quarta-feira, 11 de julho de 2007

ALERTA AO GOVERNO BRASILEIRO


Conversei nesta manhã com o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, chefe da Frente de Proteção Etnoambiental do Rio Envira, na fronteira do Acre com o Peru. Veja o que ele disse:

- Tô com o pé na canoinha pra subir o Envira. Boa viagem, de eu só. São cinco dias agarrado no timão do motor de rabeta e dando tratos à bola. Sou o funcionário beija-flor, aquele que entra pela porta e sai pela janela. Pretendo voltar no início de setembro, se os parentes não me fritarem. Passei um expediente para a presidência da Funai, alertando sobre o que poderá ocorrer se nada for feito do lado de lá da fronteira. É um alerta do conflito que poderá envolver índios isolados, índios contatados e brancos. Guarde o documento e, caso ocorra alguma merda, publique-o, pois nessas horas o povo costuma dizer que não sabia e tal. Fique com ele na agulha. Minha intuição diz que, ainda neste verão, haverá uma grande fatalidade. Estou avisando ao povo há muito tempo. Se eu estiver no mato e acontecer algo com os parentes, publique.

Decidi não esperar. Leia o documento na íntegra:

"MINISTERIO DA JUSTIÇA
FUNDAÇAO NACIONAL DO INDIO

UM ALERTA!

Desde o ano de 2005 somos sabedores da exploração de madeira na Amazônia Peruana, próxima à fronteira do Brasil, nas cabeceiras dos rios Purus, Envira e Juruá. Alertávamos que esta exploração ilegal de madeira em áreas protegidas no Peru empurraria os povos isolados que viviam nestas regiões para território brasileiro, podendo gerar conflitos, ou aparecimento de grupos isolados em locais onde nunca isso ocorreu.

Nos últimos quinze dias vários fatos novos ocorreram. Um grupo de índios isolados apareceu em um local chamado Liberdade, nas cabeceiras do Envira, último local onde moram brancos neste rio, dois dias rio-abaixo da frente Envira, fora de qualquer terra indígena, e saquearam todos os bens, deixando os brancos com a roupa do corpo.

Numa aldeia Kampa chamada Bananeira, desocupada a pouco tempo, onde ainda residem duas famílias, perto de 100 índios isolados, entre homens, mulheres e crianças, apareceram e ocuparam a antiga aldeia por um dia e uma noite e levaram tudo que puderam.

Nas cabeceiras do rio Humaitá, na TI do mesmo nome, os índios Kaxinauá estão preocupados com a proximidade dos isolados.

Enfim, em toda a região de fronteira do Acre, a partir de agora, poderão ocorrer fatos semelhantes.

Ou a FUNAI através do Governo Brasileiro abre um canal de negociação com o Governo Peruano, ou todos nós, moradores da fronteira estamos ameaçados. Brancos, funcionários da FUNAI, índios contatados e principalmente estes povos isolados que estão sendo expulsos de suas terras tradicionais.

Estamos bem próximos de um desastre com mortos e feridos

José Carlos dos Reis Meirelles Júnior
Coordenador da Frente Envira"

Assista reportagem sobre a grave situação na fronteira do Acre com o Peru em
telejornal apresentado por Boris Casoy

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