segunda-feira, 14 de abril de 2008

UM MAPA SOB OS MEUS OLHOS

Moisés Diniz


O debate sobre a mudança de fuso horário do Acre não pode entrar na fase do maniqueísmo. Uma luta dos doutores contra os políticos, como se bastasse a qualificação para definir quem tem razão. Eu, como sou do time dos políticos e, talvez por isso, já me tenham carimbado como um homo erectus em luta contra o homo sapiens, vou apenas apresentar esse mapa que foi feito depois do Neolítico.

Inicialmente quero estender o meu respeito a alguns pensadores que estão no time do homo habilis, como Toinho alves, Evandro Ferreira, Altino Machado e Mário José de Lima. Eles são hábeis em conduzir a argumentação por entre os cipoais da ciência e do senso comum.

Apesar da divergência, que é salutar, eu acredito que nós ainda vamos tomar um cafezinho no mesmo horário, sem que ninguém tenha que acordar mais cedo para isso!

Opção entre fusos
É preciso que se saiba que a hora de cada fuso tem, em seus meridianos, limites teóricos. Em outras palavras, a hora é aparente. Nem sempre uma linha imaginária, sobre um país, pode marcar, sem embaraços, um limite-horário indiscutível.

Opção que não incomoda
O meridiano de 45º que marca, no Brasil, o segundo fuso, cortaria, no seu limite oriental, os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, o que significaria, para cada um destes Estados, uma diferença horária ao longo do meridiano de 45º. Dados os problemas que resultariam daí, para facilitar a questão, convencionou-se, neste caso, que o primeiro fuso, o qual engloba as ilhas oceânicas do Brasil, não incorpore aquela parte do continente, entregando-a ao segundo fuso.

Detalhadamente, os estados nordestinos de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte têm dois fusos horários, de acordo com a Hora Legal, do Meridiano de Greenwich. Nesse caso, as capitais dos cinco estados ficariam no Fuso Um, o que significaria uma hora de diferença para Brasília. Olhe à direita no mapa, e verá que, nos cinco estados citados, o limite entre o primeiro e o segundo fuso foi desviado para a direita.

Observe que o desvio do limite teórico foi utilizado para colocar dentro do segundo fuso todo o território dos referidos estados, incluindo as capitais. Dessa forma, os cinco estados nordestinos ficaram com os seus territórios dentro do segundo fuso, a hora de Brasília. Isso ocorreu no dia 18 de junho de 1913, com a Lei 2.784. Essa negociação foi patrocinada pelos políticos desses cinco estados nordestinos. Isso aconteceu, repito, em 1913.

Igualmente, esse meridiano de 45º, no seu limite ocidental, cortaria o Amapá, o Pará, Mato Grosso, Goiás , o Paraná e o Rio Grande do Sul. Ficou também convencionado que o limite coerente, do segundo e terceiro fusos, deveria passar pela linha que, de norte para sul, deixando todo o Amapá para este, e, em seguida seguindo pelo rio Xingu até encontrar a geodésica que divide o Pará e Mato Grosso, continuando por esta divisória até o rio Araguaia, pelo qual prosseguiria, deixando os Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para o terceiro fuso e, finalmente, cedendo os Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul para o segundo fuso.

Detalhadamente, os estados do Amapá, Mato Grosso e Mato grosso do Sul, que têm também dois fusos, optaram por ficar no terceiro fuso, a uma hora de diferença de Brasília. Já os estados do Paraná e Rio Grande do Sul optaram por ficar no segundo fuso, hora de Brasília. Novamente, os políticos de lá, em 1913, negociaram para que os seus estados tivessem apenas um fuso horário. Olhe novamente no mapa, e veja que os limites foram desviados. Em suma, os limites teóricos foram suprimidos para levar em conta os limites reais e as necessidades de cada estado.

De igual maneira, muitos países resolvem as suas diferenças horárias conforme as suas peculiaridades e interesses. Exemplo disso é o caso da Argentina, que teoricamente, se acha no fuso de quatro horas, mas que resolveu ficar situada no fuso de três horas, igual ao tempo de Brasília, a capital do maior país da América Latina.

Como você pode ver no mapa, apenas os estados de Rondônia, Acre, Roraima e Pará não fizeram opção por apenas um fuso para o conjunto de seus territórios. E por que? Analisemos um a um.


Pará
O estado é cortado literalmente ao meio e, considerando o gigantismo de seu território, não tinha como unificar em um único fuso.


Roraima e Rondônia
O território dos dois estados está totalmente dentro do terceiro fuso. Nenhuma argumentação valeria para retirá-los de lá. Confirme essa informação no mapa.


Acre
Como você pode ver no mapa, o Acre é o único estado do Brasil que, mesmo tendo dois fusos, não fez opção apenas por um. A parte principal do estado, incluindo a capital, ficou no quarto fuso e apenas um município, Porto Acre, ficou no Terceiro Fuso, de acordo com a lei de 1913.

O deputado Moisés Diniz (PC do B) é líder do governo do Acre na Assembléia Legislativa. Foi o primeiro a sugerir mudança no fuso horário e a propor para que a população pudesse decidir, mas perdeu a paternidade da matéria para o senador Tião Viana (PT). Leia um duro protesto contra a mudança no blog Matheus Tape.

7 comentários:

Anônimo disse...

Esses gráficos ai estão mais do que explicado, só nao ver quem nao quer. Até nos simuladores de vôo profissional usado por muitos pilotos, e certificado pela aviação mundial, as cidades do Acre estão no fuso -4h GMT.

Unknown disse...

É sempre assim. Com tantas desigualdades a serem combatidas, vem alguém e escolhe para combater uma desigualde que nem desigualdade é. Assim, não vamos mais aproveitar o tempinho menos quente do amanhecer para esticar um cochilinho. Como a noite vai ser puxada para a fase da tarde, onde o calor tende a ser puxadão, não dá para dormir mais cedo e nem vai dar para dormir um pouquinho mais.

Vida de pobre é difícil! Será que esse pessoal não deveria lutar, também, contra a desigualdade no direito de opinar, de escolher? Por que só os grandões escolhem? Por que só os grandões é que definem como devem ser as coisas do mundo?

...até a hora de acordar...eu hein?

Unknown disse...

Tem argumentos brandidos com tamanha segurança que a gente se vê impelido a parar e buscar uma compreensão para eles por mais claros que sejam, fica a sensação que, de repente, ficamos incapazes de entender qualquer argumento, ficamos burros. Será que tais afirmações são verdadeiras? Qual a base para tamanha certeza?

Uma dessas afirmações está sendo atribuída ao senador Tião Viana numa notícia que colhi no blog do Evandro Ferreira: "...a unificação dos dois fusos irá unificar a Amazônia ocidental e irá reduzir os problemas causados a redes de TV e rádio, no que diz respeito à classificação etária."

Como a unificação dos fusos permitirá que se afirme a unificação em termos tão gerais? Como UNIFICARÁ a Amazônia?

Sei não. A mim, parece, apenas, uma frase de efeito. Um mero esforço de explicação para o que está sendo feito à revelia dos realmente interessados.

A segunda parte da afirmação - como num ato falho - explica, verdadeiramente, as razões da "unificação" que se limita a "unificação dos fusos". Ponto. Nada mais do que isso: atender aos interesses das emissoras que não precisam realizar qualquer mudança para atender ao que pretendia o Ministério da Justiça.

Mas, tem outro ponto que deveríamos examinar. Atenderá, a tal unificação, os interesses do Ministério da Justiça, quanto a classificação da programação? A mudança, também, não servirá para atender aos objetivo de classificação da programação. Todos sabem que ao empurrar a programação orientada para adultos para horários no final do dia, tarde da noite, o que se pretende é que as familias sirvam-se do fato de que as crianças dormem mais cedo. Como esperar que as crianças durmam com um "solzão" na cara? Certamente, considerando a luminosidade e o calor, não se desenvolverá essa mudanças na hora de dormir das famílias que, já atualmente, estendem as cadeiras nas calçadas esperando uma redução da temperatura.

Como o senador tem arguido que a economia de energia, ou seja, a economia de combustível, tem a ver com a sua convicção, é de se esperar que, brevemente, teremos a inclusão da região acreana ao programa do horário de verão. Aí, sim, vai ficar melhor.

No Sudeste, durante o horário de verão, começa a escurecer depois das sete da noite. Em Rio Branco começará a escurecer a que hora? Aqueles passeios pelo calçadão deixarão de efetuados por um motivo muito simples: quando as calçadas esfriarem, permitindo um passeio tranqüilo e refrescante, já será muito tarde para andar pelas ruas, será hora de recolher e procurar as camas - isso se for possível aguentar a cama para dormir.

...é, mas o que importa mesmo é UNIFICAR A AMAZÔNIA...então, Altino, do que estávamos falando mesmo?

Unknown disse...

...o que o Ferraz não explicou é que os pilotos de aeronaves precisam mesmo é do por do sol real, efetivo. Eles precisam saber quando escurece, porque, a partir daí, precisarão de instrumentos para voar e de informações sobre a tecnologia existente nos aeroportos, como iluminação e instrumentos de orientação para pouso.

...para eles saberem disso não precisa mudar o fuso horário.

Rachel Moreira disse...

Não quero nem saber se é briga entre doutores e políticos, muito menos quero saber se foi o Tião Viana do PT ou qualquer outro do "MDA". Só sei de uma coisa, que para quem precisa fechar negócio com o sudeste do país sofre problemas diários, principalmente no horário de verão. Quando é dez hora aqui, no meio da manhã, lá já é meio dia, todo mundo foi almoçar; quando vamos almoçar, lá as pessoas estão voltando; quando voltamos a tarde, lá estão se preparando para ir embora... e assim caminha a humanidade. Não me importa se vamos acordar as seis, mas já vai ser oito, me importa é que eu possa trabalhar sem problemas, atendendo bem meus clientes e gerando renda para esse Estado.

ALTINO MACHADO disse...

O primeiro-ministro japonês anuncinou hoje que o país dele vai adotar o mesmo fuso horário do Acre. O Japão tem sofrido prejuízos incalculáveis por causa do fuso horário.

Unknown disse...

Pois, então, alguém avise para a Rachel que ela pode resolver as "dificuldades" dela sem mudar o fuso horário. Se ela precisar tratar assunto às 10:00 horas - hora de SP - ela ligue às 8:00 da manhã em Rio Branco ou se precisar pegar o pessoal trabalhando no início do expediente, em SP, acorda mais cedo e liga ou participa de uma teleconferência e pronto. Agora, peçam, também, para ela explicar por que devemos acordar, todos, junto para ela resolver esse "problemão"?

Será que a Rachel sabe que nada funciona por aqui antes das 9:00 horas da manhã? Isso já é 7:00 da manhã, em Rio Branco. Para quê, então, mudar o fuso horário, se esta é a razão?

Ela pode, também, acertar o relógio dela com a hora de SP. Pronto, ficará antenada.