quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

A AVE SÍMBOLO DO ACRE

Silvestre Gorgulho

Acabei de conversar com o Johan Dalgas Frisch e ele está encantado com o seu blog. Uma sugestão importante que nasceu deste telefonema: Por que o Acre não faz do Uirapuru Verdadeiro sua ave símbolo?

Os pássaros são destaque na obra de Deus e na vida dos homens. Dalgas Frish gosta sempre de falar que a importância das aves começa na Bíblia. Diz o Deuteronômio 22/6: "Se indo por um caminho achares numa árvore ou na terra o ninho de uma ave e a mãe posta sobre os filhos ou sobre os ovos, não apanharás a mãe com os filhotes". Evangelho de São Mateus, 2/26: "Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem regam, nem fazem provimentos nos celeiros e contudo Vosso Pai Celestial as sustenta. Por ventura não sois vós muito mais do que elas?"

Dalgas lembra, ainda, que a Bíblia diz que Deus criou os seres dos mares e as aves do céu antes do homem. Aliás, é interessante notar que todas as histórias e citações da Bíblia estão situadas num contexto de região semi-árida e as aves citadas são: pombas, águias, avestruzes, corujas, pavões, pelicanos, codornizes, corvos, pardais, cegonhas, andorinhas, rolas e falcões e corvo marinho.

Na mitologia Grega e Romana as aves tiveram uma importância extraordinária. Os romanos não faziam nenhuma ação militar ou negócios importantes sem consultar os bulários que dividiam o céu em quatro pontos. Se aparecesse uma ave num determinado quadrante a observação era interpretada por bom ou mau agouro! No Egito o falcão peregrino se confundia com deus, o Sol e os faraós.

Cada país do mundo tem sua ave nacional, sua ave símbolo. As aves símbolos das diversas regiões do mundo se identificam com as populações, seus costumes e suas crenças. Fazem parte do folclore e da cultura dos países. Essa simbologia tem uma fantástica ligação com a História e com a vida de cada região, de cada país e de cada estado ou território.

Alguns exemplos: Na Inglaterra, o poeta William Shakespeare se inspirou na ave Robyn e seu canto para justificar o romance de Romeu e Julieta. Por isso o Robyn tornou-se Ave Nacional da Grã Bretanha. Assim, a ave nacional representa o espírito poético de cada povo: nos Estados Unidos a águia de cabeça branca, representa a imagem da força e beleza da união dos diversos estados norte-americanos que tinham divisões históricas até de línguas, como a inglesa, francesa, espanhola e até russa, no caso do Alaska.

Na Alemanha, a cegonha que se aninha nas chaminés das casas das fazendas, representa a antiga lenda que ela trazia as crianças ao mundo. Os poetas alemães escreveram inúmeras poesias e músicas inspirados nas cegonhas. Na Índia, o pavão representa a beleza e pujança de uma Índia misteriosa, rica com um povo pacífico e religioso. E o Brasil também tem sua ave nacional: o Sabiá. Por que o Sabiá? Simples, porque é a ave mais lembrada pelo folclore, pela poesia e pelos compositores da Música Popular Brasileira.

Vários estados também tem sua ave símbolo, assinado por decreto do governador. Paraná (Gralha-Azul - Cyanocorax caerulens); Rio Grande do Sul (Quero-Quero - Vanellus chilensis); São Paulo (Sabiá - Turdus rufiventris). Há alguns ornitólogos que querem que a Arara Vermelha (Ara chloroptera) seja a ave símbolo do Acre. Considero um erro histórico-geográfico-cultural. Como ainda, no caso do Acre, parece que não há um decreto do governador, que tal fazermos um lobby para tornar o Uirapuru verdadeiro (Cyphorhinus modulator) a ave símbolo do Acre? Com decreto oficial! O projeto fica em suas mãos.

O jornalista Silvestre Gorgulho é editor da Folha do Meio Ambiente e foi o principal redator dos livros do ornitólogo Johan Dalgas Frisch.

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