segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

CORNOS E RAPARIGAS

Walmir Lima

Isso se passou lá pelas bandas do seringal Quixadá. Quando, não me perguntem que não sei. Sei apenas que é caso verídico e o protagonista principal é meu tio Liminha, irmão caçula do padre José, que do alto de seus 82 anos, ainda vive para confirmar a história ou, na pior das hipóteses, retocá-la.

O outro personagem era um baiano, negro agigantado, que não se sabe como nem porque, apareceu por lá e sobrevivia roçando mato por empreitada.

Chegado a uma cachaça, sempre que tomava uma carraspana, talvez confiando no próprio tamanho, ultrapassava os limites do bom senso, passando a ofender o Acre e sua gente, que tão hospitaleiramente o haviam recebido. Até que um dia encontrou um acreano disposto que encerrou sua carreira de valentão, ao menos por aquelas paragens.

Era São João. Organizado o rala-bucho no barracão, a sanfona gemia e o forró comia no centro, quando lá pelas tantas, o tal baiano, já “pronto”, resolveu descarregar toda sua virulência verbal contra os acreanos.

- No Acre só tem corno e rapariga! - gritava o desaforado. - No Acre só tem corno e rapariga!

Mas ninguém no recinto tomava uma atitude, uma só que fosse, em defesa da honra acreana. Uns por puro amor à vida, pois o guarda-roupas de seis seis portas, além de tudo, ainda arrastava uma lambedeira de 12 polegadas embainhada na cintura.

Outros, cabeças reconhecidamente coroadas, chegavam a demonstrar certa satisfação porque o insano nivelava a todos por baixo.

Aí alguém teve a idéia de chamar o Liminha, que, a par dos acontecimentos, veio e resolveu resgatar a honra dos acreanos, mesmo que fosse embaixo de pau.

Armou-se de um porrete de massaranduba e entrou meio que furtivamente no salão, não sem antes determinar a dois caboclos presentes ao arrasta-pé:

- Quando eu chegar bem perto do baiano, apaguem os candeeiros!

E assim foi feito. O baiano, convicto da impunidade das ofensas, ainda gritava mais uma vez, quando ao apagar dos candeeiros teve a frase cortada ao meio. A frase e a cabeça.

A sanfona calou-se e só se ouviu o baque surdo do Golias de ébano indo ao chão do assoalho de madeira, abatido pela cacetada certeira do pequeno Davi do Quixadá. Aquela massa estrebuchante foi arrastada pelos pés até um bananal próximo e ali abandonada à própria sorte.

Concretizado o desagravo e reacesos os candeeiros, o forró recomeçou e só parou às seis da manhã sem mais sombras da presença do baiano. Aliás, dele como lembrança, só restou uma poça de sangue entre as bananeiras, pois desapareceu sem deixar rastros.

Contam, ainda, que certo dia o então governador do Território Federal do Acre, Valério Caldas de Magalhães, aproveitou um domingo de sol para visitar a família Lima, proprietária do seringal Quixadá. A certa altura, um deles, que gostava tanto de cachaça quanto o baiano do Walmir, saiu com essa:

- Governador, de todos os filhos de putas que já governaram o Acre, o senhor foi o único que teve a coragem de visitar o nosso seringal Quixadá.

- Já sei porque os outros o evitaram - respondeu o governador, enfiando o chapéu na cabeça e embarcando de volta para Rio Branco.

Um comentário:

Anônimo disse...

meu tio era nervozo hem hehe