sábado, 1 de março de 2008

CARTA ABERTA AO GOVERNADOR

(Memória)

“Uma sociedade de carneiros acaba por gerar um governo de lobos” (Victor Hugo)

IImo Sr.
Governador do Estado do Acre,
Jorgenei Viana das Neves,
Nesta

Esperei um, dois, três, quatro dias. Primeiro, para evitar que essas linhas tivessem o mínimo possível de emoção. Depois, para aferir a reação das pessoas, da sociedade. Pelos inúmeros telefonemas que recebi e informações que colhi, as reações foram de reprovação, de revolta e de nojo com a sujeira que o senhor fez contra mim, minha família e o jornal A GAZETA.

Na verdade, há algum tempo, vinha pensando em escrever para dizer-lhe algumas verdades. A ocasião propícia chegou. É esta. Como jornalista e cidadão tenho esse dever e esse direito. Afinal, alguém, entre tantos ‘carneiros’, precisa ter a coragem de reagir e não deixar que prosperem ‘governos de lobos’.

Vamos por partes:

Disse o senhor, em algumas ocasiões, para tentar justificar aquela agressão covarde, que não permitiria que injuriassem seu pai. Bravo! O senhor é um bom filho. Acontece – e os leitores são testemunhas – que nem eu, nem minha família, nem A GAZETA injuriamos seu pai. A GAZETA apenas publicou foto dele, para ilustrar uma matéria com declarações do deputado João Correia, o qual afirma que ele, como secretário do Governo Flaviano Melo e outros secretários poderiam ser chamados para depor naCPI da Flávio Nogueira. Onde estão a injúria, a difamação, a ofensa?

Já se disse e vale repetir: na sua concepção egocêntrica, sempre acha que só o senhor tem pai, tem mãe, tem filhos, tem honra. Seus adversários políticos, que o senhor costuma chamá-los de ladrões, de corruptos, de quadrilha, não têm pai, não têm mãe, não têm honra.

Tomou, então, aquele episódio como pretexto para me atacar de forma vil e covarde. Tão zeloso com os recursos públicos que se diz, não teve o escrúpulo de pagar avião, para sobrevoar minha casa, tirar fotos, plantar espiões em volta da casa, atemorizando minhas filhas, numa flagrante invasão de privacidade. Não satisfeito, depois usou carros e funcionários públicos para distribuir seu jornal de graça.

Lembra, governador, de quem eram essas práticas de invadir a privacidade das pessoas, de vigiá-las, fotografá-las, de colocar escuta telefônica, de amedrontá-las? Isso mesmo. Eram métodos muito usados pelos famigerados órgãos de repressão militar, copiados do fascismo, do nazismo, do stalinismo.

Este jornalista que vos escreve, que foi em anos passados alvo de perseguição da chamada “direitona” – vim saber depois que escapei por pouco – sente-se atualmente deveras lisonjeado em ser perseguido agora pela “esquerdona”.

Fui informado inclusive que a próxima vítima de sua sanha seria minha mulher, Ivete. Eureka!. Eu, que andava atrás de um bom assunto para escrever um livro, acho que encontrei.

Mas o senhor não me mete medo. Nem vai conseguir calar A GAZETA. O jornalista Paulo Francis costumava dizer que “o sucesso real das esquerdas é a capacidade da difamação”. Como o senhor não é, nunca foi da esquerda, até nisso se deu mal. Nos dias que sucederam a publicação, não tenho conseguido trabalhar em paz. Pessoas de todos os segmentos sociais, telefonam para prestar solidariedade e, indignadas, reprovar seu ato de vilania.

(continua...)

A carta aberta assinada pelo jornalista Sílvio Martinello, diretor de A Gazeta, foi publicada na primeira página da edição de 24 de abril de 2001. Clique aqui para ler a íntegra da missiva.

Mestres da esperteza
A Gazeta, que era o principal veículo de oposição ao PT, naquele 2001 fez campanha virulenta contra Jorge Viana, que decidiu arregimentar sua tropa para uma reação. Prestando serviços ao governo, recebi telefonemas do Oli Duarte e do Aníbal Diniz, secretário de Comunicação, para comparecer com urgência à redação do Página 20.

Estavam lá os diretores Antônio Stélio e Elson Dantas, Oli Duarte e o repórter Leonildo Rosas. Disseram-me que tenho um texto venenoso, que sou bom titulador e por isso deveria finalizar o texto da reportagem, de responsabilidade do jornal, que seria publicado expondo a vida de nababo do jornalista Sílvio Martinello.

Fiz títulos e quase nenhuma correção ao texto. Apenas acrescentei que Martinello costumava triturar biscoitos finos para alimentar sua criação de pássaros e aves. Causei espanto ao dizer que o texto já estava muito envenenado, mas não teria impacto algum sem uma boa foto.

Responderam quase em coro que havia muitas fotos do diretor da Gazeta. Foi quando expliquei que era necessário uma foto aérea para mostrar a mansão. Por causa disso, a publicação do material foi adiada. O arquiteto Wolvenar Camargo Filho levou a planta de uma das mansões projetada por ele para a ante-sala do governador e lá foi decidido como seriam as fotos.

No dia seguinte, o fotógrafo Marcos Vicentti, atual presidente do Sindicato dos Jornalistas do Acre, sobrevoou duas mansões e um terceiro imóvel de Martinello na companhia de outro Sílvio, piloto de um bimotor de uma empresa aérea que servia ao governo. O fotógrafo só soube o que teria a fazer quando sobrevoava a cidade. Era a primeira vez que tirava fotos aéreas. Durante uma manobra arriscada para captar imagens de bom ângulo, Vicentti quase despencou da porta do avião sobre a mansão no condomínio Ipê.

Martinello reagiu quatro dias depois com a carta, mas o então editor Jayme Moreira chegou a publicar outra carta em seguida, com a chancela de Martinello, claro, na qual acusava o então governador Jorge Viana como mandante do estupro de uma de suas filhas.

Desde então muita água rolou sob a ponte. Ao saber ontem neste blog que a carta seria reproduzida, Martinello escreveu hoje, na sua coluna Gazetinhas, um nota lacônica, que seus leitores não têm como entender do que trata: "Quem praticou algum tipo de pixotada está perdoado". Ele e Jorge Viana agora convivem (veja aqui) como se fossem "irmãos", conforme a definição da colunista social Ivete Martinello, mulher dele, que gerencia a Gazeta.

Nem tente saber quem é carneiro ou lobo.
Viana e Martinello são mestres da esperteza.

Leia mais sobre imprensa e poder no Acre no post "No espelho da memória", de Toinho Alves.

6 comentários:

João Maurício da Rosa disse...

Altino, por que o Silvio escreveu esta carta?

ALTINO MACHADO disse...

Boa pergunta. Acho que foi para negociar o contrato que vigora até hoje com o governo e para reatar a posição de jornalista preferido de Jorge Viana.

Unknown disse...

A historia é sempre a mesma, o que mudam são os personagens. Osama Bin Laden por exemplo, ganhou dos EUA dinheiro, treinamento, ajuda material para combater os soviéticos e anos depois joga 2 aviões nos "aliados" matando mais de 2.000. Narciso mendes é um caso clássico, no momento de sua perca de mandato ele e sua esposa escraxaram o então governador JV e anos depois vai em outra emissora tecer elogios ao cara. Assim caminha a humanidade: os aliados e adversários mudam de acordo com as necessidades de cada um.

Saudades do Acre disse...

E quem perde com essa vergonhosa jogatina? Todos, inclusive o crupiê que dá as cartas. Perde a Sociedade como um todo. Perde a Imprensa sua já escassa credibilidade. Perde o eleitor sua esperança.
Todas essas perdas ocorrem quando, em função de um excesso de estrelismo, perdemos a noção da palavra lealdade. Lealdade a antigos compromissos assumidos, lealdade a antigos companheiros dedicados, lealdade a antigos eleitores fiéis. A dinâmica do processo político não deve ser uma desculpa para a perda dessa noção. Pode ser fatal.

Sílvio Francisco Lima Margarido disse...

O Jorge não é governador.

Acreucho disse...

o que falta mais acontecer?
é deprimente essa "interessiocracia", que se instalou no nosso Acre.