sexta-feira, 7 de setembro de 2007

RIO ACRE


A placa foi afixada num balcão de areia no meio do Rio Acre pelo geógrafo Claudemir Mesquita. Há anos, ele estuda a bacia hidrográfica e alerta o governo e a sociedade sobre as agressões que tornar o rio intermitente. Assista abaixo a entrevista com o geógrafo.




7 comentários:

Anônimo disse...

Querido Altino,

Nada que possa escrever representa verbalmente minha tristeza ao ver essa realidade estampada nas suas fotos. Outro dia as queimadas, hoje o rio.
Me faz pensar nos dizeres de Antonio Conselheiro:
"... E o mar vai virar sertão e o sertão vai virar mar." (...) Será que é esse o fim do mundo?
Silvana

Anônimo disse...

E O FIM DOS TEMPOS, AS PROFECIAS ESTAO NA BIBLIA, TUDO ESTA ESCRITO, MAS O HOMEM NAO ACREDITA...!

Anônimo disse...

Rio Branco se tivesse todos seus igarapés recuperados seria um paraíso e certamente o clima mais frio. O rio Acre é a nossa matriz do descaso com os recursos hídricos.Toda nossa sujeira está depositada nele. Sujamos a fonte da qual bebemos ou deveríamos beber,além dos peixes que nos alimentam,de qualquer forma é necessário CUIDAR!

Anônimo disse...

Se o que foi gasto na desnacessaria passarela fosse investido na recuperação Rio Acre, certamente a situação seria mellhor.

Anônimo disse...

É o fim dos tempos mesmo anônimo, se a grande massa aderir a seu chamado, não haverá mais volta, só caos e muita oração. Sinceramente, fiquei sem palavras.

Pitter Lucena disse...

O rio Acre será destruído se os homens públicos não olharem com atenção. Faz tempo, muito tempo, desde que trabalhava no jornal A Gazeta, que lutava junto com o professor Claudemir Mesquita, para que a vida do nosso querido rio Acre fosse repensada. Se os governantes não colocar o assunto do rio Acre como pauta do dia, com certeza não saberemos como a população do Acre irá sobreviver. Basta olhar para as toneladas e toneladas de esgot que são jogadas diariamente no leito do rio.
Enquanto isso, os nossos políticos estão preocupados com petróleo no Juruá e mudança do fuso horário, isso, sem consultar a população. e o rio Acre? Esse não precisa consultar ninguém. Basta agir. Se não agir agora...

Pitter Lucena disse...

Caro Altino envio matéria que fiz quando trabalhava no jornal A Gazeta sobre o rio Acre.

Grande abraço.

Geógrafo quer políticas públicas para salvar o rio Acre

Pitter Lucena

A disponibilidade de água potável no Estado do Acre, principalmente na cidade de Rio Branco, associada ao Rio Acre e suas características naturais, aponta para a uma triste previsão de limitação ou escassez de água no futuro. Essa reflexão é do professor e especialista em geografia, Claudemir Mesquita, que meio “Dom Quixote”, levanta a bandeira do debate de políticas públicas ambientais para preservação do Rio Acre, antes que a população acreana seja vítima de uma catástrofe de seca.

Segundo o professor, o debate é importante porque se existe hoje indicadores de escassez que podem sugerir cuidados, amanhã não haverá tempo para uma mobilização preventiva, e não adiantará lamentar no futuro a omissão do presente. A idéia de que a população não terá problemas de abastecimento de água no futuro é relativa, mas infelizmente, é bem clara a prática de desperdício de água. “A falta de cuidados com o meio ambiente e o desperdício que vai desde da captação até os domicílios, representa 30% de toda a água retirada dos mananciais, baixando ainda mais o nível dos rios, que durante o período de estio encontra-se crítico”, explica.

Numa viagem que fez no ano passado ao município de Assis Brasil, Claudemir declara que ficou estarrecido com a situação do Rio Acre a menos de duas horas da cidade. O nível da água era de apenas 20 centímetros. “Esses 20 centímetros de água no leito do Rio Acre me deixou muito preocupado, pois acredito que se medidas não forem tomadas para manter a nossa principal fonte líquida natural, vamos viver tempos trágico no futuro”, frisou.

Para o geógrafo, a Semana de Geografia que começa nesta segunda-feira na Universidade Federal do Acre - Ufac, a vida do Rio Acre deveria ser o foco principal de discussão, uma vez que a população depende 100% desse manancial que corre o risco de ser extinto. Além da Ufac, os poderes Executivo, Legislativo, órgãos ambientais e governamentais ou não, deveriam começar a abrir as portas para o debate sobre a preservação e manutenção do rio que dá vida às populações dos municípios de Assis Brasil (fronteira com o Peru), Brasiléia (fronteira com a Bolívia), Xapuri, Porto Acre e Rio Branco.

ABASTECIMENTO COMPROMETIDO - Mesquita revela que desde a década de 70, com o advento da pecuária em detrimento da falência dos seringais nativos, tiveram início os conflitos pela posse da terra nos municípios de Xapuri e Brasiléia, com repercussão internacional após a morte de Chico Mendes. Em relação às demais regiões, o Vale do Acre cresceu tanto que o rebanho bovino em 2003 está estimado em aproximadamente 1,8 milhão de animais, consumindo diariamente 32 milhões de litros de água, representando 960 milhões de litros/mês.

“O Rio Acre, na época de menor vazão, tem a capacidade de ofertar 1.209.600 m³/dia. Esse volume d’água será suficiente? Nem tanto. A estimativa de abastecimento para as cidades de Rio Branco, Brasiléia, Xapuri e Porto Acre está estimada em 1.600,00 m³/dia. Se não houverem significativas alterações climáticas capazes de alterar o regime do Rio Acre, ainda assim, será possível planejar ações preventivas contra o pesadelo que atinge a população acreana”, afirma o professor.

DESEQUILÍBRIO AMBIENTAL E ECONÔMICO - As declarações de Claudemir Mesquita revelam um absurdo desequilíbrio ambiental e econômico entre os Vales do Acre, Purus e Juruá. O Vale do Purus, por exemplo, com oferta magistral de água das bacias hidrográficas dos rios Purus, Iaco, Macauã e Caeté, tem a capacidade de disponibilizar 46% de toda água consumida no Estado sem prejudicar as reservas naturais dessas bacias. No entanto é a região menos ocupada com a pecuária, com indústrias e consequentemente a menos mexida pelo homem.

O Vale do Juruá, com a maior oferta de água natural do Estado, está representada pelos rios Juruá, Moa, Tarauacá, Envira e seus afluentes, tem capacidade de disponibilizar para todos os usos 54% de toda água consumida no Acre. Nele chove 2.200mm durante sete meses do ano. É o Vale mais protegido do território acreano e tem como símbolo da biodiversidade a beleza cênica, a fauna belíssima e a flora exuberante.

O Vale do Acre, por sua posição estratégica, concentra cerca de 72% da população total do Estado, como conseqüência detém a maior área de ação exploratória, representando cerca de 79% de área mexida no Estado, com aproximadamente 92% das atividades produtivas e industriais instaladas nesta região.

De acordo com o geógrafo, o Vale do Acre destaca-se neste contexto pela forte presença da atividade pecuária, onde até 1987 diagnosticou-se uma área de 303.600 hectares representando 87% das áreas de pastagens. O resultado dessa ação não tem sido satisfatória. “Hoje considera-se que 30% da área está ocupada inadequadamente e nota-se visivelmente marcas da erosão acelerada”, disse Mesquita.

PREOCUPAÇÃO TÍMIDA - A preocupação com os recursos hídricos da cidade de Rio Branco encontra foco em alguns setores da sociedade acreana. A Legislação Municipal expressa na Lei 1330/99 que estabelece a política municipal de meio ambiente, reflete esta preocupação, apresentado para a população regras mais clara para utilização, uso e orientação das atividades comerciais, como postos de lavagem, postos de gasolinas e esgotamento sanitário, além dos efluentes domésticas que mais poluem os igarapés e os rios.

A condução desse processo é realizado no município pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente através da escola de educação ambiental, identificando e propondo formas de minimizar os impactos destas atividades sobre os recursos hídricos.

Os efeitos da degradação ambiental refletem-se com o acelerado desmatamento da floresta em grandes áreas e das matas ciliares nas encostas dos rios e igarapés, além do crescimento populacional que exige cada vez mais o consumo de água tratada nas cidades.
Água imprópria para consumo - Cerca de 500 mil litros de esgotos são lançados diariamente de forma “in natura”, diretamente no leito do Rio Acre, bem como em córregos e igarapés que cruzam a cidade de Rio Branco. A informação foi passada em 2002 pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), à Procuradoria da República no Acre, em atendimento ao ofício nº 203/2002-PR/AC, referente ao uso das águas do Rio Acre nas proximidades da Gameleira, no Segundo Distrito.

De acordo com o relatório do Imac, existem aproximadamente 12 mil ligações residenciais conectadas a rede coletora de esgoto, o que corresponde a 20% da população beneficiada com esse serviço, estimando uma produção diária de 96 mil litros/dia de esgotos lançados diretamente no Rio Acre e igarapés. Como os 80% restante da população não dispõe de sistema de rede coletora de esgoto sanitário, conclui-se que todo esgoto produzido na cidade de Rio Branco é lançado no Rio Acre, sem nenhum tratamento.

Laudos de análises microbiológicas emitidos pela Unidade de Tratamento de Alimentos (Utal), da Universidade Federal do Acre (Ufac), em coleta de água do Rio Acre, apresentaram resultados alarmantes. A análise de coliformes fecais da amostra retirada no bairro Sobral, espantou os laboratoristas. Enquanto o limite de quantificação de coliformes considerada imprópria - para uso em banho - é 2.500, o resultado apresentado chegou ao patamar de 24.000.

Previsões da ONU - A crise de abastecimento de água potável prevista pela Organização das Nações Unidas (ONU) até 2025, tem como um dos elementos de sustentação técnica a irregular distribuição dos mananciais no mundo. Enquanto o Brasil possui 8% da água doce do planeta, 29 outros países sofrem por falta d’água.

Estatísticas das ONU revelam que aproximadamente um bilhão de pessoas não tem acesso à água tratada. Outra pesquisa das Nações Unidas realizada em 115 países mostra que nos próximos 25 anos,17 deles estarão com absoluta insuficiência de água, até mesmo para manter o nível de produção agrícola, industrial e as necessidades domésticas.

(Jornal A Gazeta, 25.05.2003)