segunda-feira, 24 de setembro de 2007

PRINCÍPIO DA IMORALIDADE

Leila Jalul

Há um princípio geral de direito estabelecendo a inexistência de crime, senão em virtude de lei. Há outro, na mesma linha de raciocínio, asseverando que, o que não está defeso em lei, está por ela permitido. O que vou expor não é nenhuma novidade para o mundo jurídico, muito menos para qualquer cidadão comum que possua, além da bunda amassada pelos bancos escolares, um mínimo de bom senso. Nem tudo que é legal é justo ou deixa de ser imoral, quando praticado à revelia da decência. Vai por aí o meu raciocínio.

O senador Renan Calheiros pode ter muito mais gente nas mãos dele do que se possa imaginar, inclusive fora do parlamento. Começou seu jogo baixo para se manter na cadeira, tenha feito acordos ou não, disparando contra qualquer um que pense atravessar seu caminho. Ainda no tempo da discussão de seus “desmandos”, atirou na direção de Jefferson Peres, fez todo tipo de ameaças veladas e não tanto. Agora atirou, segundo noticia a imprensa, na direção do senador Tião Viana. Atirou e acertou, não só nele, mas em todos os que consideram Tião Viana, inclusive nos que perdoam alguns de seus possíveis deslizes políticos, e pelos saltos que tem que dar, pelo fato de ser petista e ter que aparar arestas e florestas de contradições do governo Lula.

Como era de se esperar, Tião abre a boca e diz que, o fato alegado por Renan, objetivando incriminá-lo é, pasmem, regimentalmente permitido pelo Senado Federal. Ou seja, explicando melhor, cada senador tem direito de contratar um (ou vários?) assessores que não necessariamente trabalhem e/ou batam o ponto em seus gabinetes, mas que estejam à disposição das sedes dos partidos. Segundo entendi, e se bem entendi, esses assessores serviriam de ponte entre as ações do senado e as partidárias. Parece sensato, não? Mas não é, e explico:

1. Os partidos recebem um trocado graúdo, diretamente dos cofres públicos, para fazerem face às despesas que garantam a sua existência. Alguns partidos, apesar de nem existirem, numericamente falando, recebem esta fatia, ainda que de forma proporcional;

2. Os militantes contribuem sob a forma de dízimo. Não posso afirmar se todos, mas, com relação ao PT, afirmo. Isso até parece justo, porquanto chegou a sua vez, mas a justiça pensa em acabar com este mimo, em nome da moralização;

3. No mundo informatizado e com a tecnologia dos celulares, onde a comunicação entre tudo e entre todos ocorre em tempo recorde, não se admite mais a existência de meninos de recado, ou de office-boys ou office-girls da política, apenas para aliviar a folha de pagamento do partido tal ou qual, já subvencionado pelo Estado.

Se for permitida a mesma prática no Senado e na Câmara, vale fazer uma conta de chegar, por baixo e arredondada: 450 deputados mais 80 senadores, contratando apenas um ajudante, perfaz um total de 530 parlamentares. Considerando 530 parlamentares pagando (?) um salário base de R$ 4 mil aos assessores lotados nos comitês, já se tem mensalmente a insignificante quantia de R$ 212 mil que, ao longo de um ano, incluindo o décimo terceiro salário, atingiria a menosprezível cifra de R$ 2, 7 milhões. Uma merdinha de nada, não? Mais merdinha se se pensar no relevante trabalho, ó xente!

Tal cifra poderá chegar no estratosférico do imaginário dos pobres se, ao invés de um o parlamentar estiver liberado para contratar dois, três, quatro, cinco, ou seis. Aí é só uma questão de aritmética. Lugar da conta de multiplicar, sem prova dos nove, sem nada. A ver, sempre utilizando a mesma base de cálculo, anualmente: 2 assessores = R$ 5, 5 mil, 3 assessores (R$ 8,2 mil), 4 assessores (R$ 11 mil), 5 assessores (R$ 13,7 mil), 6 assessores (R$ 16,5 mil).

Essa trabalheira poderá ser toda jogada na lixeira caso nem todos paguem o que dizem pagar, nem todos recebam o que gostariam de receber, não é Geraldinho Mesquita?

Essa trabalheira poderia ser toda jogada na privada, não fosse o ressentimento do povo, quando descobrir que não existe um partido só seu, aquele pelo qual, debaixo de sol ou chuva, arregaça as calças, assiste palestras, empunha bandeiras e arrebanha votos para sua legenda imaginária. Seu partido é qualquer um dos que cometem a mesma prática, independentemente do matiz das ideologias.

Entre Gabeira e Severino, entre Tião e Inocêncio, Ideli e Roberto Jefferson, a diferença se esvai nas garras do desconhecimento dos imbecis eleitores? Tomara que eu esteja errada e as minhas contas também. Ficarei feliz. Muito feliz.

6 comentários:

Unknown disse...

Caro Altino, Infelizmente após toda onda de mensalão, mensalinho,dança da pizza e queda dos principais dirigentes do país e agora isso; só podemos chegar aconclusaõ de que você não está errado quanto ao raciocinio. talvez esteja quanto as contas que devem ser bem maiores....

ALTINO MACHADO disse...

JC: o artigo e as contas são da autoria da Leila Jalul.

Anônimo disse...

Leila
Vc ainda tá fazendo contas, minha querida? Desista disso, por favor.
Eu sou um dos que, pasme, acreditei nos "valores" do partido que hoje está no poder e que seu líder maior, Lula, afirma alhures que o Zé Dirceu foi cassado sem motivo justo...
Lembra do Gonzaguinha?: "eu acredito nessa juventude?"...

Anônimo disse...

JC, a bronca é apenas com a permissão regimental de se contratar pessoas para prestarem serviços nas sedes e comitês dos partidos. Os impostos de quem trabalha ou já trabalhou não deveriam ser usados assim. O quadro de assessores dos gabinetes é necessário e faz parte de verba apropriada para tal. Pode ser discutível o número deles e as tarefas que desenvolvem .
O que não quero entender é o pagamento de ativistas ou cabos eleitorais, ou de empregadas domésticas, de motoristas particulares, jagunços, espias, jardineiros e toda a criadagem dos nossos parlamentares.
Se for pensar nesta monta, não tem zero que aguente sem escangalhar a máquina calculadora , pois vira uma equação impossível.
Mas eu quero é estar errada, tanto no raciocínio quanto nos cálculos.
Leila Jalul

Saramar disse...

Leila, querida, não fiz contas. Confio em seus cálculos.
Ademais, ando cansada de calcular o quanto a lei permite que seja tirado do meu bolso para sustentar os "representantes" do povo.
A imoralidade é clara, neste caso. Apesar de não ferir qualquer lei (e quem as elabora?), fere a justiça, coisa que, neste país, anda enterrada justamente sob o peso da lei.

beijos

Anônimo disse...

Leila, saudade das nossas conversas virtuais...Como vc está? Fiquei sabendo do lançamento do seu livro, PARABÉNS viu? Sucesso! Beijão, Isis Lopes.