas instituições eram constituídas a partir dos embates sociais contras formas de organização totalitária, notadamente, na Europa. Cabe, lembrar, que nessa fase, eram apoiadas por organizações de voluntariado estadunidenses. E, para muita gente, ainda prevalece essa idéia de que as denominadas ongs são expressões do voluntariado, organizações a serviço da coletividade.

Olhando com algum cuidado, as ongs operando no Brasil, regra geral, são espaços de emprego e de empresariamento para muita gente. E, para completar, são organizações que executam programas de trabalho apoiadas em recursos públicos. Há, portanto, a necessidade de que se forme, como de fato se formou, um entrelaçamento muito íntimo entre a burocracia do estado e as ongs. Ninguém agirá, portanto, para por em risco suas fontes de financiamento. Como reagir, portanto, contra a saída da senadora Marina?

A segunda passagem da mensagem da Marisa que merece comentário diz respeito a uma certa crença que ela atribui ao senhor presidente: "o próprio Presidente Luis Inácio da Silva Lula, ex. liderança sindical, certamente reconhece a importância da vitalidade de uma sociedade civil organizada para o sucesso de seu governo.", diz ela.

Talvez, algum dia, ele tenha acreditado nisso. Hoje, entretanto, o presidente Lula acredita, mesmo, é no poder do capital e a ele se rendeu. As principais políticas visam o fortalecimento da acumulação de capital e as reformas trabalhistas afirmam-se como mecanismos de afirmação das estruturas de coerção do trabalho.

Por fim, Marisa, a idéia de programas sociais de integração é um pouco exagerado. O que se faz, neste país, hoje em dia, é distribuir alguma grana para que os milhões de pessoas vivendo em condições miseráveis alcancem algum alimento diariamente. Para falarmos em integração teríamos de ir além disso. Em nada, as ações do atual governo contribui para modificar as estruturas de reprodução da miséria.

morenocris disse...

Caramba, que nível de comentários. Excelente. Dá até um post. Parabéns, Altino.

Bom dia.
Boa tarde.
Boa semana.

Unknown disse...

...é, olhar de baixo para cima, também, nos dá a perspectiva de quem nos subjuga; é uma perspectiva que nos permite construir o sentido, a direção das nossas lutas.

Válber Lima disse...

É como diz um velho senhor aposentado de cortar, seringueiro conhecido como capitão da borracha aqui em Cruzeiro do Sul: pisa maneiro, que as capivaras ainda estão de cócoras na beira do rio.

cabocla disse...

Querido Altino,
Em resposta a reação em teu blog faço alguns esclarecimentos quanto as ONGs do qual entendo perfeitamente algumas ambigüidades. Eu tive essa honra e privilégio de aprender e apreender a realidade brasileira no terreno da ação, devido meu trabalho na área da cooperação internacional. Trabalhei durante muitos anos como responsável de projetos para América latina e financiei muitas ongs de desenvolvimento que trabalhavam dentro de uma visão sistêmica inclusive no Acre. Logicamente hoje existem algumas Ongs que apenas aproveitam dos financiamentos e ainda contribuíram ao descrédito das verdadeiras Ongs que prestaram e prestam bons serviços ao eco-desenvolvimento. Existem algumas Ongs que atuam nesse sentido na Amazônia travestidas de ecológicas que pregam o desenvolvimento sustentável e que estão faturando em cima do “rótulo” com nossas essências florestais que ao meu ver deveriam ser mais bem fiscalizadas. Urge verificar a contabilidade dessas associações que às vezes se passam como Ongs ambientais sem fins lucrativos. Justamente para que elas não deturpem a imagem de muitas Ongs que atuam na região e agem com uma visão holística do desenvolvimento e lutam pela inclusão social das populações amazônicas. Conheci o Brasil de Norte ao Sul devido meu trabalho e encontrei durante esses anos de trabalho pessoas de todas as categorias sociais, principalmente gente humilde, excluído economicamente, socialmente, culturalmente em meu país. Graças a eles, eu vivi uma experiência indivisível de vida e de solidariedade. São atores sociais organizados e engajados com a mudança do país, estes sim amam profundamente o Brasil, eles estão no campo da ação solidária e não se contentam com o papel passivo da cidadania.
Mesmo morando na França há muito tempo, desde o final dos anos 70, isto não elimina minha capacidade de exercer a cidadania política, intervindo e participando no debate sobre a realidade brasileira e política atual. Com internet à nossa disposição podemos opinar e nos mobilizar, por exemplo, por uma concepção sistêmica de desenvolvimento na elaboração e execução de projetos. Como cidadã e cidadão brasileiro acho que não se devemos abrir mãos de certos princípios: Os direitos humanos, a solidariedade social, o desenvolvimento territorial integrado e sustentável, a justa partilha dos frutos do crescimento econômico, o direito a um ambiente protegido, o respeito pela diversidade cultural, lingüística e religiosa que ao meu ver tudo isso constituem um precioso patrimônio de valores.

Fraternura cabocla

Marilza Foucher

Unknown disse...

vc poderia me ajudar ?
eu presciso de um relatorio sobre o livro amazonia de bertha k. becker por favor me ajude

Unknown disse...

eu gostaria que vc me ajudasse . E porque eu to prescisando de uma resenha sobre o livro amazonia de bertha k becker.Sera se vc pode ma ajudar o mais rapido possivel

ALTINO MACHADO disse...

escreva para mim, ora. como posso ajudar voce?