Tales Faria
Em política, o maior amigo pode ser o seu pior inimigo. A máxima está sendo seguida à risca pelos principais protagonistas da atualidade.
Veja o caso dos tucanos. O aliado histórico de FHC em São Paulo era José Serra, que sofreu o pão que o Diabo amassou para entrar no Ministério. A vaga de ministro do Planejamento do primeiro governo tinha sido até oferecida a Paulo Renato de Souza. Foi preciso dona Ruth Cardoso e Sérgio Motta enquadrarem o recém-eleito presidente para ele arranjar uma vaguinha pro Serra. Tudo bem, mas a quem Fernando Henrique entregou de fato o poder na área econômica foi ao Pedro Malan. E Serra acabou aceitando ser transferido para a pasta da Saúde. Lá, copnseguiu, enfim, fazer seu nome uma opção viável de candidatura presidencial. Se impôs como candidato à sucessão. Mas FHC preferiu ver Lula vitorioso a ter um nome mais forte do que ele próprio em seu campo de atuação. Por conta disso, até hoje o tucano-mor ainda é o ex-presidente, mesmo com Serra governando o maior estado da Federação.
Por motivos semelhantes aos de FHC é que Serra odeia pensar em Geraldo Alckmin vencendo as eleições para prefeito de São Paulo. Não quer sombra em seu próprio Estado no tucanato. Prefere reeleger Kassab, do DEM, partido pelo qual Serra nunca foi apaixonado.
Como FHC, Lula também deve ter seus temores de deixar a presidência e perder a primazia que detém hoje no PT e até na esquerda. É nessas horas que o governante de plantão chega a torcer pelo adversário -- como FHC fez com Serra e Lula -- ou, então, pensa em eleger um poste. Alguém sem a menor importância, caso eleito, em tese terá que se manter submisso a seu mentor.
Mas esta é também uma opção arriscada. Uma vez no poder, os postes tornam-se gente, e gente poderosa. Foi assim que Celso Pitta se voltou contra Paulo Maluf; Luiz Paulo Conde, contra César Maia; e o próprio FHC, em relação a seu antecessor, Itamar Franco. Só vi a opção do poste dar certo com Anthony Garotinho, que elegeu sua mulher, a Rosinha, governadora do Rio. Quer dizer, deu certo mais ou menos, mas isto é outra história...
Não sei se o presidente Lula de fato já optou pela ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, a quem batizou de "mãe do PAC", como sua candidata ao Palácio do PLanalto em 2010. Se tiver feito a opção, é porque, ou escolheu eleger um poste, ou escolheu perder as eleições. Dilma pode ser uma excelente pessoa. Mas tem tanto jogo de cintura, tanta empatia, tanto carisma quanto um poste. É um risco para Lula.
Mas talvez seja um risco menor do que ver alguém mais orgânico do PT, como Marta Suplicy ou Patrus Ananias, tomando o comando da área no campo onde Lula hoje reina tranquilo. Em política é assim. Quanto mais forte no mesmo campo do chefe, mais risco se traz para este chefe. O maior amigo pode ser o pior inimigo. Imagina, por exemplo, se o Zé Dirceu tivesse continuado com tanto poder quanto tinha antes? Mas isso é outra história...
◙ Tales Faria escreve no Blog dos Blogs.
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