domingo, 25 de fevereiro de 2007

MAIS GÁS NA POLÊMICA

É inaceitável realizar estudos de prospecção de petróleo e gás em terras indígenas, especialmente naquelas habitadas por povos “isolados”.

Terri Valle de Aquino e Marcelo Piedrafita Iglesias

A notícia a respeito da prospecção de petróleo e gás em território acreano, às vésperas do carnaval 2007, nos pegou a todos de surpresa. Mais espantados ficamos por se tratar de uma iniciativa do senador Tião Viana, considerado um dos herdeiros políticos da luta de Chico Mendes pela preservação da floresta amazônica e por melhores condições de vida para suas comunidades tradicionais. Até por sermos também eleitores do senador, ficamos pasmos.

Desde então, a questão da prospecção de combustíveis fósseis nas florestas acreanas vem sendo debatida na imprensa local e, especialmente, no blog do jornalista Altino Machado. Em entrevistas e matérias divulgadas sobre o assunto, o senador Tião Viana afirma ter aprovado recursos no Orçamento Geral da União (OGU), no valor de R$ 75 milhões, para a Agência Nacional do Petróleo (ANP) licitar e contratar grandes empresas para realizar estudos de prospecção de petróleo e gás no estado sem, no entanto, especificar os locais onde esses estudos serão realizados.

O senador também se diz convicto da existência de grandes quantidades desses combustíveis no Acre, baseado apenas na suposição de que o território acreano encontra-se circundado por áreas produtoras de petróleo e gás existentes no Amazonas e nas regiões vizinhas da Bolívia e do Peru. Sua possível produção no estado, diz novamente o senador, poderá trazer “royalties preciosos aos acreanos”, especialmente aos moradores dos municípios onde forem descobertos tais combustíveis.

Mais uma vez, o blog do Altino levantou a bola para uma boa polêmica, publicando uma nova entrevista com o senador e abrindo espaços para manifestações públicas, entre as quais a do ambientalista Miguel Scarcello (representante da SOS Amazônia), Lindomar Padilha (coordenador do CIMI em Cruzeiro do Sul) e do líder indígena Joaquim Tashkã (presidente da Organização Yawanawá do Rio Gregório).

A polêmica aumentou ainda mais com a pressa e o amadorismo com que a assessoria do senador, em Rio Branco, fez divulgar no site do próprio senador, no blog do Altino e nos jornais locais uma suposta declaração do nosso amigo e compadre Joaquim Tashka Yawanawá, manifestando o “apoio de seu povo ao projeto de prospecções da Agência Nacional de Petróleo em busca de gás e petróleo no Acre”. Esse factóide, no entanto, foi logo desmentido e considerado desrespeitoso pelo líder Yawanawá em carta publicada na íntegra naquele blog.

Terri Valle de Aquino e Marcelo Piedrafita Iglesias são antropólogos. Leia o artigo completo na coluna Papo de Índio, do jornal Página 20.

6 comentários:

Anônimo disse...

“Vamos utilizar a selva de forma racional, sem destruí-la. Os seringueiros, índios e os ribeirinhos há mais de cem anos ocupam a floresta. Nunca a ameaçaram. Quem a ameaça são os projetos agropecuários, os grandes madereiros e as hidroelétricas com inundações criminosas. Nas reservas extrativistas, nós vamos comercializar e industrializar os produtos que a floresta generosamente nos concede. Temos na floresta o abacaba, o patoá, o açaí, o buriti, a pupunha, o babaçu, o tucumã, a copaíba, o mel de abelha. E tudo isso pode ser explorado, comercializado.A reserva extrativista é a única saída para a Amazônia não desaparecer.”
Chico Mendes.

Altino,
Depois desse artigo do Sr. Terri Aquino no Jornal “Página 20” que vc acaba de publicar no seu blog, só me resta escrever aqui no seu “comments BLOGAL” esse pequeno parágrafo –
para relembrar (aqueles que já o conhecem) e mostrar aos que não conhecem ainda, o quanto o discurso (e crença/fé) de CHICO MENDES continuam sendo da atualidade.
Se ele estivesse vivo acho que ele teria ajuntado nessa frase o seguinte:
... Quem a ameaça (a floresta) são os projetos agropecuários, os grandes madereiros, as hidroelétricas com inundações criminosas (e as escavações de Petróleo)!

Será que os Senhores que criaram a “Florestania” Acreana, que em cima dessa corrente de pensamento se elegeram e que se dizem resgatar a doutrina (e política) do líder e herói Nacional e Internacional Chico Mendes se esqueceram que o Mestre pregava?

Silvana

Anônimo disse...

CORRIGINDO.... Esqueci de mencionar o nome do outro autor, o antropologo Marcelo Piedrafita Iglesias.

Anônimo disse...

Caros Terri e Marcelo Piedrafita,

A coluna está muito boa e bem escrita como sempre. Vou permanecer no debate e gostaria de mencionar que o texto publicado assessoria de imprensa do senador, onde dizia que os Yawanawa apoavam a prospecção, ficou por vários dias circulando como sendo verdade. Ninguém, além deste blog, se propôs a apresentar a versão verdadeira apresentada pelo Tashka Yawanawa. Pior, como houvesse o que chamaram de manifestação dos "do contra tudo", se apressaram em convocar uma reunião com o que chamaram de "movimento social", pessoas diretamente ligadas, cooptadas e comprometidas com a proposta de prospecção, como se fossem de fato representantes do movimento social. Lembro isso para dizer que tão grave quanto a prospecção em sí, é a falta de democracia e respeito às opiniões contrárias.
"Posso não concordar com nenhuma das palavras que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-las". (Voltaire)

Lindomar Padilha

Anônimo disse...

Fazer prospecção sem antes consultar nossos maiores pensadores da floresta, é birncar de florestania.A democracia não cabe nas grandes ambições pessoais, porém esperteza demais vira bicho e engole o homem. Certamente nossos verdadeiros guerreiros da floresta terão ainda muito que guerrear.O senador não se fez digno de vossos votos.Deus proteja esses homens que lutam verdadeiramente pela floresta e que caia as máscaras dos falsos profetas.Anônimo, assim como aquelas estátuas da passarela que representam o povo acreano.

Anônimo disse...

Altino,

Tô ficando com medo. O 'companheiro' Bush já disse que quer criar uma espécie de OPEP do etanol. Logo logo, além do petróleo e gás podemos produzir mamona, cana de açúcar e outras monoculturas,de preferência em terra indígena, tudo para gerar energia para para a turma dos camarotes.
Cada coisa ao seu tempo. Primeiro vamos tratar da prospecção de petróleo e gás.

Anônimo disse...

Caro Terri,

Agora parece que a coisa desandou mesmo. Tem jornal dizendo que os índios isolados são "importados", para que as terras estejam concentradas nas mãos de poucos. É como se fossem contactados e convensidos, ou forçados, a viverem como isolados. Diz mais: muitos dos índios brasileiros estão sendo trazidos de fora, do Perú especificamente. Agora já não temos mais o povo Ashaninka, por exemplo, temos os Ashaninka brasileiros e os importados ou plantados no brasil. Mesmo os que estão fugindo do Perú, deve haver uma razão. Qual será ????
Falta seriedades de alguns para o debate e clareza do assunto até para que possam dizer porque são tão contra os índios.

Bom trabalho

Lindomar Padilha