sexta-feira, 16 de março de 2007

POLÊMICA SOCIOAMBIENTAL

Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre não prevê estudos para prospecção de petróleo e gás na fronteira com a Bolívia e o Peru

A segunda fase do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do Acre, o mapeamento para auxiliar na formulação de políticas públicas, não faz nenhuma referência aos estudos para prospecção de petróleo e gás na região de fronteira com a Bolívia e o Peru, onde estão nascentes de rios, tribos de índios isolados e o Parque Nacional da Serra do Divisor, considerado um dos locais mais biodiversos da Amazônia brasileira.

Na primeira fase do ZEE, a questão também não foi abordada. O senador Tião Viana (PT) faz gestões em defesa da prospecção de petróleo e gás no Acre desde 2000, quando aprovou emendas ao Plano Plurianual de 2000 a 2003 prevendo recursos de R$ 5 milhões para estudos de viabilidade de exploração de petróleo e gás natural no Vale do Juruá.

Neste ano, uma emenda parlamentar do senador garantiu R$ 75 milhões para que a Agencia Nacional do Petróleo (ANP) faça prospecção de petróleo e gás na região, na perspectiva de que a tecnologia existente possibilite que o potencial já mensurado na região do Juruá seja considerado uma jazida e com isso possa gerar royalties para o Acre a partir da exploração.

Os deputados estaduais que aprovaram o ZEE em dezembro do ano passado, sem se preocuparem com a inclusão da possibilidade de estudos de prospecção de petróleo e gás, em sua maioria são os mesmos que já manifestaram apoio ao senador. Eles querem que em nove meses sejam realizadas pela ANP as primeiras ações que vão definir se há ou não petróleo e gás em escala comercial.

O ZEE divide o Acre em zonas com diferentes perfis, indica quais tipos de ações serão ou não incentivadas em cada área, por meio de créditos ou projetos. O senador Tião Viana, que já está em campanha para tentar suceder o governador Binho Marques, tem na exploração de petróleo e gás a sua maior bandeira até agora.

A situação torna-se contraditória, pois o zoneamento territorial quer estimular, por meio de incentivos à zona rural, que o espaço ocupado por cidades e entornos se estabilize. Está no papel que o governo do Acre vai incentivar que as áreas urbanas não ocupem mais de 0,2% da área do Estado — o equivalente a 304 quilômetros quadrados durante os próximos quatro anos.

Os 152 mil quilômetros quadrados do Acre foram divididos em quatro áreas. Uma delas, com 0,2% do território, é formada por áreas urbanas e circundada por diferentes paisagens rurais e florestais.

Outra área ocupa 24,4% do território e abriga pequenas, médias e grandes propriedades, além de reservas ambientais. Uma terceira abrange 49,5% do Estado e é composta por Unidades de Conservação Estaduais, terras indígenas e projetos de assentamentos diferenciados com base florestal.

A quarta zona, que ocupa quase 26% do território, foi dividida em duas subzonas: a primeira poderá ser destinada à criação de novas terras indígenas, de projetos de assentamentos diferenciados e ao reconhecimento de áreas privadas; e na segunda — que é composta por ambientes de várzea com baixa densidade demográfica já ocupados por populações ribeirinhas — será possível realizar planos de manejo de recursos pesqueiros, florestais, de sistemas de produção agrícola, agroflorestais e da criação de animais em locais restritos.

CIMI ASSINA MANIFESTO CONTRA A PROSPECÇÃO


Reunidos em Rio Branco entre os dias 12 a 16 de março, por ocasião da reunião ordinária das equipes, o Conselho Indigenista Missionário - CIMI através de seu regional Amazônia Ocidental, decidiu tornar público sua posição contrária frente às intenções de prospecção de petróleo e gás natural em território acreano e incidindo sobre terras indígenas e unidades de conservação.

Entendemos que esta atividade é extremamente prejudicial ao meio ambiente e especialmente às populações tradicionais e indígenas por causa da interferência no modo de vida e na cultura das populações, degradação ambiental, construção de vias de acesso e escoamento, acentuação de fluxos migratórios e outras alterações imprevisíveis.

Ao longo da História, a exploração do gás e do petróleo não se revelou capaz de solucionar os problemas dos países pobres. Ao contrário, a experiência tem acentuado a desigualdade social e econômica. Como exemplos podemos citar os casos do Equador e Nigéria, em que a exploração do petróleo está concentrada nas mãos de companhias estrangeiras e o que resta do lucro serve apenas às elites destes países.

No caso acreano nos preocupa sobremaneira que a incidência de petróleo possa estar em territórios ocupados por populações indígenas isoladas e em região de fronteira, onde do lado peruano já ocorrem problemas de mesma ordem, além da maciça exploração madeireira, deixando estas populações sem perspectiva de manter o seu modo de vida assegurado tanto pela Constituição Federal brasileira como também pela Convenção 169 da OIT, da qual o Brasil é signatário.

Entendemos também que no mundo cada vez mais preocupado com as mudanças climáticas provocadas fortemente pela queima de combustíveis fósseis, e, sendo o Acre uma região de grande biodiversidade, é um contra-senso que neste contexto o apregoado desenvolvimento se dê justamente por esta via.

Diante do que foi posto e em profunda sintonia com o que nos convida a refletira a Campanha da Fraternidade de 2007, sobre os rumos da Amazônia e sua população, reiteramos nossa preocupação e posicionamento contrário a esta forma de produção e modo de desenvolvimento a qualquer custo.

Cimi Regional Amazônia Ocidental

Perguntei para Elenira Mendes se ela é defensora da prospeção de petróleo e gás no Acre.

- Eu sei qual o impacto ambiental que isso irá trazer para o nosso Estado. Tenho certeza que ele [Chico Mendes] não ia gostar de tudo isso - respondeu a filha do líder sindical e ecologista, que preside o Instituto Chico Mendes. A polêmica já é manchete no site Amazônia.

9 comentários:

Anônimo disse...

Caro Altino,

O Cimi, Regional Amazônia Ocidental, acaba de publicar uma nota sobre a prospecção de petròleo e gás em território acreano. A nota é política e aponta para embates interessantes no campo jurídico daqui para frente.
Quanto ao zoneamento, creio que houve muita precipitação para mostrar trabalho e desencontros durante os levantamentos feitos pelo GT. Muitos órgãos e instituições deixaram de ser ouvidos e de darem sua contribuição. Por esse motivo, penso que ele não reflete a totalidade dos mapeamentos a que se propôs.

Bom trabalho.

Lindomar Padilha

Anônimo disse...

Uma das características do Governo JV foi a pressão que foram exercidas sobre vários GT's para que se mostrassem o mais rápido possivel um relatório sobre um assunto específico, cito como exemplo a floresta do antimary o relatório que foi feito daquele local em vários pontos não reflete a realidade. Agora eis que surge o tão falado ZEE, conheço algumas pessoas envolvidas no processo de conclusão da 1ª fase e na época lembro-me dos relatos deles falando da pressão que era feita todos os dias para que se pudesse concluir o ZEE o quanto antes, mais um ponto negativo no meio de tanto positivos do governo JV. Em vários pontos optou-se pela pressão ao invés da perfeição.

Anônimo disse...

Estimados Altino, Lindomar, e todos que estão mantendo a chama desta polêmica acesa. Primeiramente, meu sincero agradecimento por mais uma vez dedicarem seus esforços pela proteção da nossa Floresta e seus povos. A notícia sobre os planos de prospecção de petróleo e gás nas matas acreanas tem comprometido severamente meu sono. Realmente, foi como um pesadelo, já estava vendo esta nuvem negra cobrindo a floresta... Foi quando lembrei do Beija-flor, e vi esta adversidade se transformando exatamente na grande oportunidade que estamos precisando, a atenção. E percebo que o impacto desta terrível notícia, trazida por este blog, está sendo incrivelmente positivo, mostrando a força da mídia alternativa (eu estou acompanhando da Noruega), fazendo muita gente se unir e muitas cabeças pensar, nós podemos escolher! De repente chegou o momento em que vamos abrir os olhos da consciência e levantar a voz da prudência, com a força da união, para bradar aos exploradores e seus jagunços, desta vez não empate, mas VITÓRIA!
E vamos honrar Chico Mendes e tantos outros guerreiros e guerreiras que derramaram seu sangue pela nossa Floresta. Chega deste abuso, duma minoria que tem tomado todas decisões em favores próprios, para alimentar sua ganância. Esta é minha opinião. Para finalizar, acrescento um verde da esperança, ao urucum e jenipapo da resistência ...


Mensagem do Beija-flor

Aconteceu que começou um incêndio na floresta…
Ninguém sabia como, porque ou quem era o responsável, o fato é que o fogo foi alastrando-se com tal velocidade e potência que tornou-se incontrolável.
Assustadora era sua fúria. Na distância, via-se a terrível nuvem rubra e negra avançando avassaladoramente sobre as matas, ouvia-se os agonizantes ruídos do verde crepitando nas impiedosas chamas que abrasavam a floresta. Ainda mais disturbar era o clamor dos animais, empurrando-se e até agredindo-se, descontrolados diante o apocalíptico espetáculo que testemunhavam:

” Salve-se quem puder!!! É o fogo, é o fim, estamos perdidos !!!”

Ainda mais irados ficavam, em meio a este caos, quando viam o Beija-flor. O pequeno pássaro voava ligero até o rio, colhia uma gotinha de água em seu biquinho, e ia pingá-la sobre aquele imenso fogaréu. Uma após outra, sem parar…
Até que, incontido, um dos bichos bradou:

”Seu pequeno pássaro estúpido! Você acha que essa gotinha vai apagar o fogo? Será que é tão imbecil? Voa embora, com essas asas que você tem! Salve-se! É o fim!!!”

Suavemente, o humilde pássaro respondeu:

”Eu estou fazendo a minha parte! Se cada um de nós, irmãos, irmãs, formos até o rio, e colhermos um pouco de água, vamos apagar o fogo e salvar nosso lar.”

”A base deste mundo é o verde, minha esperança.”

Um Abraço e como diz o Lindomar, bom trabalho a todos.

Anônimo disse...

Alguns fatos chamam a atenção, como a previsibilidade da dupla de Tiãos (o Viana e e o Maia). Pautam e são pautados. outro dia alguém fez alusão à falta de posicionamento dos políticos. Dois dias depois, a esperada matéria com o apoio dos "nossos" representantes na ALEAC. Objetivo atingido, portanto, tem-se hoje uma idéia mais clara hoje de quem está de cada lado, e quem vai poder ser cobrado, futuramente, pelas posições hoje assumidas.

Me chamou a atenção, ainda, a reprodução quase ipsis literis, nas colunas políticas Poronga e Bom Dia, do Página 20 e da Tribuna, de um release produzido, ao que tudo indica no bojo do pacote (matéria, opinião sobre). Mais uma prova de que os jornais optam por não terem opinião própria, mas sim reproduzir a pauta e os interesses dos políticos, em nome de uma suposta defesa dos interesses mais amplos do Acre).

Outra, o brilhantismo dos representantes da comunidade acadêmica, da UFAC, recrutados às pressas, como os deputados, para legitimar mais uma posição relevante, a científica, no debate. Que que é aquilo?

Século VIII, Roma, de Papua Nova Guiné, os Maias, os vikings na Groenlândia, os dinossauros gigantes, entre outros exemplos: o samba do caboclo pra lá de doido, a meu ver, que acabou de tomar uma meiota de óleo diesel e cheirar um metro quadrado de gás liquificado.

Qual é a pertinência desses exemplos para a atual perspectiva de exploração de gás e petróleo em terras indígenas e unidades de conservação no Acre?

Viva (parte de) nossa comunidade científica!, tão "comprometida" quanto nossa imprensa, que aliás a usa, descaradamente, para legitimar certos interesses e posições do debate. Será que esses homens falam em nome da UFAC?

E a turma do MAP? Toda calada. O Foster Brown não se manifesta a esse respeito?

Por fim, o anunciado apoio do PR à prospecção. Veja, a partir de duas notícias divulgadas no site do senador, em que momento esse apoio foi firmado. Estao querendo domninar tudo. O índio Joaquim que o diga, o coitado entrou no gabinete do senador para qualquer coisa e saiu melado de petróleo. E anda inventaram que ele achou bom, pra si e pra redenção do Acre.

Anônimo disse...

Senhores, esse filme está queimando a imagem do nobre senador pelo estado do Acre... quem está por trás dessa idéia?

Anônimo disse...

Vôte!!!!

Ainda existe entidades usando o nome de Deus em beneficio próprio?

Pelo amor de Deus, que sigam ao menos o que diz as tábuas de Moisés:

Não MATAR (de fome as pessoas que vivem na floresta)

Não ROUBAR (a fé dessas pessoas)

Não LEVANTAR FALSO TESTEMUNHO (em nome dos coitados que vivem na miséria enquanto os defensores dormem no ar-condicionado)

Não DESEJAR A MULHER DO PRÓXIMO (leia-se em vez de mulher, DIGNIDADE)

Não COBIÇAR AS COISAS ALHEIAS (Leia-se como quiser)

ALTINO MACHADO disse...

Ouvi de alguém uma observação pertinente: nem o ZEE prevê o projeto do Tião, nem o projeto do Tião prevê o ZEE.

Anônimo disse...

Sabem por quê o ZEE não prevê a prospecção? Simples. O ZEE não existe... aquilo é papel pintado. Feito pra dar respostas politicas às necessidades políticas momentâneas. Só marquetingue, como diria Zé Lesim.
E sabe por quê o ZEE não existe? Porque não é pra existir mesmo. Enquanto vigorar a bagunça, idéias de todos os tipos podem prosperar. Ou não.

Anônimo disse...

Sendo ZEE tão falsificado e não restando dúvida......vai ficar assim?