segunda-feira, 2 de julho de 2007

ADEUS A UM COMANDANTE

Antônio Klemer

Por ser feito à imagem e semelhança de Deus, creio que o homem é, como Ele, imortal. E, por isso, não deveríamos ficar tristes ao constatarmos a transitoriedade da matéria, ao ver partir quem divide ou dividiu conosco o tempo por aqui. Mas o homem também tem um coração, que se entristece, chora e sente. E comecei a semana precisando de fé para resistir “no dia mau”.

Nesta segunda-feira fui surpreendido com a notícia da perda do comandante Everaldo Maia de Queiroz, um sujeito a quem amava muito e a quem deverei eternamente o investimento que fez em mim, desde que me pôs na Folha do Acre como repórter político, depois diretor da sucursal de Cruzeiro do Sul, líder do MR-8 no Acre, da Juventude do PMDB e analista de conjuntura política - coisas que me serviram e servem até hoje.

Além do mais, pelo seu caráter de guerrilheiro, disposto a amar e fazer guerra com a mesma disposição, também me influenciou como homem. Estivemos conversando pelo MSN várias vezes e, numa dessas escapadelas que tenho dos afazeres da vida que levo aqui, no Rio de Janeiro, fui bater na Praça dos Tocos, em Rio Branco, numa tarde cheirando a tacacá e lembranças, dia em que uma embiricica de saudosistas foi reinaugurar aquela peça de memória das cachorradas e namoros do pessoal da minha época.

Ainda tive tempo de remendar os discursos e revelações das autoridades presentes ali, relembrando ao Everaldo Maia que naquela bucólica e histórica pracinha tinha um poste que dava choque. Ehehe! Acho que ele sabia mais do que eu...

Fiquei de longe, anônimo aos meus antigos ídolos, bicorando aquela velharada e, quando tive uma chance, me aproximei do palanque e, furtivamente, me fiz ver pelo comandante, cumprimentei-o, parabenizei-o porque a praça leva o nome do pai dele, botei a viola no saco e nunca mais o vi.

Do Rio, falei com ele novamente via internet e ele, engraçado, disse que não estava no Acre, mas em Brasília, “ assessorando o Lula”. Nem me lembro mais a qual rolo do Lula ele se referia, mas acho que era assunto piscoso, aquele negócio do lambari. Rimos muito e agora Deus deu no pé do peitoral, matou rabo e linha do Everaldo. Pule!

O cidadão Everaldo Maia tem grande significado na formação e desenvolvimento das lutas populares do Acre, desde o início dos anos 80. Ajudou na fundação da Umarb, da Famac, do atual Sindicato dos Jornalistas, entre outros sindicatos e associações. Democrata, ele estava sempre mantendo sua coerência, posicionando- se do lado que devia, mesmo a despeito das incoerências da velha esquerda que defendia, agüentando o fardo dos desvios táticos dela na história.

Sua saúde andava prejudicada nesses últimos tempos em parte por causa disso. Ele não era de ferro. Foi o Altino Machado quem me deu a notícia triste, que repassei logo ao Chico Araújo. Tanto Altino, como eu, Chico, Józimo, Piteco e tantos outros fizemos história com o Everaldo, cada um do seu jeito.

A vida é mesmo assim, dizem os poetas! A palavra de Deus diz, em Salmos, que “preciosa é, à vista do Senhor, a morte dos seus santos”. Assim, me sustento face às notícias que me vêm do Acre. Que Deus sustente Januário e Joema, filhinhos do meu velho amigo e comandante. E que a história seja mais justa com ele do que tem sido com o tio dele, o Mário Maia, e tantos outros poetas e filósofos cuja saúde não agüentou o banzeiro.

Antônio Klemer é jornalista acreano

4 comentários:

Anônimo disse...

Concordo: o estado também mata.

Saramar disse...

Altino, sinto muito a perda do amigo.
Principalmente se o desgosto foi uma causa.
Não só ele morrerá disso.

beijos

Anônimo disse...

Antonio Klemer.
Eu estava lá naquela praça. Boa lembrança. Everaldo era exatamente isso. Um guerrilheiro. Nos fará falta.

Anônimo disse...

Klemer e Altino, fiquei muito emocionada ao ler a homenagem ao psicólogo Everaldo Maia. Todos sabemos da trajetória profissional de Everaldo e até sabia de alguns cargos importantes que ele ocupou, mas esse artigo também me abriu os olhos para a importância e contribuição de Everaldo para a formação política de nosso Estado. Residi fora por 10 anos e não participei de alguns movimentos. Perdi algumas coisas no meio do caminho. Mas achei muito bonita a história que ligava os caros amigos de jornalismo ao Everaldo, assim como os parabenizo pela bela mensagem de gratidão que vcs deixam. Gratidão não é para muitos, é um sentimento que existe somente em corações mais sensíveis e ternos.

Assim como vc, Klemer, lembrei muito daquele dia da inauguração da praça que levou o nome de seu pai, Antônio Júlio Maia de Queiróz. No meio do "aperreio" que sempre é fazer um cerimonial, lembro bem que ele, ao falar em nome da família, muito emocionado, chegou a dizer que não podia mais àquela altura da vida passar por outras emoções semelhantes.

Mas, homem altamente espiritualizado e sereno, com certeza será bem recebido no outro plano da vida.

Deixo, juntamente com vcs, minhas sentidas condolências a sua mãe Zilma e demais familiares, e, meu sentimento de solidariedade à Joema (menina muito dócil) e ao querido amigo Janú (que foi modelo da nossa agência quando adolescente e chegou a modelar em São Paulo - mas nunca foi a praia dele!).

Abraços,
Jackie Pinheiro