sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

BANDEIRA DA AMAZÔNIA

Fátima Almeida

Passei o carnaval em Lima e fiquei impressionada com o tamanho da cidade e, mais ainda, com o requinte. Em Miraflores senti que estava na 5ª Avenida, em New York, onde eu nunca estive, mas que tenho na memória após assistir milhares de filmes norte-americanos.

Aqui e ali temos a impressão de estar em Copacabana ou na Urca, no Rio de Janeiro, ou em Olinda. Milhares de pubs, restaurantes, cafés. Come-se paella em bons restaurantes com pisco souer a cinqüenta soles, algo perto de trinta reais.

Eu não viajei me valendo de agências de turismo, porque custa mais, gosto do inesperado e da improvisação, além de que tenho uma amiga, peruana, professora de inglês em Lima, que me mostrou tudo que é possível em quatro dias.

No entanto, existe um Peru oposto, o da selva, que causa um choque térmico quando percorremos os vilarejos ao longo da estrada que liga Porto Maldonado a Iñapari. Na realidade existem três Perus com tipos de habitantes distintos: o da selva, o da costa e o da serra, cuja diferença gritante está na disparidade da própria renda.

A Amazônia, o calcanhar de Aquiles do nosso governo, não é apenas brasileira, mas peruana, boliviana, equatoriana, colombiana etc. E é nela que estão as populações mais desprezadas do mundo depois da África.

A pobreza extrema, o distanciamento em que vivem das mínimas condições de conforto e higiene, a ausência nesses lugares de frentes de educação e cultura, enfim, é um problema de difícil solução, que fica pior pelas condições históricas desses países, onde a riqueza está concentrada na costa e a miséria no interior.

E mais: aquele sono ou torpor típico que percebemos nas pessoas, registrado pela boa literatura latino-americana de escritores, tais como Carlos Fuentes e Juan Rulfo. Aquela letargia que não permite dar-se conta das transformações que terão por diante com a Transoceânica.

Precisamos mudar a geopolítica, desenhar uma bandeira da Amazônia, arredar as fronteiras, para que fiquem alinhadas com as bordas da floresta, e construir uma nova identidade, antes que seja tarde demais. Quaisquer formas de barreiras culturais entre esses países só interessam ao grande capital.

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