sexta-feira, 18 de maio de 2007

A EMOÇÃO COMBATIVA DE CARTAXO

Moisés Diniz

A Assembléia Legislativa proporá, na próxima terça-feira, a mudança de nome do Plenário do parlamento acreano, de Milton de Matos Rocha para Francisco Cartaxo. Atos dessa natureza ocorrem todos os dias no planeta. Isso acontece porque a história é como a Roda de Ixião, ela nunca gira em sentido contrário.

A proposta suscitou um artigo do ex-deputado Osmir Lima que, desde já, respeitamos por sua história constituinte. Todavia, precisamos auscultar os fatos históricos, para descobrir se a emoção nasceu agora ou acompanha o homem desde as cavernas. E compreender que os sentimentos se misturam às ideologias, como o barro e o oleiro, o padre e a romaria.

A cada período histórico, a humanidade valoriza os seus homens e as suas mulheres. Perpetuar ou substituir um nome é uma questão de opção política ou ideológica. O caráter meramente histórico, como alguns sonhadores imprimem em suas teses, nunca serviu de norte para as elites. Duvido que, nos vinte e um anos da ditadura militar, algum revolucionário ou comunista tenha sido homenageado. Por que Luiz Carlos Prestes ou Olga Benário não são homenageados pela elite brasileira? E Zumbi? E Antônio Conselheiro? A lista é vasta, carregada de dor e muito sangue!

Aliás, a história quase sempre é corrompida. Os heróis se tornam bandidos, depois de esquartejados, e banidos dos livros de história. Os criminosos são cultuados e alguns até ganham ‘santinhos’ para distribuir nas festas que o povo pensa que é dele. Quantos generais criminosos emolduraram paredes suntuosas ou desbotadas de escolas?

Quanto ao tema em debate, faço questão de registrar meu profundo respeito, in memoriam, ao ex-deputado Milton de Matos Rocha, que morreu antes de assumir o cargo, num desastre aeronáutico. O referido ex-deputado teve o seu nome gravado em todos os documentos da Assembléia Legislativa do Acre durante quarenta e cinco anos. O seu nome foi pronunciado milhares de vezes nas últimas quatro décadas. Foi uma justa homenagem.

Milton de Matos Rocha elegeu-se pelo PSD. Seu suplente, Benjamim Ruella, mudou logo em seguida para o PTB. O que fez o senador Guiomard Santos, do PSD, pedir a sua cassação no plenário do Senado, por infidelidade partidária, no dia 26 de abril de 1963.

Vamos à história! Além de ter sido morto numa queda de avião, quem era e o que pensava politicamente o ex-deputado Milton de Matos Rocha? Será que a comoção não influenciou a homenagem? Todos sabem o quanto a opinião pública fica chocada quando ocorre uma morte por acidente. Mas, voltemos à sua história!

Se o ex-deputado Milton de Matos Rocha tivesse sobrevivido à tragédia teria participado da posse dos primeiros deputados estaduais acreanos, em 9 de dezembro de 1962. E, um ano e pouco depois, votado na sessão extraordinária da Assembléia Legislativa, do dia 8 de maio de 1964, encerrada às 13h55min. A famigerada sessão que cassou o mandato legítimo do primeiro governador eleito do Acre.

É que Milton de Matos Rocha era membro do PSD, partido de oposição a José Augusto de Araújo, cujos membros votaram em massa pela cassação. Os exílios, as prisões e a tortura decorrentes desse ato, todos já conhecem. Há ainda alguns vivos, marcados, outros foram fisicamente eliminados. Não me peçam para ir além disso!

Assim, a justa homenagem, durante quarenta e cinco anos, ao ex-deputado Milton de Matos Rocha foi patrocinada por seus correligionários do PSD, que acabavam de assumir o poder no Acre, através de um golpe militar, desprezando a opinião popular, que elegera José Augusto de Araújo.

Milton de Matos Rocha foi homenageado devido à comoção popular, causada por sua abrupta morte. O que não retira a justiça do ato. Acredito que os próprios familiares de Milton de Matos Rocha compreenderão a homenagem que a Assembléia Legislativa está fazendo ao deputado Francisco Cartaxo.

Milton de Matos Rocha, independente da sua posição política e ideológica, ficará para sempre na memória documentada da Assembléia Legislativa do Acre. Há, nesse sentido, um exemplo recente. A Sala das Comissões Aleomar Baleeiro hoje se intitula Sala das Comissões Ilson Ribeiro, proposta apresentada pelo ex-deputado João Correia, do PMDB.

Isso posto, considero extremamente descabida a opinião de que a Assembléia Legislativa do Acre esteja agindo sob emoção, ao homenagear o deputado Francisco Cartaxo. Só não seremos hipócritas, pois reconhecemos que o sentimento que tomou conta do Acre exerce também influência nessa decisão.

Todavia, o deputado Francisco Cartaxo vai além da emoção. A sua bela e corajosa história é a espinha dorsal da decisão do parlamento acreano. Isso a própria oposição reconheceu na sessão de homenagens ao deputado Francisco Cartaxo.

Moisés Diniz é deputado estadual pelo PCdoB

2 comentários:

Saudades do Acre disse...

Fatos dessa natureza tornam a política uma instituição verdadeiramente singular. Polemiza-se em torno de assuntos que, se concretizados ou não, em nada contribuirão para trazer mais bem- estar para a população em geral, perdendo-se tempo e retirando-se o foco das questões de real relêvo social. Creio que os dois maiores supostos interessados nessa discussão, onde estiverem, que Deus os tenha junto a Sí, devem estar pouco se lixando para essas iniciativas, que no fundo, envolvem mais interesse político do que outros sentimentos mais nobres. Meus sentimentos à família Cartaxo, esta sim, verdadeiramente abalada pela perda irreparável.

Marcelo Jardim disse...

Adorei o comentário acima, mas o q tinha a dizer é q independente de ser uma atitude ´´condizente`` com o ´´fluxo da história`` o fato é que, para mim, Cartaxo não teve nada justifique qualquer homenagem especial, a não ser, claro de parentes e familiares, mas aí já por questões de forum íntimo...

Ah, só mais uma coisa, essa postura de se preocupar com fatos absolutamente irrelevantes é de praxe desse deputado. Tempo desse passou meses falando do povo palestino, o qual tenho interesse e respeito, mas se preocupar com a ´´palestina´´ e pisar num mendigo (uma índia, provavelmente, se a cidade for Rio Branco e ainda não tiverem ligado pra SEPI ir retirar) na calçada de casa, já é um pouco de mais...