quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

PROTESTO INDÍGENA

Lindomar Padilha

Caro Altino,

Um grupo de vinte e três pessoas, indígenas pertencentes ao povo apolima-arara, terra indígena Arara do Amônia, município de Marechal Thaumaturgo, ocupou na manhã de hoje a sala onde funciona a sede da Opirj (Organização dos povos Indígenas do Rio Juruá), que também tem funcionado como uma espécie de representação da Funai em Cruzeiro do Sul.

Viajaram de barco por três dias até chegar em Cruzeiro onde aguardam por encaminhamentos. Segundo os índios, a ocupação se deu em razão de terem esperado demais por um posicionamento das autoridades quanto a demora na demarcação de sua terra e, principalmente, pelo fato de nenhuma medida ter sido tomada pela Funai e pelo Ibama no sentido de evitar a retirada de madeira de dentro da área indígena.

No dia 18 de novembro último os índios apreenderam (leia aqui) um carregamento de madeira e o barco que as transportava. Diante da ação dos índios, apenas a Polícia Federal tomou alguma iniciativa e enviou um agente para o local do conflito afim de evitar o agravamento da situação e garantir o mínimo de segurança na região.

Entretanto, a Polícia Federal reconhece que não pode fazer muita coisa e depende basicamente de uma reunião que há muito se espera entre a Funai, o povo apolima-arara, os não-índios habitantes da área, Ibama, Ministério Público Federal, Incra, Polícia Federal e Imac, o que até hoje não ocorreu.

Os índios afirmam que não deixarão a sede da Opirj até que seja dada uma solução definitiva, cesse imediatamente a retirada de madeira e que seja retomado o processo de demarcação da área. A situação é muito grave, especialmente porque entre os indígenas estão mulheres e crianças e a sala onde estão "acampados" não oferece condições adequadas.

Estamos aguardando um posicionamento das autoridades e manteremos os leitores do blog informados da situação.

Lindomar Padilha é coordenador do Conselho Indigenista Missionário em Cruzeiro do Sul.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estamos vivendo um periodo de fragmentação excessiva do movimento social. Na Universidade, por exemplo, se existe problemas no curso de medicina vão apenas os alunos da medicina reivindicar junto à reitoria; nas categorias profissionais, por sua vez, se há reivindicação de motoristas de ônibus, eles seguem, sozinhos,numa passeata pouco densa. Só há passeata expressiva quando há convocação do Governo que é quem distribui empregos. Tanto na questão ambiental, como na indígena não há mais mobilização, talvez porque as lideanças estejam divididas. O Governo quando cria uma secretaria para indígenas ele quebra a unidade do movimento indígena. E a imprensa só tem olhos para a cúpula. Infelizmente só posso comentar. Mas este blog é lido no mundo inteiro e espero que alguma pressão seja feita. Mas localmente já sabemos de antemão: se o governo não quizer, nenhuma instituição se mexe.

Anônimo disse...

Caríssima Fátima Almeida,

Sua observação quanto a fragmentação do movimento social é absolutamente correta, infelizmente. Prova disso é que, só aqui na região do Juruá, existem mais três povos em situação semelhante - Nawa, Nukini e Kontanawa.
O abril indígena, que ocorre próximo a semana dos povos indígenas, em Brasília, é hoje a maior mobilização indígena e o seu grande mérito talvez seja justamente o de congregar diversos povos, de todo o Brasil, em uma luta coletiva.
Precisamos fazer muito para que o movimento social volte a cumprir o seu papel e deixar de ser representação de governos.

Lindomar Padilha