domingo, 29 de abril de 2007

ARMADOS NA BOLÍVIA

Grupo que exige autonomia para região rica do país tem milícias com 12 mil homens

Leonardo Valente

O fim dos trabalhos da Assembléia Constituinte da Bolívia, previsto para agosto, pode se transformar no estopim de uma das mais graves crises da história recente da América do Sul. A parte do país conhecida como Meia Lua, formada principalmente pelos departamentos de Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija, se prepara para deflagrar um confronto separatista armado de grandes proporções, caso as exigências de maior autonomia para a região não sejam atendidas pela nova Carta Magna. Segundo líderes regionais e analistas políticos, o movimento, chamado Nação Camba, tem milícias de cerca de 12 mil homens, armadas secretamente por lideranças locais, e que estariam recebendo treinamento de paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Fontes militares brasileiras temem que, em caso de conflito, o governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, intervenha a favor de Evo Morales, criando um cenário dramático numa frágil e vasta região de fronteira com o Brasil.

— Só estamos aguardando o fim dos trabalhos da Assembléia Constituinte.

Se não garantirem a autonomia que exigimos na Constituição, o caminho é a separação. Não existe meio termo, a situação é insustentável. Somos favoráveis à via política, mas não cederemos em nossos projetos pois é o desenvolvimento e a vontade do povo que estão em jogo. Tudo é possível — disse Sergio Antelo, um dos
líderes do movimento Nação Camba.

Armas seriam compradas de Israel  O território reivindicado pelos separatistas representa cerca de 70% da Bolívia, gera a maior parte da riqueza do país e tem os melhores indicadores sociais de um dos Estados mais pobres do continente. O movimento existe há décadas mas ficou mais forte com a chegada do presidente Evo Morales ao poder e suas propostas de “refundar” a Bolívia e rever o que chama de injustiças históricas contra a maioria indígena — a parcela mais pobre do país. Os defensores da autonomia alegam que Morales, com sua postura centralizadora, retira recursos das regiões mais ricas, por meio do recolhimento de impostos, sem dar contrapartida em investimentos.

— Não temos culpa da pobreza da parte andina do país. O que ele (Morales) está fazendo é empobrecer toda a Bolívia, pois o nosso dinheiro investido nas comunidades indígenas também não está melhorando a situação deles. Temos um objetivo claro, que é slogan de campanha: pátria ou morte — disse um funcionário de alto escalão do departamento de Santa Cruz, integrante do movimento, que pediu anonimato e confirmou a existência de milícias com cerca de 12 mil homens.

Três dos quatro departamentos fazem fronteira com o Brasil, com uma extensão de 3.423 quilômetros. Um conflito armado na região representaria uma séria ameaça ao Brasil. Além da preocupação de militares brasileiros de que uma intervenção de Chávez em favor de Evo Morales agrave o conflito, deve-se levar em consideração que a influência na crise dos paramilitares colombianos aumenta a
instabilidade na região.

O projeto de autonomia proposto a La Paz pelos separatistas para ser incluído na nova Constituição é o de um modelo de “Estado binacional”, o que daria aos departamentos (estados) da Nação Camba independência na gestão de recursos, na segurança interna e na administração. Morales rebate dizendo que isso não é um projeto condizente com um Estado soberano e integrado, e que a proposta é uma “desculpa para iniciativas que ferem a unidade e a soberania”. Morales conta com um efetivo de cerca de 25 mil homens nas Forças Armadas, e nos últimos meses recebeu helicópteros e armas da Venezuela.

— Se nossas exigências não forem atendidas, temos condições de fechar rapidamente a via de acesso que liga Santa Cruz à região andina (onde está La Paz). Isso impede a entrada de tropas de Morales. Mas já sabemos que se fizermos isso, Morales terá apoio de Hugo Chávez para fazer ataques aéreos.

Mas se ele aceitar isso, vai estar nos ajudando em vez de atrapalhar. Se a Venezuela se meter, teremos mais apoio da comunidade internacional — disse o funcionário, confirmando também que milícias estão recebendo treinamento das AUC e que armas estão sendo encomendadas a Israel. — Não somos bobos, precisamos
estar preparados para qualquer coisa.

Segundo fontes, as armas negociadas com Israel estariam chegando à região pelo Paraguai.

O professor e historiador da UFRJ Francisco Carlos Teixeira viajou pela Bolívia pelo Programa Pró-Defesa da Capes e da UFRJ — que tem como objetivo uma análise em larga escala das relações internacionais, com ênfase em questões da América de Sul — e confirma a gravidade da situação política na região e o clima de
tensão, especialmente em Santa Cruz: — Santa Cruz reclama do recolhimento dos impostos e dos privilégios dados por Morales aos aymarás (povo indígena). Por um lado, rever a miséria da população indígena é historicamente justo. Por outro, Santa Cruz também tem uma alegação justa, que é a de que a região, com forte
colonização européia, nunca participou da exploração indígena no resto do país.

No caso de uma situação de conflito, o principal temor do Brasil, segundo fontes militares, é o de uma intervenção da Venezuela, que em diversas ocasiões manifestou intenção de ajudar Morales com armas e homens.

— Brasília ainda não deu a devida atenção ao assunto. O momento de agir diplomaticamente é agora, evitando o mal maior que é termos um confronto em nossas fronteiras. O principal medo é a interferência de Hugo Chávez na região. Esse seria o pior cenário. Mas também não podemos menosprezar outros efeitos muito graves, como a ação de paramilitares e os estragos políticos desse tipo de confronto para a integração regional. Precisamos agir com inteligência mediatamente — disse um militar de alta patente, que pediu anonimato.

Leonardo Valente é repórter do jornal O Globo.

Um comentário:

Editor disse...

Altino,

O texto abaixo foi extraído da edição de hoje do jornal bolívia.com.

Eles poderiam ter atingindo qualquer outra embaixada, porém, escolheram a da Venezuela, de Hugo Chaves.

Além disso, o grupo assumiu a autoria, o que é um indicativo bastante perigoso de que, inevitávelmente, haverá conflito.

Não podemos descartar a intervenção da Venezuela. Se isso ocorrer, só deus sabe como ficará a situação da nossa fronteira.

Não esqueçamos que boa parte das lideranças bolivianas, aqui de perto, são separatistas.

"Separatistas tentan atingir Chaves e Morales"

Atentan contra la embajada boliviana en Venezuela

(Bolivia.com)

Un grupo terrorista autodenominado "Movimiento de Liberación Nacional Rómulo Gallegos" se adjudicó la responsabilidad de la detonación del artefacto explosivo, ocurrida este jueves en la Embajada de Bolivia en Venezuela.

Así lo informó el director general de la Dirección de Servicios de Inteligencia y Prevención (Disip), general Henry Rangel Silva, desde el Ministerio del Poder Popular para las Relaciones Interiores y Justicia (MIJ), señala un despacho de la Agencia Bolivariana de Noticias.

En tanto que el encargado de negocios de la Embajada de Bolivia en Caracas, Jorge Alvarado, señaló, en declaraciones a la Red Latinoamericana TeleSur, que se trató de un acto terrorista destinado a entorpecer las relaciones con Venezuela y expresó su confianza de que las autoridades locales esclarecerán el hecho.

Alvarado lamentó esa acción terrorista que no fue el primer atentado del grupo delincuencial. Las autoridades venezolanas detuvieron a un sospechoso de ese hecho.

Rangel señaló que la Disip ha desarrollado trabajos de inteligencia e investigación "a partir del 18 de febrero, cuando comenzó este grupo terrorista a colocar artefactos explosivos en diferentes sitios de la ciudad".

El funcionario leyó un correo electrónico enviado por el movimiento, en el cual, además de atribuirse la responsabilidad del atentado, amenaza con que las explosiones seguirán sucediendo.

"La explosión en la Embajada de Bolivia, en Altamira, es responsabilidad única y exclusiva del ‘Movimiento de Liberación Nacional Rómulo Gallegos’, que asume los hechos tal cual ocurrieron y seguirán sucediendo porque no lograrán
detener la batalla, llegó la hora", dice textualmente el mensaje firmado por alguien que se hace llamar "comandante Santos".

El jefe policial ratificó que este jueves en la mañana fue capturado, por la Policía de Chacao (Polichacao), el ciudadano Luís Rodríguez Villamizar, de profesión abogado. "Indudablemente, las evidencias que se consiguieron en su vehículo lo señalan como el autor material de la colocación del material explosivo", dijo.

Rodríguez Villamizar, según indicó el director de la Disip, se encuentra detenido en la sede de Polichacao y está a la orden de la fiscal 74 del Ministerio Público.

El funcionario reveló que el grupo está vinculado a otras once explosiones que han ocurrido en la ciudad.

Asimismo, aseveró que la Disip tiene ya ha identificado al "comandante Santos" y a la "subcomandante Bárbara", otro de los nombres que aparece en uno de los mensajes.

Informó que actualmente se realizan allanamientos en diferentes zonas de Caracas para poder esclarecer totalmente este hecho.

De acuerdo con Rangel Silva, el grupo terrorista manifiesta en sus mensajes críticas a las políticas del Gobierno nacional y pretenden, a través de estos hechos, difundir el movimiento.

"Una acción de este tipo causa un terror psicológico en la población y perturba la paz y el orden público", dijo.

Precisó Rangel que el movimiento evidencia en sus comunicados que está mezclado con el área jurídica, debido a que "la mayoría de sus integrantes son abogados".

Señaló que el grupo está conformado por unas seis personas; sin embargo, las investigaciones determinarán si son más.
Correspondencia, sugerencias e informaciones a:
prensabolivia@interlatin.com
Tel-fax: (591-2) 242 7158