quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

IMPRENSA MORRE NO ACRE

Lembrei de dois bons livros -"Crônica de uma morte anunciada", de Gabriel Garcia Marquez, e "O Jogo da Amarelinha", de Julio Cortázar- ao ler ontem e hoje sobre duas mortes. A imprensa acreana está morta, com um rei na barriga. Leia três atestados de óbito em tom de realismo fantástico:

A TRIBUNA
Morre ao ir ao enterro da mãe porco

"Até as 16 horas de ontem, investigadores da Delegacia Geral de Polícia de Capixaba (77 quilômetros de Rio Branco) não haviam retornado do Seringal Perseverança com o corpo do agricultor Domingos Barbosa de Carvalho (29), morto na tarde de terça-feira por causa de um lamentável acidente.

Domingos, filho mais novo da professora Sebastiana Barbosa de Carvalho (62), morreu, na manhã de terça-feira, depois de sofrer um mal súbito e bater com a cabeça quando matava um porco na casa onde morava.

Depois de acertar o animal com uma machadada na cabeça, pegou um facão e, quando se preparava para sangrá-lo, o porco se mexeu, fazendo com que errasse o golpe e acertasse a própria perna.

Devido à distância e à falta de assistência médica no local da ocorrência, Domingos, que mais tarde viria para o velório da mãe, morreu cerca de 10 minutos depois. O subdelegado de Capixaba, Josá Ferreira Lima, o Zé Romão, disse que policiais se deslocaram ao local da ocorrência para remover o corpo ao IML".


NOTÍCIAS DA HORA
Filho da professora que morreu ontem
também morre ao tentar matar cobra


"O agricultor Domingos Barbosa, de 19 anos, entrou em desespero ao saber da morte da mãe, dona Sebastiana Carvalho, de 52 anos, aluna do curso de História da Ufac e professora da escola rural Buenos Aires. O rapaz percorria a pé um varadouro, em seis horas de viagem, aproximadamente, até chegar na comunidade do Araxá, na BR-317. De lá, segundo seus planos, pegaria uma carona até Rio Branco, para acompanhar o velório da Mãe.

Mas Domingos acabou se deparando com uma cobra venenosa no meio do caminho. Ao tentar matar o animal, ele foi vítima de um imprevisto: nervoso, foi ferido pelo facão que usava para se defender da cobra. O ferimento atingiu uma veia da perna. Domingos sangrou até a morte, sem ter recebido socorro, em razão de o local ser pouco habitado.

Dona Sebastiana faleceu instantes depois de sofrer uma crise de tosse. Ao receber um copo com água de um colega de aula, ela caiu e bateu a cabeça no chão. Já estava sem vida quando a ambulância do Samu a encaminhava às pressas para o Pronto-socorro de Rio Branco. A família está inconsolável. O corpo de Sebastiana foi velado na Igreja Brasil para Cristo, no Bairro Triângulo Novo. O corpo do filho foi levado à comunidade onde mora".


ACRE 24 HORAS
Filho morre a caminho do velório da mãe

"Informações repassadas pela família da professora Sebastiana de Carvalho, 62 anos, que morreu ontem dentro da sala de aula na Universidade Federal do Acre, enquanto assistia a uma aula do curso modular de história, dão conta que o filho mais novo da professora, Domingos Barbosa de Carvalho, 29 anos, teria morrido quando se deslocava do seringal onde a professora morava para acompanhar o velório da mãe.

Segundo um parente da vítima, Domingos saiu do seringal localizado na região do Araxá, br 317, divisa entre Capixaba e Xapuri, para Rio Branco, onde iria acompanhar o velório da mãe. No caminho, deparou-se com uma cobra, e ao sacar o facão que carregava para matar o animal, acabou golpeando a própria perna, cortando uma veia. Ferido, Domingos sangrou até a morte, e foi encontrado por vizinhos morto á beira do caminho. O local é de difícil a acesso.

Do local da morte até a margem da Br, são 6 horas de caminhada por um varadouro e mais três por uma estrada vicinal. Ainda hoje, após o sepultamento da professora Sebastina Carvalho, membros da família irão até seringal para acompanhar o sepultamento do filho mais jovem da educadora".

5 comentários:

Anônimo disse...

Realmente, não é à toa que me decepcionei com o jornalismo acreano. O fato é que estava morto e não percebí. Mas ao comentar com outros, me dizem que o diferencial está em quem o faz. Então onde estará o assassino do pobre jornalismo? E quem serão seus heróis? Nós, estudantes de comunicação???
E esses homens que "jogam" notícias a quem as cate. Não se dão ao trabalho de ao menos buscar informações corretas. Isso sem falar quando a uma mesma notícia é veiculada por todos os jornais, sem tirar nem pôr, pelo método Ctrl + C e Ctrl + V.

Decadência!

Anônimo disse...

Morreu sim, mas não foi ontem. Não é de hoje que os veículos citados no post erram de maneira gritante. O pior: esses não são os únicos. A apuração dos acontecimentos é tratada de forma leviana e incompetente.
Sempre se fala que tais gafes são geradas pela falta de escolaridade dos atuais jornalistas, mas confesso que, como aluno do 7º período de jornalismo, muitos que estão nas faculdades não sairão de lá jornalistas, mas medíocres com diploma de jornalismo.

Anônimo disse...

Cômico se não fosse trágico! Muitas mortes em situações estranhas e contadas de formas mais estranhas ainda...

Anônimo disse...

Esqueci de dizer: García Marques é inspirador!!

Anônimo disse...

O jornalismo de grande imprensa está realmente morto, mas não apenas no Acre, no Brasil todo, quiçá no mundo, como vimos após a queda das torres gêmeas. Globo e cia. têm apenas mais tecnologia para disfarçar a incompetência e o cinismo. Quem são os heróis do Jornalismo? Acho q a Nívea cantou a bola: são os pioneiros das novas gerações, se mantiverem a ética com o passar dos anos, das injustiças e das ambições vãs. Até q cheguem ao poder, curtiremos ainda muito Bonner e sua patota.