sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

FISCALIZAÇÃO

Ação conjunta da Funai, Ibama e PF
faz monitoramento da fronteira com o Peru

Felipe Milanez

Foi realizada ontem uma ação de monitoramento da fronteira entre o Brasil e o Peru, na região norte do estado do Acre, ao longo do Paralelo 10, reunindo representantes da Funai (Fundação Nacional do Índio), do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) e da Polícia Federal.

O objetivo da missão era fiscalizar a possível entrada de madeireiros peruanos em território nacional, que além de ameaçar as riquezas naturais da região, tais como o mogno, tem causado a migração forçada de grupos indígenas autônomos que vivem nessa parte da Amazônia e que podem dar início a conflitos com os povos indígenas contatados e moradores ribeirinhos ao longo dos rios Envira, Gregório, Tarauacá e seus igarapés afluentes.

O sobrevôo em helicóptero do Ibama por cerca de cinco horas partiu de Feijó, foi para Cruzeiro do Sul, acompanhou toda a linha de fronteira seca marcada pelo Paralelo 10, até o posto de fiscalização da Funai Xinane, localizado às margens do rio Envira, retornando sobre o rio Envira até a cidade de Feijó.

A região é de difícil acesso, bastante sinuosa, com morros que anunciam o início da cordilheira dos Andes. No início do ano passado havia sido denunciado por José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, chefe da Frente de Proteção Etnoambiental Envira, a ação de madeireiros peruanos nas nascentes do rio.

No período das cheias, desciam pelas águas troncos e pranchas cortadas de mogno, assim como caixas de óleo para moto-serra e outros materiais peruanos, o que indica a ação de madeireiros nos formadores do rio. Após algumas expedições feitas pela equipe do posto de vigilância em terra, o sobrevôo visava confirmar se a ação estava se dando em território nacional ou além da fronteira.

- Temos escutado tiros e barulhos de moto-serra cada vez mais perto, e essa é uma região isolada, o que não deveria acontecer. Felizmente, ao menos aparentemente os madeireiros ainda não chegaram ao Brasil. Mas o que eles estão fazendo do outro lado de lá da fronteira vai ter impacto aqui, tanto ambiental como socio-etnológico, colocando em conflito os grupos indígenas autônomos que habitam essa área - afirmou o sertanista Meirelles.

De acordo com o superintendente do Ibama no Acre, Anselmo Alfredo Forneck, não há como controlar a ganância dos que estão do lado de lá, mas é preciso proteger a riqueza natural e etnológica brasileira, garantindo a autonomia e a liberdade dos índios.

- É uma ação continuada. Ao longo do ano passado temos monitorado a fronteira norte do Acre, e será dada continuidade a esse trabalho por esse ano e no próximo, com sobrevôos contínuos para verificar a degradação e as invasões na área.

Segundo o chefe da Coordenação Geral de Índios Isolados da Funai, Marcelo dos Santos, o sobrevôo é uma ferramenta importante, mas não a única de trabalho, pois não se sabe do alto o que está acontecendo por baixo das árvores, dentro da floresta.

- Mas os dados empíricos que temos é que a concentração de índios está aumentando do lado brasileiro, o que pode significar que eles estejam sofrendo ameaças do outro lado da fronteira - afirma Santos.

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