terça-feira, 1 de maio de 2007

O QUE VI NO ACRE


Caio Junqueira

O Acre sempre foi algo curioso para mim. No colégio, costumávamos brincar com o Estado, muito em razão da distância dele para o “centro” do país. Como seria? Iríamos algum dia para lá? Passados alguns muitos anos, tive a oportunidade de conhecê-lo. O desejo vinha sendo alimentado com a minha constante busca de pautas na região Norte do país, com certeza a menos explorada pela mídia sulista, mas não por isso a que menos tenha pautas a serem exploradas. Minha porta de entrada na região foi este blog, pelo qual passei a acompanhar o dia-a-dia do Estado e da região. A gota dágua foi a proposta do senador Tião Viana de prospectar petróleo e gás natural no Vale do Juruá. Prontamente, questionei-me: não seria uma contradição com a imagem disseminada país afora de desenvolvimento sustentável e florestania? Estava aí a história a ser contada. Aprovada a viagem pela direção do jornal, fiz as malas e embarquei.

Na chegada, minha primeira impressão foi diferente do que sempre imaginei. Uma longa estrada bem cuidada me conduziu até o hotel. Era tarde da noite, o que me impediu de avaliar melhor o significado daquela terra. A partir do dia seguinte, quando comecei a conversar com as fontes, o jeito acreano passou a ser mais claro para mim. Eram pessoas apaixonadas pelo lugar, pela história e pelo seu povo. De todas as matizes ideológicas e profissionais que tive contato, notei claramente um intenso amor pela floresta. Algo que eu já imaginava, mas que, visto de perto, amplifica-se sobremaneira.

Essa relação Acre-pessoas-floresta foi o aspecto mais marcante dos cinco dias em que estive no Estado. A forma como há uma interação, para bem e para mal, do indivíduo com a grande mata que o circunda foi uma experiência antropológica incrível. E por meio dela, percebi que justifica-se tudo. A exploração econômica da floresta —qualquer que seja ela— é usada para justificar a sua preservação, ao mesmo tempo em que a repulsa à exploração econômica também é utilizada como uma forma de preservá-la. No meio disso, uma população que respira a floresta, seja por ela ser sua mais importante fonte de sobrevivência, seja pelo fortíssimo calor diário que afeta a todos. A floresta, assim, está em todos os lugares. Quando falta fisicamente, sobra abstratamente. Quando ganha volume ao longo da estrada, falta no imaginário de quem a quer destruir —ou “explorar“. Essa paixão pelo ambiente que o circunda é, sem dúvida, a principal marca que levei do Estado. Nunca havia visto e sentido nada igual.

A população e o modo como fui tratado, desde os recepcionistas do hotel até os vendedores do mercado municipal, também colocaria na lista do ”isso-não-se-vê-por-aí-tão-fácil“. Carregam todos uma simplicidade bucólica de uma cultura que parece, não deseja o progresso se isso significar grande alterações no seu modo de vida, ainda que com eventuais facilidades que isso possa trazer. Sem falar do alto grau de politização, auto-explicável pelo Teatro Plácido de Castro lotado em uma quinta à noite para acompanhar um debate sobre a prospecção. Somem-se a isso as incontáveis camisetas com o nome do Estado que as pessoas, orgulhosas, desfilam pelas ruas. O melhor retrato disso, para mim, foi quando perguntei a uma mulher na Fundação Elias Mansour: ”Você é daqui?“. ”Sim, sou acreaníssima“. Evidentemente, o acreaníssimo dela embute mais que um ”ser daqui“. Acopla um ”sou e amo aqui”, algo incomum nos outros Estados. Eu, por exemplo, nunca respondi a semelhante pergunta com um ”sim, sou paulistíssimo“, muito embora seja criado no interior paulista e viva na metrópole há mais de dez anos. Talvez porque há sim muito mais a que se orgulhar estando na ponta oeste do país do que aqui no ”centro“. Mais do que isso, talvez porque ser do ”centro” possa contabilizar muito mais desvantagens do que quem está na ponta, a começar pela própria existência de uma magnífica floresta que habita dentro de seu povo.

Todavia, há senões a serem considerados e remeto aqui à minha profissão. Vi no Acre, infelizmente, uma imprensa amarrada e com uma série de aberrações. Dou exemplos. Na terça-feira em que pela primeira vez amanheci em Rio Branco, as manchetes dos jornais locais eram a nota do governador Binho Marques à matéria da revista Veja que apontava um aumento do desmatamento no Estado. Ora, “nota à imprensa” elaborada por um governador não pode, na minha avaliação, ser manchete de jornal nem aqui nem na China. Aliás, na China até pode, porque lá há um regime autoritário instaurado, de fato e de direito. No Acre, como no Brasil, não. Ao menos “de direito”. Outra aberração são matérias semelhantes publicadas nos jornais, feitas provavelmente pelas assessorias de imprensa da classe política dominante em Rio Branco e em Brasília. Para quem é jornalista e ama a profissão, isso é uma prática altamente condenável. Publicar releases de políticos é um desrespeito ao leitor, uma vez que o priva de princípios básicos do jornalismo: a isenção e o senso crítico. Creio que os indicadores sociais do Estado não estariam em um nível tão baixo se a imprensa ficasse mais em cima de seus governantes nos últimos anos. Mas claro que a culpa não é só da imprensa. Políticos acostumados a esse expediente são tão culpados quanto os jornalistas que a aceitam. Mas com certeza para eles o negócio é bom. Não vale esperar deles a iniciativa por uma imprensa livre no Estado. Isso deve vir ou dos leitores ou dos jornais.

Essa prática é tão condenável que cria nos políticos locais um hábito péssimo de não terem a oportunidade de serem confrontados. Vi no Estado políticos não acostumados a prestar contas, a perguntas incômodas. O que é sintomático pela atitude do governador Binho Marques de não me receber, mesmo tendo feito o pedido com mais de dez dias de antecedência. Por ora, a saída para acreanos que querem informação é esse blog. Mas, sem dúvida, um comportamento diferente da imprensa acreana só ajudaria os debates e a evolução desta terra.

Em suma, vejo o Acre como um Estado humanamente desenvolvido, se tomar esse desenvolvimento como a satisfação com o ambiente em que vive. No entanto, há trincas a serem corrigidas na organização sócio-política que se contradizem com esse desenvolvimento que menciono. A sensação de bem-estar disseminada pelas pessoas não deve fazer com que sejam perdidos conceitos fundamentais para a evolução _frise-se, humana_ de uma sociedade. No caso, o senso crítico. A construção disso é a tarefa que se faz mais importante e, certamente, seus resultados são os primeiros a aparecer.

Caio Junqueira é repórter da editoria de política do jornal Valor Econômico.

9 comentários:

ALTINO MACHADO disse...

Comentário do economista acreano Mário Lima, que trocou o Acre por São Paulo:

"Dispensando alguma referência aos salamaleques iniciais, falando sobre surpresas agradáveis e a paixão dos acreanos pela terra, pelo menos, duas passagens do texto de Junqueira chamam a atenção e merecem algum comentário.

1) "Essa prática é tão condenável que cria nos políticos locais um hábito péssimo de não terem a oportunidade de serem confrontados. Vi no Estado políticos não acostumados a prestar contas, a perguntas incômodas. O que é sintomático pela atitude do governador Binho Marques de não me receber, mesmo tendo feito o pedido com mais de dez dias de antecedência. Por ora, a saída para acreanos que querem informação é esse blog. Mas, sem dúvida, um comportamento diferente da imprensa acreana só ajudaria os debates e a evolução desta terra."
2) "A sensação de bem-estar disseminada pelas pessoas não deve fazer com que sejam perdidos conceitos fundamentais para a evolução _frise-se, humana_ de uma sociedade."

São duas passagens, assentadas em velha perspectiva, marcada pelo preconceito e pela prepotência. Os viajantes de sempre, levando em suas bagagens a visão do colonizador que visita a periferia - que, por aqui, costumam denominar de "grotões” - para iluminá-la com o seu saber, seu desprendimento e cultura. Na visão do jornalista pratica-se, no Acre, uma imprensa qualitativamente diferente da que se pratica no Brasil (que entendo que para o autor da matéria seja São Paulo). Isso, em virtude da independência da imprensa (paulista?), relativamente à classe dominante e do servilismo da imprensa acreana aos políticos, aos poderosos em geral. O que é mais interessante é que Junqueira não se limita a uma análise da prática jornalística. Pretende extrair de sua visão de alguns dias no Acre uma análise sociológica da realidade acreana. É o que contém o segundo destaque.

Além do mais, a conclusão contida no segundo destaque consegue passar uma visão distorcida do que deve ser e de quem poderia decorrer a crítica social. Pelo menos uma visão exagerada do papel e da importância da imprensa na dinâmica da sociedade, que, reconheçamos, não deve ser subestimada. Entretanto, a posição e o exercício da crítica é um exercício de cidadania e não prerrogativa de algum segmento da sociedade em particular.

A identificação de uma ligação mais visível, mais estreita, entre matérias e release de gabinetes de políticos é possível, de fato, na realidade acreana. Mas, afirmar isso como uma característica “acreana” é falsear a realidade. O que, na verdade, acontece, em situações como a paulista, por exemplo, é uma maior diversificação dos interesses disseminados sobre a forma de notícias. Há, evidentemente, uma maior comunidade de jornalistas bem preparados para reformular matérias e temas dando-lhes formas mais jornalísticas, em São Paulo do que no Acre. Há, em síntese, um mais intenso e efetivo processo de encobrimento das relações entre os interesses políticos (ou interesses de qualquer outra natureza) e as matérias nos jornais. Há, em São Paulo, uma maior participação de matérias preparadas por jornalistas, de fato, independentes? Claro que há. Uma maior comunidade de leitores tem relação com o número significativamente maior de nomes que podem manter independência e fazer prevalecer em seus textos posições críticas e isso não resultar em perda de emprego. Nem sempre, mas ocorre – há predominância das opiniões fundadas nas posições de classe.

Diariamente, assistimos e lemos, nos jornais editados no Sudeste, matérias que, segundo seus autores, decorreram de "conversas" mantidas com empresários, políticos, etc. O que, na maioria das vezes, não se diz, é que as tais conversas resultaram de convites formulados pelos políticos ou por algum empresário. Ou seja, resulta da declarada intenção de tornar público algo de seu interesse.

Não faz muito tempo - eu passava pela praça da República naquele momento -, assisti um fato que bem demonstra a inadequação da separação que Junqueira efetua entre Acre e Brasil. Pressionado por uma greve de professores que se arrastava sem sinais de solução, o governador Mário Covas invadiu um acampamento, que os professores montaram em frente à Secretaria de Educação, e aos empurrões ultrapassou a barreira de pessoas que pretendiam impedir a entrada no prédio. Aquele ato significava uma demonstração de força e destemor do governador diante dos movimentos sociais. Furioso o governador deu entrevistas sobre a posição dos professores que se negavam em reconhecer as lutas políticas que ele desenvolvera ao longo de sua vida. Junqueira dirá que, afinal, se tratava de Mário Covas. Pois é, Covas não aceitava a posição crítica do movimento docente e dos demais trabalhadores na educação aos rumos que seu governo tomava.

Quando Junqueira reclama da negativa recebida do governo acreano, cabe indagar: quantas vezes, ele terá sido recebido pelo governador de São Paulo ou mesmo pelo prefeito da capital? Quantos pedidos de entrevistas são negados, diariamente, pelo Palácio dos Bandeirantes? E mais, essas entrevistas são deixadas para os "grandes nomes" mantidos pelos jornais com essa finalidade. Os capitães da indústria e políticos, pelo menos, aqueles de maior cacife, não concedem entrevistas para qualquer jornalista. Reservam-se para momentos mais grandiosos conduzidos por algum grande nome da imprensa.

Há profundas e graves dificuldades nas relações imprensa e poder político no Acre? Há. Certamente há e seria socialmente saudável que fossem superadas. Mas, não se pode afirmar que isso é coisa do Acre. Não dá para afirmar que isso não ocorre quando o jornalismo é resultado de segmentos “iluminados” de outras paragens brasileiras. Há maior visibilidade de determinadas relações numa pequena comunidade do que a possível nas maiores. Certamente, haverá melhorias em situação de relações mais complexas as quais, por sua própria complexidade, exigem formatos e modelos diferentes e, por vezes, mais concertados com ambientes menos sufocados pelo autoritarismo. Mas, paciência, vamos com calma com o andor. As análises e as teses sociológicas não podem ser disparadas de forma tão ligeira como pretende Junqueira e nem no esquecimento do fato de que vivemos numa sociedade de classes e que a imprensa é, fundamentalmente, um monopólio da classe dominante

A frase, “sabe com quem está falando”, tenho a mais absoluta certeza, não é invenção de algum acreano."

ALTINO MACHADO disse...

Caro Atino, não conseguindo me cadastrar, envi-lhe este comentário cujo teor, gostaria
que fosse publicado:

Evinaldo Barbosa de Paulo

evinaldopaulo.paulo@bol.com.br

Não entendo a forma arrogante, prepotente e deselegante que o economista
Mário Lima responde ao Jornalista Caio Junqueira.

Todas as considerações feitas pelo jornalista, são verdadeiras, sobretudo as
que se referem a imprensa acreana - cujos patrões já chegaram a fazer greve
para receber verbas públicas e cujos empregados, com raríssimas exceções,
vivem a espreita de conseguir cargo no governo. Sou acreano, gosto do Acre e
concordo 100% com o artigo do Junqueira. No mais, não é nos nivelando por
baixo com outros estados, políticos e sua imprensa, que vamos eliminar a
nossa culpa.

Evinaldo Barbosa de Paulo, professor da rede estadual de ensino.

Fernando França disse...

Rapaz, Evinaldo, você parece que não entendeu nada do que o Mário escreveu.
Fernando França

ALTINO MACHADO disse...

Altino
Não consigo postar com essa de cadastro e senha...
Segue comentário ao post do Caio Junqueira
Raimundo Elizeu

"O professor Mario José de Lima, que foi tão ruim na administração pública quanto é bom na teoria econômica, reapareceu para defender a imprensa acreana do "ataque preconceituoso" do repórter do jornal Valor Econômico Caio Junqueira em seu post ao Blog do Altino.

Confesso que sinto falta do Mario Lima quando tento entender o fracasso econômico da florestania. Lamento a sua ausência. Se estivesse por aqui talvez a Universidade não fosse tão calada, tão omissa, tão abúlica.

Mas, eis que surge o Mário. E surge muito mal, pois vem para justificar, pela ilação de inexistência absoluta de imprensa livre, a escravidão da nossa. Mirou errado.

Não existe nenhum traço de preconceito ou de prepotência nas palavras do repórter. Pelo contrário. Nos parágrafos que Mario Lima resolveu "dispensar", fica evidente o caráter amável e equilibrado em relação ao Acre e aos acreanos.

Não existe nenhuma análise sociológica nas palavras do repórter. Existe a constatação fácil e verdadeira da auto-estima elevada (resultado da politica de cartões postais do PT) que tem o povo acreano. Simples assim.

Tivesse o jornalista Caio Junqueira vivido aqui alguns meses e certamente não teria a dizer apenas o que disse. Qualquer pessoa honesta sabe e não esconde que no Acre a imprensa é apenas correia de transmissão da vontade do Governo. A rigor, não temos nenhuma imprensa.

Mário Lima, a "ligação mais visível, mais estreita, entre matérias e release de gabinetes de políticos" não é apenas possível. É a própria imprensa. Nem seus amigos da imprensa contestam isso. Já perderam a vergonha. Simplesmente não se importam. Cumprem o papel pelo qual são pagos e pronto.

Embora se saiba que sua luta não era exatamente pela liberdade de expressão, o último veiculo de comunicação que tentou resistir aguentou até o ano passado. Se ajoelhou recentemente para não morrer de inanição.

Atribuir a relativa independência dos grandes jornais ao maior número e variedade de leitores e jornalistas em São Paulo, por exemplo, é dizer que todo pequeno jornal é obrigatoriamente dependente. Ao que me lembro sua inteligência permite raciocínio melhor.

Sugerir que o repórter paulista deu, por sua reclamação, uma "carteirada" no Governador é leviano. O que de fato ocorre, sempre, é que o petismo-vianismo instaurou e Binho segue, o modelo do "só falo o que quero, quando quero a quem eu quero". Binho não recebeu o repórter porque este não pediu ao Aníbal as perguntas que deveria fazer. Neste caso ele não poderia, como fez Jorge Viana certa vez, telefonar para o dono do Jornal e demitir o repórter por uma pergunta inconveniente.

Por último , caro Mario Lima, já que está com um tempinho livre para atentar para as coisas do Acre, que tal dar uso à sua estante e explicar como um grupo de acreanos de direita se assenhora da esquerda e, em seu nome, promove uma década de repressão à liberdade de imprensa e à manifestação de opiniões, de humilhação do legislativo, de domínio do judiciário, de atraso econômico e de culto à personalidade?

Aposto que isso voce consegue. Deixa o repórter livre ser livre".

Unknown disse...

Viver ou nascer no ACRE! O amor a gente adquire conhecendo a forma de ser do povo e da cultura acreana. Eu me esqueci que nasci no PR e quando me perguntão de onde sou falo que sou do ACRE. O jornalista sentiu parte disso. Imagina se criasse raizes no nosso Estado. Quanto à questão liberdade de imprensa ate aqui no sudeste vejo jornais atrelados de alguma forma aos releases comentados pelo jornalista. Gostei muito da abordagem dele e da sensibilidade em captar de forma sutil a forma de ser acreana.

ALTINO MACHADO disse...

Outro comentário do Mário Lima:

O jornalista Caio Junqueira, partindo das relações entre imprensa e poder político, desenvolveu, em seu texto, a idéia de que a comunidade acreana está impregnada por relações de subordinação que impedem o avanço humano do acreano. No meu texto, não há discordância quanto a isso. Mas, afirmo que ele desfigura a realidade para chegar a tal conclusão, na medida em que diz que tais relações são marcas da particularidade acreana.

O Raimundo Elizeu apóia a posição de Junqueira e aproveita para avançar a idéia de que tais relações de subordinação são uma invenção da atualidade acreana, invenção do grupo político no poder. No caso, a posição de Elizeu não percebe que as idéias de Junqueira são mais amplas, e que avançam para o conjunto da realidade, enquanto ele está interessado mesmo é no que é o ponto de partida do jornalista: as relações imprensa-governo.

Para incorporar a posição de Junqueira, Elizeu pretende ter realizado a crítica do meu texto. A meu juízo, o que faz é distorcer, completamente, o meu argumento e, até mesmo, falsear o meu ponto de vista incluindo elementos – conclusões, por exemplo - que não fazem parte do meu texto e do qual não é possível derivar. O meu esforço para desenvolver uma compreensão da realidade acreana pondo-a como um espaço articulado, integrado ao mundo do capital, é compreendida pelo Elizeu como um esforço para justificar a situação de coerção que, a seu juízo, marca as relações entre imprensa e governo. Ou que, simplesmente, meu esforço é uma defesa da imprensa acreana. Não se trata nem de justificar nem de defender. Existem, no Acre. pessoas que militaram ou militam na imprensa local que são alvos da minha mais profunda admiração. É uma admiração que tem por causa desde a capacidade de produzir textos primorosos, até o reconhecimento do engajamento que mantiveram nas lutas populares regionais, na luta social pela emancipação. Alguns já se despediram, outros ainda nos ajudam a embalar nossos sonhos de um mundo mais justo, mais igualitário. Mesmo assim, não no meu comentário, realizei uma defesa da imprensa no Acre.

O que defendo é a necessidade do esforço no sentido de uma análise concreta da realidade, a um mergulho em busca das raízes efetivas das condições concretas atuais, seja capaz de reproduzir concretamente a realidade criticada. A partir disso, poderia lembra o velho filósofo alemão que chamou a atenção para o fato que a “filosofia, - até o seu tempo -, dedicara-se a explicar a realidade, quando o objetivo deveria ser modificá-la”. Este ponto de vista influenciou e ainda influencia o campo das ciências sociais de forma profunda e produtiva. A ação de apreensão das verdadeiras determinações de quadros sociais específicos ganha sentido quando seu objetivo é fundamentar a ação para a mudança. A compreensão da realidade é a base para a ação.

O comportamento das pessoas responde ao conjunto de relações que dão o travejamento para o quadro social criticado. E perspectivas como a formulada por Junqueira se apóia na falsa idéia de um mundo fragmentado, formado por partes e setores ou regiões geográficas da sociedade estanques, uns avançados, outros atrasados. As idéias de atrasado e avançado como elementos contrapostos, separados, servem às posições mais conservadoras. Posições reacionárias porque laboram, estas sim, para impedir o aprimoramento das relações sociais. Mesmo quando contidas em discursos tipo progressistas, em defesa do progresso.

Para muitos, o atraso em muitos setores e regiões brasileiras nada tem a ver com o que acontece no sul maravilha, por exemplo. Não é sem sentido o uso da denominação “atrasado” para situações como a acreana. Falam de quem ficou para trás, incapacitado, por suas próprias razões, de acompanhar os rumos e ritmos dos que foram bem sucedidos na caminhada.

Até mesmo o comentário de Raimundo Elizeu sobre liberdade de imprensa fica fora do lugar. A minha ação frente ao texto do jornalista Junqueira, opondo-me aos seus pontos de vistas, às suas ilações sobre a realidade acreana e, por extensão, sobre a realidade brasileira, repito, a minha ação, simples e cristalinamente, reafirma o exercício livre do jornalista. Isso na medida em que me encaminhei para sua trincheira e lhe apresentei meus pontos de vista. Isso não impede a sua ação, ao contrário, oferece a ele o que qualquer um que se considere defensor da liberdade de expressão espera: a oportunidade do debate aberto.

Não pode o Raimundo Elizeu incluir o que bem lhe aprouver em meu texto. Não pode imputar conclusões onde elas não foram formuladas. Se o texto do Junqueira serve para animar suas brigas paroquiais, tudo bem. Vá em frente. Mas sem a minha contribuição porque entendo e foco adversários em outros planos. E isso basta.

ALTINO MACHADO disse...

Comentário do "bravo" Raimundo Elizeu Jr.:

Ao novo texto do professor Mario Lima. Está bem longo, mas é o jeito. Mário Lima merece.

1. Diz o professor “O jornalista Caio Junqueira, partindo das relações entre imprensa e poder político, desenvolveu, em seu texto, a idéia de que a comunidade acreana está impregnada por relações de subordinação que impedem o avanço humano do acreano. No meu texto, não há discordância quanto a isso”. (sublinha minha). Digo eu: nem concordância, não é, Mário?
2. Diz o professor “Mas, afirmo que ele desfigura a realidade para chegar a tal conclusão, na medida em que diz que tais relações são marcas da particularidade acreana”. Digo eu: Onde está essa desfiguração? Mostre. Se acha que referir à nota esdrúxula, provinciana e autoritária do Governo em defesa do ex-governador contra a revista Veja é particularizar, está muitíssimo enganado. Aquilo foi o que o repórter viu porque só esteve aqui o tempo de ver. Tivesse demorado veria mais.
3. Diz o professor “O Raimundo Elizeu apóia a posição de Junqueira e aproveita para avançar a idéia de que tais relações de subordinação são uma invenção da atualidade acreana, invenção do grupo político no poder”. Digo eu: OPS! Calma aí. Onde está que sugeri, ao menos, que foi invenção de agora? Só digo que é agora. De modo desbragado. Sem sequuer vergonha dos donos e editores dos jornais.
4. Diz o professor “ele está interessado mesmo é no que é o ponto de partida do jornalista: as relações imprensa-governo”. Digo eu; tá bom, e seu comentário está interessado em que mesmo?
5. Diz o professor “Elizeu pretende ter realizado a crítica do meu texto. A meu juízo, o que faz é distorcer, completamente, o meu argumento e, até mesmo, falsear o meu ponto de vista incluindo elementos – conclusões, por exemplo”. Digo eu: distorci onde? Falseei conclusões onde? Esta dito por você, Mario, “Os capitães da indústria e políticos, pelo menos, aqueles de maior cacife, não concedem entrevistas para qualquer jornalista. Reservam-se para momentos mais grandiosos conduzidos por algum grande nome da imprensa”, para justificar a negativa do Binho em receber o caio Junqueira. A conclusão obvia é que o Binho pode muito bem se negar e pronto. Também acho que pode. Mas sabemos porque.
6. Diz o professor “O meu esforço para desenvolver uma compreensão da realidade acreana pondo-a como um espaço articulado, integrado ao mundo do capital, é compreendida pelo Elizeu como um esforço para justificar a situação de coerção que, a seu juízo, marca as relações entre imprensa e governo”. (sublinha minha) Digo eu: a meu juízo? E ao seu? Nega, portanto, que haja relação de coerção da imprensa movida pelo governo do Acre?
7. Diz o professor “Não se trata nem de justificar nem de defender (a imprensa do Acre)”. Digo eu: não? De que se trata então? Quando ironiza a “independência” dos grandes jornais de S. Paulo e quando tenta minimizar a importância da imprensa acreana perante a sociedade, faz o quê mesmo?
8. Diz o professor “Existem, no Acre, pessoas que militaram ou militam na imprensa local que são alvos da minha mais profunda admiração. É uma admiração que tem por causa desde a capacidade de produzir textos primorosos, até o reconhecimento do engajamento que mantiveram nas lutas populares regionais, na luta social pela emancipação”. Digo eu: você deve estar falando do engajamento que tiveram em algum momento. Ajoelharam-se todos. Hoje, meu caro, o único engajamento possível é o universo dos Blogs, enquanto não alcançados pela fúria petista-vianista. Soluços de debate como este que travamos não é possível nos jornais dos seus velhos amigos “engajados”. Acha você que algum jornal acreano publicaria o texto do Caio Junqueira?
9. Diz o professor “O que defendo é a necessidade do esforço no sentido de uma análise concreta da realidade, a um mergulho em busca das raízes efetivas das condições concretas atuais, seja capaz de reproduzir concretamente a realidade”. Digo eu: Mário, você não perde a mania de fazer as palavras correrem atrás do próprio rabo quando não sabe o que dizer. Queria que no post ao Blog do Altino o repórter fizesse um mergulho na busca das raízes efetivas e coisa e tal? Não me faça rir. Ah! Teria ficado mais bonitinho se desse o nome do velho alemão... eheheh
10. Diz o professor “E perspectivas como a formulada por Junqueira se apóia na falsa idéia de um mundo fragmentado, formado por partes e setores ou regiões geográficas da sociedade estanques, uns avançados, outros atrasados.” Digo eu: Em nenhum momento o repórter fez menção ao atraso do Acre em relação a qualquer região ou estado. Uma leitura honesta poderia talvez identificar justamente o contrário no texto do repórter. A não ser que você esteja falando como paulista e sentindo-se menosprezado. Caio Junqueira não demarcou territórios nem tempos. Tão somente identificou um dado da realidade acreana. Específico, bruto, cruel, que contamina e emburrece o cidadão. A absoluta dominação da imprensa pelo governo. Ponto. O resultado e a extensão sociológica disso é barro para outros oleiros.
11. Diz o professor “A minha ação frente ao texto do jornalista Junqueira, opondo-me aos seus pontos de vistas, às suas ilações sobre a realidade acreana e, por extensão, sobre a realidade brasileira, repito, a minha ação, simples e cristalinamente, reafirma o exercício livre do jornalista. Isso na medida em que me encaminhei para sua trincheira e lhe apresentei meus pontos de vista”. Digo eu: negativo! Seu texto dá uma carteirada no repórter. Em suma, está escrito “Quem é você pra passar alguns dias no Acre e tirar conclusões sobre nossa imprensa, sua influência na sociedade, seus jornalistas e suas condições mesmas de realizar a informação?” Até o Mário Covas foi lembrado. Fala sério...
12. Diz o professor “Não pode o Raimundo Elizeu incluir o que bem lhe aprouver em meu texto. Não pode imputar conclusões onde elas não foram formuladas”. Digo eu: foi seu texto que tirou conclusões do que disse o repórter. Você escreveu “Além do mais, a conclusão contida no segundo destaque consegue passar uma visão distorcida do que deve ser e de quem poderia decorrer a crítica social. Pelo menos uma visão exagerada do papel e da importância da imprensa na dinâmica da sociedade, que, reconheçamos, não deve ser subestimada.” Se isso não é ver uma conclusão no texto de alguém... Certo é que sua crítica minimiza o papel da imprensa no Acre. Não deveria. Compreendo mesmo, sinceramente, que estando afastado da terrinha tenha perdido a balança em relação a isto. Tudo bem. Mas, creia, a farsa do petismo-vianismo só se estabeleceu através do domíno da imprensa. Venha ver.
13. Diz o professor “Se o texto do Junqueira serve para animar suas brigas paroquiais, tudo bem. Vá em frente. Mas sem a minha contribuição porque entendo e foco adversários em outros planos. E isso basta”. Digo eu: Tava demorando. O Velho Mário Lima guardou para o final a sua velha boçalidade. Jogou o pobre Raimundo Elizeu na vala da paróquia. Deve estar pensando “Porque vou perder tempo em debater com esse provinciano”. É mesmo, né? Se não fosse o Caio Junqueira repórter do Valor Econômico, nem teríamos experimentado a sabedoria do Mário. Puxa... por falar nisso, dá uma olhada lá na sua estante e veja o que o velho alemão pensava sobre isso.

Em tempo: O professor não disse uma palavra sobre o petismo-vianismo. Por que será?

Unknown disse...

Porque fica complicado desenvolver essa conversa: numa passagem do último comentário de Raimundo Elizeu encontra-se o seguinte:

"Deve estar pensando “Porque vou perder tempo em debater com esse provinciano”."

Meu último comentário é dedicado a responder o que ele, Raimundo Elizeu, falou em sua primeira mensagem. O resto de sua última mensagem vai no mesmo diapasão.

Unknown disse...

Altino, apenas um reparo: não troquei o Acre por São Paulo. Trabalho em São Paulo, onde por conta disto, mantenho residência.