sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Raiz de pega-pinto

Leila Jalul

Cemitério é coisa mórbida. Os mais modernos, nem tanto. O dos israelitas, em São Paulo, mais parece um jardim. Na minha idéia, é como no céu. Tudo planinho, com pequenas placas, lugar para sentar, flores bem cuidadas. Deve ser como no Éden. Agora, cemitério feio, com sepulturas abandonadas, covas rasas e recentes, afundadas, é quase um terror.


Mas a reverência aos entes que já partiram, é dever cristão. Hoje, por uma questão de escolha pessoal, reverencio meus mortos ouvindo música. Não acendo velas, nem deposito flores. Minha reza é só no pensamento. Minha homenagem são músicas alegres, de preferência.

Não vim aqui falar de mortos, mas para dizer de Seu Benedito e da Dona Laura. Milton Maia era um de seus muitos filhos. Os outros eram Ester, Alan Kardeck, Dr. Mário Maia, Tancredo, Edevar, Áurea e Zilma. De todos, creio que somente a Dona Zilma Maia ainda respira poluição. Os outros já se foram. Oito criaturas, oito mil diferenças. E muitos descendentes, com outras tantas mil diferenças.

De todos, o Milton era o mais expansivo. Uma semelhança incrível com o Salvador Dali, inclusive no jeito de ser. Meio escrachado, falante, creio que nunca coloriu uma tela, porém, pintava o sete e bordava o oito!

Chovesse, fizesse sol, todos os dias de finados, estava ele, ou muito cedo da manhã, ou já se pondo o dia, à beira do túmulo de Dona Laura e Seu Benedito, cantando velhas valsas, velhos boleros de Dom Pedrito de Las Américas e antigas baladas. Isso me espantava.

Normalmente e de praxe, deveria existir um ar de tristeza, velas, flores e uns terços desfiados ligeirinho para acabar logo. Ele não. Não tinha pressa. As contas do terço eram sempre em lá maior e lá menor.

Outro dia, lembrei do Seu Milton e perguntei para minha mãe a razão daquela doideira.

- Minha filha, era o amor que ele tinha pelos pais. A Laura e o Benedito criaram os filhos vendendo aluá de raiz de pega-pinto. Todos os dias, muito cedo, ele passava com as panelas de aluá para vender no mercado. Era muito gostoso. Com cravo, gengibre, gramixó e amor, ele vendia tudo. Com isso, alegria e paciência, criou os meninos e ainda fez médico o Mário, fez professora a Ester, e, os outros, senão doutores, os fez de bom caráter. Todos bons pais e mães. Você os conheceu bem.

- Entendi, mãe. Grata pela informação.

Agora sei de tudo, mas fiquei sem saber o que é a raiz pega-pinto.
Explicação da Dedê Maia:

"Gostaria muito de ter o e-mail da Leila para lhe informar sobre o que é a raiz de pega-pinto. No entanto, envio via Altino. A raiz de pega-pinto pelo que lembro do que minha mãe contava: "É a raiz de uma planta rasteira e encontrada antigamente em quase todos os terreiros acreanos. Popularmente, é conhecida por esse nome pelo fato dela produzir umas florzinhas, que nem carrapicho, onde os pintos do terreiro, encostando suas finas penugens, ficavam presos até que uma alma caridosa fosse solta-los". Daí essa planta ficou conhecida popularmente como pega-pinto. E meu vô ficou com o apelido de Pega Pinto por fabricar uma fina bebida com essa raiz".

9 comentários:

Saramar disse...

Ah! não é possível! Quase paro de ler justamente para perguntar o que é aluá de raiz de pinto.
existe palavra mais linda que aluá?
Leila, minha amiga, você conta uma história daquele jeito que dá uma vontade que não se acabe nunca, que vá se estendedno noite a fora, dia a dentro...
E o filho cantando as músicas mais lindas para os pais , quase me fazem chorar...bobagens, saudades, essas coisas.
Que amor mais imenso, que lindeza, meu Deus!

obrigada.

beijos

Anônimo disse...

Receita de aluá para Saramar:
Aluá de Abacaxi
2 abacaxis médios, lavados com escova. Reserve as cascas e coloque por dois dias em uma vasilha de ágata, com uns 4 litros de água. (A polpa vc consome como manda o figurino).
Tampar bem. Quando estiver fermentado, com uma espuminha branca na superfície, coar e temperar com açúcar mascavo e gengibre.
Servir com gelo picado, tipo raspadilha. Ter muita cautela, pois dá um sono danado.
Beba com moderação. Se dirigir, não beba; se beber, não dirija.

Anônimo disse...

Oi Leila,
Sou bisneta da Laura e do Benedito Maia, neta da Áurea Maia, que ainda respira, além da poluição, muito perfume de flor! E canta e dança e é a coisinha mais fofa da paróquia! Vivemos em Brasília, desde os tempos de Mário Senador, mas sempre em sintonia com o lindo Acre.
Adorei a história, fiquei emocionada. Obrigada por essa menção tão linda à minha, à nossa grande família!
Um grande abraço, Jandira

Anônimo disse...

Querida Jandira, eu pensei que a Áurea já não mais estivesse respirando poluição. Por Deus, está bem, e ainda dança e canta! Que danada!
Lembro muito dela lá de Niterói. Ela e o esposo moravam na casa mais ao alto e D, Ester na casa mais abaixo. Brincava sempre lá com as meninas Concita, Dedê, Glória e Dodora. Era uma festa!
Meu beijo grande para a Áurea e para vc. Que ela continue dançando e cantando que vai viver mais um tempão!

Tancredo Maia Filho disse...

Leila querida,

Será você a irmã da Léa, com quem estudei no Colégio Acreano, e Manuel, que trabalhou comigo e hoje é o companheiro de minha prima Rita Maria? Logo filha do Mamed, grande amigo do tio Careca? Fiquei bastante emocionado em ler teu texto sobre nossas raizes Pega Pinto. Tia Raimunda, também matriarca da Trupe Maia/Pega Pingo,como as tias Zilma e Áurea, que além de poluição, respiram, como disse a prima querida Jandira, muita amor e muito cheiro de flor, mas voltando para a tia Raimunda, companheira de toda uma vida do tio Careca, cultiva no Sítio do Cabuletê, uns pesinhos de péga-pinga. Um dia vamos fazer uma grande aluada lá (pois moro em Brasília, mais para tomat o pega-pinga me desloca até para a China) e você será nossa convidada especial. O carnacval dos Pega Pinto no céu deve estar muito animado com o Careca comando a trupe. Um grande abraço.

Anônimo disse...

Maia Maia,
Sou exatamente a pessoa que pensa. Irmã da Lea e do Manoelzinho, casado com sua prima Rita. Pelo visto vc é filha do Seu Tancredo e da Maria, portanto, neta da minha vó Olívia. Quando eu era pequena e ia na Vó Olívia, as pessoas pensavam que ela era minha avó, devido aos nossos pés que eram muito parecidos.
Dia desses estava pensando sobre o misturado de nossas famílias. O irmão do meu pai, o Pedro, era casado com minha tia Natália, que é irmã da tua mãe. Ria muito quando o Manoel e a Rita, juntos, encontravam com o casal Pedro e Natália. Todo mundo era tio de todo mundo. Uma zorra!
Dia desses estiveram aqui pelo Acre o meu primo, Teca, filho da Zilda Melo, que é casado com tua irmã Olívia. Tia Zilda é viúva do gêmeo com o meu pai.
Acho que vamos ter que mandar fazer exame de sangue de toda a família. Estou com medo que meu neto case com a sogra da minha neta.
Gente doida!
E a Felina maluca, ainda está por aí? Quem eu sempre encontro por aqui é a Jorgete, filha da Tia Totônia. Ela é madrinha do meu filho.Por eliminação, deduzi que você é a Laura, esposa do Bené.
Vou te aguardar para a noitada de pega-pinto.
Um grande abraço. Vai ser bom demais!

Tancredo Maia Filho disse...

Leila,

Esta família é maluca mesma. Você chegou perto: sou o Tancredo, filho mais velho do Tancredo e da Maria, filha da Olívia sua vó. Quando eu ia imaginar que você se consderava neta da vó? A Laura e a Olívia são minhas irmãs. A Olívia foi casada com o Téca, filho do Zé Araújo, irmão gêmeo do teu pai Manuel, é isto? A Felina, á beira dos 70, mora em Belém. Estive com ela no ano passado.
O Jalul é por conta de sua mãe, é isto? Por que a confusão que fiz com o Mamed?
O convite para a noitada de pega-pinto continua.Um grande abraço.

Anônimo disse...

Tancredinho, (assim a gente chamava você), que bom te encontrar nesse aluá de pegar pintos que é o blog do Altino. Os pintos estão se encontrando.
Me irritava a corrida desenfreada do sistema de comunicação. O telefone apareceu para matar as cartas; a televisão apareceu para matar as rádios; a internet apareceu para matar todos os coelhos de uma cajadada só. E matou.
Veja, quando eu, de bobeira, mandaria uma mens. para você? Ou um telefonema para saber como você está passando? Nunca, nunquinha. Primeiro pela minha timidez. Segundo pela minha timidez. E, eis-nos aqui e agora, trocando figurinhas sobre os maias e os astecas... sobre Vó Olívia, Mameds Jaluls... Engraçado, não é?
Vamos, menino Tancredo, vamos pegar os restinhos de pega-pinto e fazer o aluá do reencontro. Marcarei presença!
Beijos

Anônimo disse...

Tancredinho, (assim a gente chamava você), que bom te encontrar nesse aluá de pegar pintos que é o blog do Altino. Os pintos estão se encontrando.
Me irritava a corrida desenfreada do sistema de comunicação. O telefone apareceu para matar as cartas; a televisão apareceu para matar as rádios; a internet apareceu para matar todos os coelhos de uma cajadada só. E matou.
Veja, quando eu, de bobeira, mandaria uma mens. para você? Ou um telefonema para saber como você está passando? Nunca, nunquinha. Primeiro pela minha timidez. Segundo pela minha timidez. E, eis-nos aqui e agora, trocando figurinhas sobre os maias e os astecas... sobre Vó Olívia, Mameds Jaluls... Engraçado, não é?
Vamos, menino Tancredo, vamos pegar os restinhos de pega-pinto e fazer o aluá do reencontro. Marcarei presença!
Beijos