sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

ÍNDIOS ISOLADOS DO ACRE

Funai encontra aldeias e acampamentos
de índios sem contato no Estado



No domingo, na casa do Tashka Yawanawá e da Laura Soriano, almocei peixe moqueado na companhia do antropólogo Terri Aquino e dos jornalistas Antonio Alves e Felipe Milanez, editor da revista Brasil Indígena, da Funai. Felipe viajou no dia seguinte e é dele a mensagem enviada nesta manhã:

"Caro Altino, como vai?

Estou em Feijó, indo para Tarauacá para visitar a aldeia do Bira. Ontem foi realizado o sobrevoo do Ibama, Funai e Polícia Federal. Te mando dois relatos que escrevi para o site da Funai. No mesmo site da Funai tem os links para a revista Brasil Indigena.

No próximo e-mail te mando algumas fotos da operação. O filme, no entanto, não consegui baixar no computador e só vou poder fazer isso quando retornar a Brasilia. Mas, enfim, a operação foi muito boa, sobrevoamos o paralelo 10 até a altura do posto do Xinane, e, por cima, não foi encontrado vestigios de invasão de madeireiros.

A ideia do Ibama e da Funai, especialmente no âmbito local, do Antonio Lima (Careca), chefe do Ibama aqui em Feijó, e do José Carlos dos Reis Meirelles, chefe do posto da Funai, é criar uma estrutura de logística que permita que sempre que o helicóptero do Ibama estiver por aqui, seja possível fazer um sobrevoo de monitoramento da área. Isso significa a cada dois meses, ou mesmo uma vez por mês.

A ideia é uma ação preventiva - já que se sabe que, do lado de lá, há ação de madeireiros. Quando chegar a Rio Branco, provavelmente no final da semana que vem, te ligo para a gente conversar.

Um abraço

Felipe Milanez

Durante sobrevôo de fiscalização da região amazônica na fronteira com o Peru, no norte do estado do Acre, em operação conjunta entre a Funai, o Ibama e a Polícia Federal, na quinta-feira 15, foram vistas algumas aldeias, roças e acampamentos de caça de grupos indígenas autônomos. Possivelmente pertencente ao grupo lingüístico pano, em razão dos itens plantados em sua agricultura, os pontos geográficos são mantidos em sigilo para impedir ameaças aos índios.

- Tratando-se de índios isolados, nunca podemos afirmar quem eles são. Temos alguns indicativos. Mas o importante não é saber quem são eles, a qual grupo pertencem, e sim protege-los, garantir o seu território e deixar que vivam do jeito que quiserem, como nações autônomas - disse o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, chefe da Frente de Proteção Etnoambiental Envira, da Funai.

A área possui mata intacta, e não foi ocupada durante o período da seringa na região. Como é uma área de difícil acesso, foi possível que os índios sobrevivessem às “correrias”, como eram chamadas as caçadas aos índios que ocorreram até os anos 1970. No entanto, com a recente exploração madeireira no lado peruano, tem tido início um deslocamento forçado de grupos indígenas autônomos pela região, o que pode gerar conflitos com grupos indígenas contatados que vivem no Brasil, assim como entre os próprios índios autônomos.


- Temos notado um aumento da concentração de índios isolados nas cabeceiras do Envira. Tem alguns grupos nômades que sempre passavam por aqui, a cada dois, três anos, mas a gente tem percebido que eles estão voltando cada vez mais rápido, e indo cada vez mais longe no território de outros grupos indígenas - afirma Meirelles.

A aldeia que foi sobrevoada pode ser pano, da família Jaminawa. De acordo com Meirelles, há menos de dez anos foi contatado um grupo Jaminawa, no lado peruano, por missionários americanos. Os Jaminawa foi um dos últimos grupos a ser contatado no Acre, a ter sido caçado e encurralado nas “correrias”. Ao lado da cidade de Feijó, às margens do rio Envira, há uma aldeia Shanenawa. Nela vive uma senhora chamada Maria, que foi capturada, nos anos 1950, numa expedição de caça chefiada por um conhecido caçador de índios da região, Pedro Biló. A ela foi arrumado um marido na aldeia, Antonio Alves, e mesmo algum tempo depois, ela continuava a encontrar seus parentes, ainda autônomos, nas matas da região. Falava a língua da família pano, e pelo corte de cabelo e hábitos, pode pertencer a uma comunidade do grupo Jaminawa.

- Já avistamos índios pelados, com o cabelo raspado dos lados, bem ao estilo Jaminawa. Eu não me surpreenderia se um dos grupos isolados da região fosse Jaminawa. Mas não podemos afirmar nada, insisto, com certeza, em se tratando de índios isolados - pondera Meirelles.

Segundo o sertanista, há pelo menos três grupos indígenas diferentes na área. O temor das autoridades, nesse caso, é que o aumento da concentração de índios isolados causado pelo avanço dos madeireiros peruanos pode dar início a um conflito entre eles.

- Esses índios usam de um território grande para viver, com longos deslocamentos, mudanças de aldeias e locais de caça. Se forem obrigados a viverem muito próximos um dos outros, há uma ameaça. Nosso trabalho é proteger a terra deles de invasão, e deixar para que eles se entendam da forma que sempre se entenderam, sem a interferência externa - conclui.

Clique aqui para ler post de 2004 sobre o ataque dos índios isolados ao sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior.

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